VI
Mais um raio de progresso rompeu as penumbras retrógradas que Santos ainda conservava e S. Paulo já de há muito as tinha dissipado:
começava a City o assentamento das linhas para a tração elétrica, o que queria dizer que os pobres burros iam ser libertos.
De passagem direi que Santos muito deve, em progresso e mesmo em saneamento, às duas matronas companhias - Docas e City.
Deu-se, pois, início ao assentamento da 1ª linha em abril de 1908, e que foi a de n. 3, seguindo-se as outras, sem interrupção de um só dia, pois o material da City estava todo em Santos.
Atrás da tração elétrica veio a força e, com ela, a luz em profusão. De modos que Santos, hoje, pouco lhe falta para comparar-se às principais cidades do Brasil.
No entanto, eu achava falta do querido Grêmio Dramático Arthur Azevedo e da sua luzida corporação cênica. Que diabo! O desaparecimento do Grêmio não está na ordem das coisas de progresso! Hoje é que
deveria estar mais forte. Não morreu, é verdade, mas encostou-se, a dormir um sono profundo, sono semelhante ao dos catalépticos, e só acordou com a chegada do saudoso Arthur Azevedo.
Então, o Grêmio, espreguiçando-se, sacudiu para um lado o fardo da indolência e lançou mão do O Dote, que foi brilhantemente desempenhado no Teatro Guarany em presença
do seu autor.
Não ficou aí a homenagem do Grêmio ao seu presidente honorário: fez colocar na parede lateral, à esquerda de quem entra no Guarany, uma placa comemorativa à chegada de Arthur Azevedo em Santos.
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Antes, porém, assisti, com certo aborrecimento, a demolição da velha matriz, e isto não sei se porque foi naquele templo que eu recebi as águas lustrais, o sal e os Santos
Óleos, ou se porque obedecia à admiração que tenho pelas coisas históricas. A velha matriz, por muitos anos, foi dirigida pelo cônego Scipião Junqueira e também nela o padre Luiz Alves da Silva recebeu o grau de cônego pela capela imperial. Hoje
não existe. Está em seu lugar um jardim moderno onde se respira olor de flores e o ar circula à farta, sem as camadas espessas do incenso queimado (N.E.: é a Praça Antonio
Telles).
Mas, Santos, como todas as cidades na ordem católica, não podia ficar sem matriz. A Câmara, conquanto indenizasse a demolição da velha matriz, outras facções da sociedade santense interessavam-se
também, e a A Fita, por si, foi a primeira a dar a mão de ajuda, realizando uma quermesse em benefício das obras da matriz nova que até hoje está paralisada, parecendo uma "obra de Santa Engrácia".
Imagem enviada a Novo Milênio por Ary O. Céllio, de Santos/SP |