Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 13 — Da
herpetogratia e dos batráquios e vários outros
Capítulo
CXVII
Que trata das lucernas, e de outro bicho estranho.
Na Bahia se criam uns bichos, a que os índios chamam mamoás
[vagalumes], aos quais chamam em Portugal lucernas, e outros caga-lume, que andam em noites escuras, assim em Portugal como na Bahia, em cujos matos os há
muito grandes; os quais entram de noite nas casas às escuras, onde parecem candeias muito claras, porque alumiam uma casa toda, em tanto que às
vezes uma pessoa de súbito vendo a casa clara, deitando-se às escuras, de que se espanta, cuidando ser outra coisa; dos quais bichos há muita
quantidade em lugares mal povoados.
Também se criam outros bichos na Bahia mui estranhos, a que os índios chamam buijeja, que são do tamanho de uma lagarta de couve, o qual é
muito resplandecente, em tanto que estando de noite em qualquer casa, ou lugar fora dela, parece uma candeia acesa, e quando anda é ainda mais
resplandecente.
Tem este bicho uma natureza tão estranha que parece encantamento, e tomando-o na mão parece um rubi, mui resplandecente, e se o fazem em pedaços,
se torna logo a juntar e andar como dantes; e sobre acinte se viu por vezes em diferentes partes cortar-se um destes bichos com uma faca em muitos
pedaços, e se tornarem logo a juntar; e depois o embrulharam num papel durante oito dias, e cada dia o espedaçavam em migalhas, e tornava-se logo a
juntar e reviver, até que enfadava, e o largavam. |