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HISTÓRIAS E LENDAS DE S. VICENTE
Primeiros produtores de vinho e cachaça (3)

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Quando Martim Afonso chegou ao Brasil, trouxe da Ilha da Madeira as videiras que foram plantadas no Litoral Paulista, e também os primeiros engenhos para a produção de açúcar. Talvez a reunião desses dois conhecimentos - da produção do vinho e do açúcar - tenha propiciado as condições para outro pioneirismo: o da produção de cachaça.

Em São Vicente, a vila pioneira, surgiu a primeira vinícola brasileira. Essa história começou a ser recuperada na época dos festejos pelo quinto centenário do Descobrimento do Brasil, quando chegou a ser cogitada a recriação do tipo de vinho então produzido. O projeto parou por dificuldades econômicas para sua concretização, mas o local da vinícola foi restaurado e aberto a visitas monitoradas.

São Vicente figura como referência importante em diversos estudos sobre a vinicultura brasileira, como este, do site canadense/brasílico Brasileiros em Otawa, registrado em 2002 e parcialmente reproduzido a seguir:

Vinhos brasileiros

* artigo escrito por Vitor Machado,
brasileiro que muito aprecia vinhos e conhece a produção nacional

História

No Brasil, a história do vinho se iniciou com a vinda do donatário português Martim Afonso de Sousa em 1532, em cuja expedição encontrava-se Brás Cubas, nosso primeiro vinicultor. Este inicia o plantio no litoral paulista e em terras que viriam a se tornar a atual cidade de São Paulo.

No século XVII os jesuítas introduzem a vinha na região das Missões (sul do Brasil). Nos dois séculos seguintes são introduzidas as castas americanas, em função da dificuldade de aclimação das variedades européias. Destaque-se aqui a chegada da variedade denominada Isabel no atual Rio Grande do Sul, dada a hegemonia que esta uva viria a ter na produção brasileira.

No último quarto do século XIX, com a intensificação da imigração, principalmente italiana, ocorre o primeiro boom da vinicultura em terras brasileiras, porém exclusivamente baseado na utilização de variedades não viníferas (americanas).

Ao longo da década de 70 do século XX nossa vinicultura elevou-se a um patamar de qualidade mais elevado, com a reintrodução das castas européias e a chegada de tecnologias mais modernas, principalmente pela ação de empresas multinacionais.

A fase atual

O momento presente da produção de vinhos do Brasil pode ser caracterizado pela junção da tradição das famílias mencionadas acima com a tecnologia moderna. São animadores os progressos observados nas duas últimas décadas em termos de experimentos com cepas e os microclimas mais adequados para cada uma e abertura de novas fronteiras vinícolas (Pernambuco, Livramento, etc.). Esta fase também é marcada pela grande expansão do consumo interno (o Brasil foi o único país do mundo a duplicar seu consumo nos últimos dez anos) bem como pela oferta crescente de produtos importados.

A partir de setembro de 1995 o Brasil passou a ser membro da OIV (Office International de la Vigne e du Vin, entidade internacional reguladora da produção do vinho.

A origem da vinicultura no mundo e sua chegada ao Brasil foram enfocadas neste artigo do informativo Jornal do Cremesp, publicado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) em julho de 2002 (edição 20), também divulgado então na Internet e parcialmente reproduzido a seguir:

A arte de degustar bons vinhos

João Prudente (*)

"Enquanto bebo o alegre vinho, os meus desgostos adormecem. Para que penas e suspiros? Por que cuidados, que aborrecem? Hei de morrer, queira ou não queira". (Anacreonte - poeta lírico grego do século VI a.C.)

O vinho existe há pelo menos dez mil anos, como comprovou material arqueológico encontrado na Ásia Menor, na região do Cáucaso e Irã. Mas alguns especialistas dizem que as uvas já existiam há dois milhões de anos e, conseqüentemente, o homem primitivo, tendo fácil acesso a elas, não poderia deixar de produzir vinho. Escavações encontraram sementes de uvas em Catal Hüyük, na Turquia, uma das primeiras cidades da humanidade.

Para muitos historiadores, o vinho surgiu das mãos de camponeses que espremiam uvas em recipientes para tirar seu suco. De alguma forma - talvez esquecido em algum lugar - o que era para ser um suco de uva acabou fermentando e transformando-se em vinho. Na Bíblia Sagrada - do Gênesis ao Apocalipse, a bebida é citada 192 vezes no singular e 2 no plural: "...Que os seus beijos sejam como o melhor vinho, suave e doce, o vinho que faz acordar e falar os que estão dormindo." (Cânticos 7:9 - Rei Salomão).

Segundo a mitologia grega, a origem do vinho é atribuída a Dionísio, filho de Zeus, que o descobriu a partir de uma fórmula que dava prazer e alegria aos homens. A lenda mais contada, porém, é de que na Pérsia Antiga um rei chamado Jamshid mantinha as uvas que colhia em enormes jarras para que fossem consumidas fora da estação. Uma dessas jarras foi esquecida em um canto do palácio e, após vários dias, as uvas começaram a espumar e a exalar um cheiro forte.

Foi então descartada, mas não jogada fora, porque poderia ser um veneno mortal para quem as consumisse. Certo dia, uma das mulheres do harém do rei, descontente com a vida e pretendendo o suicídio, ingeriu a "bebida venenosa". Ao invés de morrer, sentiu grande alegria. A notícia se espalhou e chegou até o rei, que resolveu prová-la, gostando tanto que ordenou que fosse feita uma grande quantidade da maravilhosa e nova bebida. Pelo Mar Mediterrâneo, espalhou-se pela Europa o lugar onde se encontram as melhores castas de todo o mundo.

Depois da Europa, atingiu a América com Cristóvão Colombo. No Brasil, a uva foi trazida por Martim Afonso de Souza, em 1532, na Capitania São Vicente, mas não vingou devido às condições climáticas. Retornou mais tarde pelas mãos dos jesuítas e seu plantio foi novamente experimentado na região das Missões, no Rio Grande do Sul, mas também não deu certo.

Somente com a chegada dos imigrantes italianos na região da Serra Gaúcha, em aproximadamente 1870, as uvas começaram a nascer por aqui. Imigrantes do Norte da Itália trouxeram na bagagem enxertos de videiras de excelente procedência, além de muita experiência na arte de cultivar a parreira e produzir excelente vinho. Hoje a região da serra é conhecida como Vale dos Vinhedos, um dos lugares mais aconchegantes e bonitos do Brasil, produtor de vinhos finos e de importantes vinícolas nacionais.

Com o tempo, aperfeiçoaram seus produtos e hoje oferecem aos consumidores bebidas de boa qualidade como Miolo, Allied Domeq, Marson e Salton. O Vale dos Vinhedos também é conhecido pela alegria e hospitalidade dos moradores, italianos e descendentes. Depois dessa experiência, outras regiões do país, inclusive no Estado de São Paulo, conseguiram sucesso no plantio de uvas.

[...]

(*) João Prudente é jornalista e fotógrafo.

Vale acrescentar a informação publicada no site Web Italonet: "Vinho era citado no Código de Hamurabi, conjunto de leis da Babilônia. A Bíblia descreve suas boas e más propriedades. Noé foi o primeiro viticultor e como conseqüência da sua bebedeira ocorreu uma séria briga familiar. No Brasil, foi introduzido por Martim Afonso de Souza em 1532 em S.Vicente, sendo Braz Cubas o primeiro viticultor."

O primeiro vinho brasileiro foi por ele produzido em 1551, na área correspondente ao atual bairro paulistano da Moóca (que aliás começou a ser criado cinco anos depois, oficialmente em 17 de agosto de 1556).

A ligação de Braz Cubas com essa povoação - importante para a nascente capital paulista, por se situar num acesso para o Sudeste e o Leste do País, com trânsito seguro através da constantemente alagada Várzea do Carmo - foi lembrada por Ana Maria Guariglia em matéria publicada em 1999 na Folha de São Paulo e no site Web do Laboratório de Fotografia da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA):

No local, em 1556, os jesuítas construíram casas de pau-a-pique, à beira do rio Tamanduateí - na época, rio Tometeai -, visando ligar a pequena vila de São Paulo ao outro lado do rio. Por volta de 1600, tornou-se o arraial de Nicolau Barreto, onde Brás Cubas erigiu uma capela dedicada a Santo Antônio.

"Mooka" - que na linguagem indígena significa "fazer casas"- apareceu como indicação em um mapa da cidade em 1840, hoje rua Piratininga, uma das mais movimentadas da região.

Em 1876, Rafael Aguiar Paes de Barros criou o Clube Paulista de Corridas de Cavalos. No ano seguinte, surgiram as primeiras linhas de bonde com tração animal.

Em 1906, outra planta já mostrava a existência do bairro, com algumas fábricas, como o Cotonifício Crespi e a Fábrica de cerveja Cia. Bavária (depois, comprada pela Cia. Antártica), além da Hospedaria dos Imigrantes e de ruelas sem nome e sem pavimentação.

A partir de 1910, os imigrantes italianos, portugueses e espanhóis deram nova feição ao povoado. Alojados em casas e cortiços, trabalhavam principalmente nas tecelagens, encontrando no bairro o local "per fare l'America".

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