DESCOBRIMENTO
Vinho dos 500 Anos deve marcar festejos
Cicade teria abrigado a primeira vinícola do Brasil
Clóvis Vasconcellos
Da Sucursal
Um vinho que marque os 500 anos de Descobrimento do
Brasil, com embalagem alusiva à data, foi proposto pela Secretaria da Cultura de São Vicente, que, com base em evidências históricas, quer resgatar
um fato desconhecido da maioria da população, de que a Cidade teria abrigado a primeira vinícola em terras brasileiras. Para a viabilização do
projeto, que inclui a elaboração de um livro sobre a vinicultura em nossa região e a construção de uma cave (adega), a secretaria procura viabilizar
parcerias com uma empresa de vinicultura e distribuidora de bebidas nacional ou estrangeira.
Segundo o secretário Amauri Alves, o livro retratará com imagens e textos, quase meio
milênio de vida, de vinho e de trabalho. "Será uma edição histórica e limitada com ilustrações e pinturas em aquarela, ponto fundamental para
fomentar o interesse de colecionadores e estudiosos da história da vinicultura".
Martim Afonso de Souza (em tela de Benedicto
Calixto) trouxe as videiras da Ilha da Madeira
Foto: João Vieira (reprodução), publicada com a matéria
Cave - O projeto Vinho dos 500 Anos prevê a instalação de uma cave
no Horto Florestal. Por meio de parceria com uma empresa - fabricante ou distribuidora - de vinhos, a Prefeitura cederia o espaço, cabendo à empresa
a construção da adega. Lá será vendido o Vinho dos 500 Anos, com espaço para degustação junto com queijos, azeitonas e uvas.
A cave terá o formato de um barril de vinho, construído em madeira,
reconstituindo as antigas adegas portuguesas, com seis metros de diâmetro e oito de altura. Também inspirada nos tonéis e barris, a iluminação será
composta de candelabros e spots direcionados. Ao centro, haverá um barril de vinho de 1,50 metro de largura e 2,10 metros de altura, onde o
freqüentador poderá se servir diretamente do tonel.
Para o secretário Amauri Alves, a construção será "um marco comemorativo do vinho
quinhentista e o resgate da história perdida, devolvendo e ampliando o sentido das primeiras realizações econômicas de nossa Cidade".
Concorrência - No ano de 1590, a uva vicejava na capitania de São Vicente.
Nesse mesmo ano, uma Carta Régia, expedida pelo rei Felipe II, da Espanha (nessa época, Portugal estava sob a regência da Espanha) proibia a
plantação e o cultivo de vinhas no Brasil, indicando que a Capitania de São Vicente era um centro de produção de vinhos no País. Esta referência
histórica foi extraída das Memórias para a História da Capitania de São Vicente, de autoria do frei Gaspar da Madre de Deus.
Acreditava-se que essa proibição visava especificamente a Capitania, onde se produzia
vinhos em quantidade e qualidade para competir, tanto no mercado nacional quanto no internacional, com os vinhos produzidos na Corte, preocupando,
dessa forma, os comerciantes portugueses, que conseguiram, por parte da Coroa, a emissão da Carta de 1590.
Pela data do documento, pode-se deduzir que o plantio da uva na Capitania deve ter
começado poucos anos depois do início da colonização do Brasil, com a chegada de Martim Afonso de Souza, em 1532, sendo, assim, a primeira do
Brasil.
Como, na época, não existiam estradas, transporte veloz ou refrigeração que
permitissem a comercialização a grandes distâncias da uva in natura, é forçoso [crer que]
os vinhos e, talvez, a uva-passa, sejam os produtos que competiam com os portugueses nos mercados nacional e internacional. O clima da região, tido
como impróprio para esse tipo de cultura, acabou fazendo com que as autoridades transferissem os plantios para terras mais elevadas.
Segundo fontes sobre a História do Vinho, da Confraria Amigos do Vinho do Café
da Vila, as videiras foram trazidas da Ilha da Madeira para o Brasil, por Martim Afonso de Souza, e plantadas por Braz Cubas, inicialmente no
Litoral Paulista e, depois, a partir de 1551, na região de Tatuapé. |