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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 186]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

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Tratado descritivo do Brasil em 1587

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Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 18 — Informações etnográficas acerca de outras nações vizinhas da Bahia, como tupinaés, aimorés, amoipiras, ubirajaras etc.

Capítulo CLXXXVI

Em que se declaram alguns costumes dos tapuias destas partes.

Estes tapuias que vivem nesta comarca são muito músicos, e cantam pela maneira dos primeiros; trazem os beiços debaixo furados, e neles umas pedras verdes roliças e compridas, que lavram devagar, roçando-as com outras pedras tanto até que as aperfeiçoam à sua vontade.

Não pescam estes índios nos rios à linha, porque não têm anzóis; mas, para matarem peixe, colhem uns ramos de umas ervas como vides, mas mui compridos e brandos, e tecem-nos como rede, os quais deitam no rio, e tapam-no de uma parte à outra; e uns têm mão nesta rede e outros batem a água em cima, de onde o peixe foge e vem-se descendo até dar nela, onde se ajunta; e tomam às mãos o pequeno peixe, e o grande matam às flechadas, sem errarem um.

Costumam estes tapuias, para fazerem sal, queimarem uma serra de salitre, que está entre eles, de onde tomam aquela cinza; e a terra queimada, lançam-na na água do rio em vasilhas, a qual fica logo salgada, e põem-na ao fogo, onde a cozem e ferve tanto até que se coalha, e fica feito o sal em um pão; e com este sal temperam seus manjares; mas o salitre torna logo a crescer na serra para cima, mas não é tão alvo como o que não foi queimado.

Entre estes tapuias há outros mais chegados ao Rio de S. Francisco, que estão com eles desavindos, que são mais agrestes e não vivem em casas, e fazem sua vivenda em furnas onde se recolhem; e têm uma destas serras mui áspera onde fazem sua habitação, os quais têm os mesmos costumes que os de cima.

Corre esta corda dos tapuias toda esta terra do Brasil pelas cabeceiras do outro gentio, e há entre eles diferentes castas, com mui diferentes costumes, e são contrários uns dos outros; entre os quais há grandes discórdias, por onde se fazem guerra muitas vezes e se matam sem nenhuma piedade.

Daqui por diante se declara o grande cômodo que a Bahia tem para se fortificar, e os metais que se nela dão.

Não parece despropósito arrumar à sombra do que está dito da Bahia de Todos os Santos, os grandes aparelhos e cômodos que tem para se fortificar, como convém ao serviço de El-rei Nosso Senhor e ao bem da terra, para se poder resistir a quem a quiser ofender; o que começamos a declarar pelo capítulo que se segue.