Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 10 — Das
aves
Capítulo
LXXXIV
Em que se conta a natureza de algumas aves de água
salgada.
Na Bahia, ao longo da água salgada, nas ilhas que ela tem, se criam garcetas pequenas, a que os índios chamam carabuçu; algumas são brancas
e, outras, pardas, as quais são umas plumas cinzentas pequenas, muito fidalgas para gorro; todas criam ao longo do mar, onde tomam peixe, de que se
mantêm, e caranguejos novos; e esperam bem a espingarda.
Há outros pássaros, a que os índios chamam uirateonteon, que se criam perto do salgado, que são pardos e têm o pescoço branco, o bico
verde, e são tamanhos como adens, e têm os pés da sua feição. Esses pássaros andam no mar, perto da terra, e voam ao longo da água tanto, sem
descansar, até que caem como mortos; e assim descansam até que se tornam a levantar, e voam.
Carapirá é uma ave, a que os mareantes chamam rabifurcado, os quais se vão cinqüenta e sessenta léguas ao mar, de onde se recolhem para a
Bahia, diante de algum navio do reino, ou do vento Sul, que lhes vem nas costas ventando, de onde tornam logo a fazer volta ao mar; mas criam em
terra, ao longo dele.
Jaburu é outra ave, tamanha como um grou; tem a cor cinzenta, as pernas compridas, o bico delgado e mais que de palmo de comprido; estas
aves criam em terra ao longo do salgado, e comem o peixe que tomam no mar, perto da terra, por onde andam.
Ao longo do salgado se criam uns pássaros, a que os índios chamam urateon; são pardos, tamanhos como frangões, têm as pernas vermelhas, o
bico preto e comprido; são mui ligeiros e andam sempre sobre a água salgada, saltando em pulos, espreitando os peixinhos de que se mantêm.
Ao longo do mar se criam outros pássaros, a que os índios chamam ati; têm o corpo branco, as asas pretas, o bico de peralto, com que cortam
o peixe como com tesoura; têm as pernas curtas e brancas; andam sempre nas barras do rio buscando peixe, do que comem.
Matuimaçu são uns pássaros que andam sempre sobre os mangues, tamanhos como franganitos, de cor pardaça; têm as penas e bico preto, e
mantêm-se de peixe que tomam.
Matuim-mirim são outros pássaros de feição dos de cima, mas mais pequenos e brancacentos; mantêm-se do peixe que tomam; e uns e outros
criam no chão, ao longo do salgado.
Pitaoão são passarinhos do tamanho e cor dos canários, e têm uma coroa branca na cabeça; fazem grandes ninhos nos mangues, ao longo dos
rios salgados, onde põem dois ovos; e mantém-se dos peixinhos que alcançam por sua lança.
Há umas aves como garcetas, a que os índios chamam socoí, que têm as pernas compridas e amarelas, o pescoço longo, o peito pintado de
branco e pardo, e todo o mais pardo; criam em terra no chão, perto da água salgada, onde se mantêm do peixe que nela tomam, e de caranguejos dos
mangues.
Margui é um pássaro pequeno e pardo, tem as pernas mui compridas, o bico e pescoço longo; e está sempre olhando para o chão, e como vê
gente foge, dando um grande grito. Estas aves se criam ao longo do salgado, e mantêm-se do peixe que tomam no mar. |