Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 6 — Das
árvores medicinais
Capítulo
LVIII
Daqui por diante se vão arrumando as árvores e ervas de
virtude que há na Bahia.
Não se podiam arrumar em outra parte que melhor estivessem as árvores de virtude que após das que dão fruto; e seja a primeira a árvore do
bálsamo, que se chama cabureíba, que são árvores mui grandes de que se fazem eixos para engenhos, cuja madeira é pardaça e incorruptível.
Quando lavram esta madeira cheira a rua toda a bálsamo, e todas as vezes que se queira cheira muito bem.
Desta árvore se tira o bálsamo suavíssimo, dando-lhe piques até um certo lugar, de onde começa de chorar este suavíssimo licor na mesma hora, o
qual se recolhe em algodões, que lhe metem nos golpes; e como estão bem molhados do bálsamo, os espremem numa prensa, onde tiram este licor, que é
grosso e da cor do arrobe, o qual é milagroso para curar feridas frescas, e para tirar os sinais delas no rosto.
O caruncho deste pau, que se cria no lugar de onde saiu o bálsamo, é preciosíssimo no cheiro; e amassa-se com o mesmo bálsamo, e fazem desta massa
contas, que depois de secas ficam de maravilhoso cheiro.
De tão santa árvore como a do bálsamo merece ser companheira e vizinha a que chamam copaíba, que é árvore grande cuja madeira não é muito
dura, e tem a cor pardaça; e faz-se dela tabuado; a qual não dá fruto que se coma, mas um óleo santíssimo em virtude, o qual é da cor e clareza de
azeite sem sal; e antes de se saber de sua virtude servia de noite nas candeias.
Para se tirar este óleo das árvores lhes dão um talho com um machado acima do pé, até que lhe chegam à veia, e como lhe chegam corre este óleo em
fio, e lança tanta quantidade cada árvore que há algumas que dão duas botijas cheias, que tem cada uma quatro canadas.
Este óleo tem muito bom cheiro, e é excelente para curar feridas frescas, e as que levam pontos da primeira curam, soldam se as queimam com ele, e
as estocadas ou feridas que não levam pontos se curam com ele, sem outras mezinhas; com o qual se cria a carne até encourar, e não deixa criar
nenhuma corrupção nem matéria.
Para frialdades, dores de barriga e pontadas de frio é este óleo santíssimo, e é tão sutil que se vai de todas as vasilhas, se não são vidradas; e
algumas pessoas querem afirmar que até no vidro mingua; e quem se untar com este óleo há de se guardar do ar, porque é prejudicial. |