Do alto do morro dos Barbosas a vista é de cartão postal, com paisagens das cidades da Baixada
Santista
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Barbosas, um morro com muita estória e heróis
(Da Sucursal de São Vicente)
Quando o Morro do
Tumiaru passou a chamar-se "dos Barbosas", ninguém sabe ao certo. Barbosa foi uma família que há muitos anos, e durante longo tempo, manteve uma
chácara no alto do morro. Depois a propriedade foi vendida à ordem religiosa dos beneditinos, que pretendia construir um grande colégio. Houve
qualquer divergência com o prefeito de então, João Francisco Bensdorp (1922-1928), e os religiosos desistiram do empreendimento.
Para quem não o conhece, o Morro dos Barbosas é aquele onde está a Biquinha
de Anchieta, passagem obrigatória no caminho da Ponte Pênsil. Pela sua posição geográfica, e fácil acesso, oferece um
panorama sem precedentes. Lá de cima tem-se a Baía de São Vicente aos pés, a Ilha Porchat inteira,
Santos mais atrás, à direita as prainhas e Ponte Pênsil, o Mar Pequeno, Praia Grande
e, fechando a volta, o complexo industrial de Cubatão.
Cai não cai - Faz uns 20 anos, mais ou menos, que uma firma imobiliária comprou um bom
pedaço no alto do morro, para venda em lotes. Construiu um acesso pavimentado pela Av. Getúlio Vargas, próximo ao monumento, e prolongou a estrada
que ia da Rua do Colégio até à caixa de água municipal, calçando centenas de metros e instalando rede de luz.
Para não fugir à regra de quase todos os morros da região, o dos Barbosas começou a sentir o
desgaste de suas matas, os cortes para a construção de prédios no sopé (Av. Getúlio Vargas), as cargas de dinamite, e vieram deslizamentos. A
estrada que saía do monumento foi a primeira a desaparecer; depois veio a catástrofe do Edifício Vista Linda, que desabou inteiro, em 1966.
Afora isso, têm ocorrido várias quedas de barreiras e a Prefeitura chegou mesmo a interditar o
conjunto de apartamentos próximo à Ponte Pênsil. Naquele local, e em outros pontos perigosos, vem sendo feita proteção do talude, com
impermeabilização asfáltica.
Proteção - É de autoria do vereador Jayme Hourneaux de Moura a lei n. 1.021, de 10 de junho
de 1964, que proibiu a construção de edifícios com mais de dois pavimentos em todo o Morro dos Barbosas, para que não se transformasse em outra Ilha
Porchat. O mesmo vereador, em trabalhos posteriores, recomendou ao Poder Público a urgente reparação das galerias de águas pluviais que se encontram
defeituosas; obras de drenagem; captação das águas das meias encostas do morro, para evitar que as águas pluviais corram livremente sobre o terreno,
causando erosões e provocando infiltrações perigosas que ocasionam os deslizamentos de terra.
A lista de materiais necessários à preservação do morro contra a erosão, pelo menos na área de
propriedade do Município, já se encontra na Diretoria de Obras, devendo ser objeto de oportuna concorrência.
Mas o alto do morro está abandonado. Há muito tempo que os fios da iluminação pública foram
roubados, o mato cresce à vontade, o local chegou a tornar-se ponto de encontro de traficantes de tóxicos (a Polícia tem dado várias batidas) e de
casais. Os moradores em edifícios na avenida Getúlio Vargas mandaram até aparar um pouco do mato que invadia o arruamento, visando assim espantar os
maus elementos.
O Morro dos Barbosas, que em seu ponto mais elevado tem uma estrela (igual à do Monte Serrat),
erigida em 1956, em comemoração ao 4º centenário da morte de Santo Inácio de Loiola, já teve seus heróis: Pai Bento, preto-velho que no começo do
século ia uma ou duas vezes por dia lá em cima levar água e alimento para um hanseniano que morava isolado da família. A casa, destruída pelo tempo,
durante muitos anos foi considerada "mal-assombrada"; João Pereira de Almeida, o João do Morro, falecido em 1946 com 103 anos de idade, pescador
destemido que morou dezenas de anos numa casa de meia encosta, junto à Biquinha.
Projetos para melhor aproveitamento do Morro dos Barbosas existem. Fala-se num belvedere com
restaurante, boates, parque municipal, e até mesmo hotel. Assim como está, e talvez com uns pequenos reparos na subida pela Rua do Colégio, merece
ser melhor explorado nos roteiros de turismo. A pé ou de automóvel, vale a pena o passeio.
O que não foi feito no morro dos Barbosas
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