Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 4 — Da
agricultura da Bahia
Capítulo
XLV
Em que se contém o milho que se dá na Bahia e para o que
serve.
Dá-se outro mantimento em todo o Brasil, natural da mesma terra, a que os índios chamam ubatim, que é o milho de Guiné, que em Portugal chamam
zaburro. As espigas que este milho dá são de mais de palmo, cuja árvore é mais alta que um homem, e da grossura das canas da roça, com nós e vãs por
dentro; e dá três, quatro e mais espigas destas em cada vara. Este milho se planta por entre a mandioca e por entre as canas novas de açúcar, e
colhe-se a novidade aos três meses, uma em agosto e outra em janeiro.
Este milho, come o gentio assado por fruto, e fazem seus vinhos com ele cozido, com o qual se embebedam, e os portugueses que comunicam com o
gentio, e os mestiços não se desprezam dele, e bebem-no mui valentemente. Costuma este gentio dar suadouros com este milho cozido aos doentes de
boubas, os quais tomam com o bafo dele, com o que se acham bem; dos quais suadouros se acham sãos alguns homens brancos e mestiços que se valem
deles; o que parece mistério porque este milho por natureza é frio.
Plantam os portugueses este milho para mantença dos cavalos e criação das galinhas e cabras, ovelhas e porcos; e aos negros de Guiné o dão por
fruta, os quais o não querem por mantimento, sendo o melhor da sua terra; a cor geral deste milho é branca; há outro almecegado, outro preto, outro
vermelho, e todo se planta a mão, e têm uma mesma qualidade.
Há outra casta de milho que sempre é mole, do qual fazem os portugueses muito bom pão e bolos com ovos e açúcar. O mesmo milho quebrado e pisado
no pilão é bom para se cozer com caldo de carne, ou pescado, e de galinha, o qual é mais saboroso que o arroz, e de uma casta e outra se curam ao
fumo, onde se conserva para se não danar; e dura de um ano para outro. |