Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 10 — Das
aves
Capítulo
LXXXVI
Em que se contém a natureza de algumas aves noturnas.
Urucureá é uma ave, pontualmente como as corujas da Espanha; umas são cinzentas e outras brancas; gritam como corujas; as quais criam no
mato em tronco de árvores grossas, e em povoado nas igrejas, de cujas lâmpadas comem o azeite.
Jucurutu é uma ave tamanha como um frango, que em povoado anda de noite pelos telhados; e no mato cria em tocas de árvores grandes, e anda
ao longo dos caminhos; e aonde quer que está toda a noite está gritando pelo seu nome. Esta ave é de cor brancacenta, tem as pernas curtas, a cabeça
grande com três listas pardas por ela que parecem cutiladas, e duas penas nela de feição de orelhas.
Há outros pássaros, a que os índios chamam ubujaús, que são tamanhos como pintões, têm a cabeça grande, o rabo comprido; e são todos pardos
e muito cheios de penugem, os quais andam de noite gritando "cuxaiguigui".
Há outros pássaros do mesmo nome, mais pequenos, que são pintados, os quais andam de madrugada dando os mesmos gritos e uns e outros criam no
chão, onde põem dois ovos somente; e mantêm-se das frutas do mato.
Há outros pássaros pardos, a que os índios chamam oitibó, com que têm grande agouro; os quais andam ordinariamente gritando "oitibó",
e de dia não os vê ninguém; e mantêm-se das frutas e folhas de árvore, onde lhes amanhece.
Aos morcegos chamam os índios andura; e há alguns muito grandes, que têm tamanhos dentes como gatos, com que mordem; criam nos côncavos das
árvores, e nas casas e lugares escuros; as fêmeas parem quatro filhos e trazem-nos pendurados ao pescoço com as cabeças para baixo, e pegados com as
unhas ao pescoço da mãe; quando estes morcegos mordem alguém que está dormindo de noite, fazem-no tão sutilmente que se não sente; mas a sua
mordedura é mui peçonhenta.
Nas casas de purgar açúcar se criam infinidade deles, onde fazem muito dano, sujando o açúcar com o seu feitio
[fezes], que é como de ratos; e comem muito dele. |