Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 4 — Da
agricultura da Bahia
Capítulo
XLVIII
Em que se declara quantas castas de pimenta há na Bahia.
À sombra destes legumes, e na sua vizinhança, podemos ajuntar quantas castas de pimenta há na Bahia, segundo nossa notícia; e digamos logo da que
chamam cuiém, que são tamanhas como cerejas, as quais se comem em verdes, e, depois de maduras, cozidas inteiras com o pescado e com os
legumes, e de uma maneira e de outra queimam muito, e o gentio come-a inteira, misturada com a farinha.
Costumam os portugueses, imitando o costume dos índios, secarem esta pimenta, e depois de estar bem seca, a pisam de mistura com o sal, ao que
chamam juquiraí na qual molham o peixe e a carne, e entre os brancos se traz no saleiro, e não descontenta a ninguém. Os índios a comem misturada
com a farinha, quando não têm que comer com ela. Estas pimentas fazem árvores de quatro e de cinco palmos de alto, e duram muitos anos sem se secar.
Há outra pimenta, a que pela língua dos negros se chama cuiemoçu; esta é grande e comprida, e depois de madura faz-se vermelha; e usam dela
como da de cima; e faz árvores de altura de um homem, e todo o ano dá novidade; sempre têm pimentas vermelhas, verdes e flor, e dura muitos anos sem
se secar.
Há outra casta, que chamam cuiepiá, a qual tem bico, feição e tamanho dos gravanços; come-se em verde, crua e cozida como a de cima, e como
é madura faz-se vermelha, a qual queima muito; a quem as galinhas e pássaros têm grande afeição; e faz árvore meã, que em todo o ano dá novidade.
Há outra casta, que chamam sabãa, que é comprida e delgada, em verde não queima tanto como quando é madura, que é vermelha; cuja árvore é
pequena, dá fruta todo o ano, e também se usa dela como da mais.
Há outra casta que se chama cuiejurimu, por ser da feição de abóbora, assim amassada; esta, quando é verde, tem a cor azulada, e como é
madura se faz vermelha; da qual se usa como das mais de que temos dito, cuja árvore é pequena e em todo o ano dá novidade.
Há outra casta, que chamam cumari, que é bravia e nasce pelos matos, campos e pelas roças, a qual nasce do feitio dos pássaros que a comem
muito, por ser mais pequena que gravanços; mas queima mais que todas as que dissemos, e é mais gostosa que todas; e quando é madura faz-se vermelha,
e quando se acha desta não se come da outra; faz-se árvore pequena, tem as flores brancas como as demais, e dá novidade em todo o ano. |