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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Visões de futuro

 

Desde os primeiros instantes da colonização brasileira, Santos a região da Baixada Santista são povoadas por seres mitológicos, como a Hipupiara, registrada por cronistas do século XVI. Visitantes de várias partes do mundo, escritores e poetas, relataram suas visões presentes, às vezes com alguma "liberdade poética", como quando Jorge Amado transportou para o passado um episódio realmente acontecido no cais santista. O escritor Jorge Luís Borges situou em Santos uma de suas bibliotecas, no livro Aleph. E essa tradição continua, na era da informática e da Internet, com jogos de computador ambientados numa Santos fictícia, futurista ou mitológica:

 Veja:
[01] Shadowrun - no jogo, uma cidade de Santos em 2031
[02] Shadowrun - no jogo, uma cidade de Santos em 2031 (continuação)
[03] História Vampírica no Brasil - Santos
[04] Um sarau de poesia na doca de Santos, no Second Life
[05] Street Fighter III mostra o antigo porto santista
[06] Projeto Khaotika 
[07] Grand Theft Auto - San Andreas, modificado para a Baixada Santista


Concepção artística de 1998, imaginando como seria a cidade de Santos cem anos depois
Imagem: estúdio Black Maria/Santos-SP

Referindo-se a essas diversas visões, o escritor e crítico literário Flávio Viegas Amoreira (criador do Fórum Santos Cultural) registrou, no site Meiotom.art.br, consultado em 12 de abril de 2009:

"Baía de Santos: patrimônio da União"

Vista da serra, a baía de Santos, ampliada entre o acidentado caminho do Guarujá ao linear praiano ao sul, dispõe-se cenário ambíguo: emaranhado entrecortado de manguezais, precário afrontamento ao Oceano e destemido acolhimento aos anônimos e heróicos navegantes. O vivente é sempre navegante entre o céu inacessível e o mar de abissal mistério.

Pela sua História e Cultura, a baía de Santos já deveria faz muito ser patrimônio imaterial da União: além do frevo, do acarajé, do Santo Daime já entronizados e de outros sítios eco-culturais reconhecidos que outro acidente telúrico e atmosfera de emocionalidades foi mais presente na memória coletiva de nossa gente que a entrada ao Novo Mundo por essa barra e estuário?

Sem prejuízo de seu progresso, essa costa merece distinção simbólica da nacionalidade. Daqui partiram expedições desdenhando o corte de Tordesilhas, abrigamos primitivo ideal civilizatório, missões litorâneas fundaram o Rio e São Paulo até recebimento de milhões de imigrantes que ainda moldam o Quinto Império tropicalista. Há uma mística de navios iluminados, um bafejo cosmopolita:

Não é à toa nossa vocação libertária, mesmo com recaídas conservadoras. Esse é porto de letras, cais de artistas: Manet, Rimsky-Korsakov, Puccini, Niijinsky passaram por aqui; Mellville, autor de Moby Dick singrou essas vagas: e poucos livros são tão fundamentais: só o Mar é capaz de desnudar o Homem em sua grandeza e miséria.

Se Sarah Bernhardt atuou no Guarany, fomos cantados em prosa por Guy de Maupassant e Jorge Luiz Borges em 2 contos paradigmáticos: Horla e Aleph. O conto é gênero supremo: esses citados são arquetípicos na sua maestria. Neruda poetizou Santos em 2 poemas que quase fotografam liricamente nosso noroeste, suor da estiva e bafejo de maresia.

Carregamos o estigma das cidades-estado: portos libertinos, atracadouros exóticos, cruzamento de múltiplas percepções; algo que misture Gênova, Trieste, Hamburgo, Barcelona, a foz do Mississipi, a sensualidade de Tânger ou Xangai.

Depois de meu fascínio pelo cônsul britânico Richard Burton, acabei descobrindo um personagem que o sucedeu quase meio século depois em Santos: Roger Casament, irlandês que servia à Rainha Vitória, correspondente de James Joyce e que inspirou Conrad em Coração nas Trevas.

Nesse inverno seco, mirando onde os cargueiros se desvencilham da praticagem, elevo-me dissipando toda névoa mental do zênite lunar à alvorada que se precipita langorosamente. Essa faixa em arco entre a Ilha das Palmas e Itaipu desfazem o véu de Maya: estendo a visão do âmago ao litoral ampliado e desdobro-a ao horizonte que se infinitiza.

Em Paris, Lévi-Strauss, mais influente intelectual vivo do século XX chega aos 100 anos: no clássico da antropologia Tristes Trópicos, num capítulo dedicado à essa entrada marítima ele diz sobre nós, sobre Santos: "... o lugar continua ser de uma secreta beleza... o interior de Santos, planície inundada parece a Terra emergindo no princípio da criação".

Essa baía, espelho de tanta poesia e novelo kármico bem permite que diga o que Cícero Dias disse do seu Recife: "Eu vi o Mundo... ele começa em Santos."

Lembremos ao Brasil: essa barra é já um pouco de cada num instante que não foi pouco. Nas madrugadas o sentimento atlântico nos pega em cheio...

Flávio Viegas Amoreira
flavioamoreira@uol.com.br

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