Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 9 — Das
árvores meãs com diferentes propriedades, dos cipós e folhas úteis
Capítulo
LXXI
Em que se trata de algumas árvores moles.
Há umas árvores muito grandes, a que o gentio chama copanibuca, cuja madeira é mole, e não serve senão para cinza, para os engenhos fazerem
decoada. Estas árvores têm umas raízes sobre a terra, feitas por tal artifício, que parecem tábuas postas ali a mão, as quais lhe cortam ao machado;
de que se tiram tabuões, de que se fazem gamelas de cinco, seis palmos de largo, e sete e oito de comprido, de onde se fazem também muitas rodelas,
que são como as de adargueiro, e da vantagem na levidão, cuja madeira é estopenta e muito branda, que não fende.
Paraparaíba é uma árvore que se dá em boa terra que já foi lavrada, a qual em poucos anos se faz muito alta e grossa, e tem a casca
brancacenta, a qual ao longe parece na brancura e grandura o álamo. Tem esta árvore a folha como figueira, mas os pés mais compridos, a madeira é
muito mole e oca por dentro, de que fazem bombas aos caravelões da costa; e por dentro tem muitas infindas formigas.
Apeíba é uma árvore comprida muito direita, tem a casca muito verde e lisa, a qual árvore se corta de dois golpes de machado, por ser muito
mole; cuja madeira é muito branca, e a que se esfola a casca muito bem; e é tão leve esta madeira, que traz um índio do mato às costas paus destes
de vinte e cinco palmos de comprido e da grossura da sua coxa, para fazer dele uma jangada para pescar no mar a linha; as quais árvores se não dão
senão em terra muito boa.
Penaíba é uma árvore comprida e delgada, muito direita, cuja madeira é leve e de cor de pinho, que serve para mastros e vergas das
embarcações da terra, a qual dá de si muito e não estala; mas não dura muitos anos, porque a corrompe a chuva.
Geremari é outra árvore que se dá pela terra dentro, a qual é delgada no pé, e muito grossa em cima; e dá umas favas brancas; cuja madeira
não serve mais que para o fogo.
Dão-se nas campinas perto do mar umas árvores, que se parecem com cajueiros, de que já falamos, que não dão fruto, que se chamam cajupebas.
Têm estas árvores a folha brancacenta, crespa e áspera como de amoreira, e a casca dessas árvores é seca como de sobreiro. A madeira é leve, mas
muito liada, que não fende, de que se tiram curvas para barcos, e que se fazem vasos de selas, e destas folhas podem manter bichos-de-seda, e os
levarem a estas partes.
Pelo sertão da Bahia se criam umas árvores muito grandes em comprimento e grossura, a que os índios chamam ubiragara, das quais fazem umas
embarcações para pescarem pelo rio e navegarem, de sessenta e setenta palmos de comprido, que são facilíssimas de fazer; e porque se cortam estas
árvores muito depressa, por não ter dura mais que a casca e o âmago, é muito mole e tanto que dois índios em três dias tiram com suas foices o miolo
todo a estas árvores, e fica a casca só, que lhe serve de canoas, tapadas as cabeças, em que se embarcam vinte e trinta pessoas. |