Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 19 —
Recursos da Bahia para defender-se
Capítulo
CLXXXIX
Em que se declara os grandes aparelhos que há na Bahia
para se nela fazerem grandes armadas.
Pois sobejam aparelhos à Bahia para se poder fortificar, entenda-se que lhe não faltam para se poder fazer grandes armadas com que se possa
defender e ofender a quem contra o sabor de Sua Majestade se quiser apoderar dela, para o que tem tantas e tão maravilhosas e formosas madeiras,
para se fazerem muitas naus, galeões e galés, para quem não faltarão remos, com que se eles possam remar, muito extremados, como já fica dito atrás;
pois para se fazer muito tabuado para estas embarcações sobeja cômodo para isso, porque há muitas castas de madeiras, que se serram muito bem, como
em seu lugar fica dito; para as quais o que falta são serradores, de que há tantos na Bahia escravos de diversas pessoas, que, convindo ao serviço
de Sua Majestade trabalharem todos e fazer tabuado, ajuntar-se-ão pelo menos quatrocentos serradores escravos muito destros, e duzentos escravos
carpinteiros de machado; e ajuntar-se-ão mais quarenta carpinteiros da ribeira, portugueses e mestiços, para ajudarem a fazer as embarcações, os
quais se ocupam em fazer navios que na terra fazem, caravelões, barcas de engenho e barcos de toda a sorte.
O que resta agora de madeira para fazerem estas naus e galés são mastros e vergas; disto há mais aparelho na Bahia que nas províncias de Flandres;
porque há muitos mastros inteiros para se emastrearem naus de toda a sorte, e muitas vergas, o que tudo é mais forte do que os de pinho e de mais
dura (mas são mais pesados), o que tudo se achará à borda da água.
Bem sei que me estão já perguntando pela pregadura para essas armadas, ao que respondo que na terra há muito ferro de veias para se poder lavrar,
mas que enquanto se não lavra será necessário vir de outra parte; mas se a necessidade for muita, há tantas ferramentas na terra de trabalho, tantas
ferragens dos engenhos que se poderão juntar mais de cem mil quintais de ferro; e porque tarde já em lhe dar ferreiro, digo que em cada engenho há
um ferreiro com sua tenda, e com os mais que têm tenda na cidade e em outras partes se pode juntar cinqüenta tendas de ferreiros, com seus mestres
obreiros. |