Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 4 — Da
agricultura da Bahia
Capítulo XXXV
Em que se conta de outros frutos estrangeiros que se dão
na Bahia.
Da Ilha de São Tomé levaram à Bahia gengibre, e começou-se de plantar obra de meia arroba dele, repartindo por muitas pessoas, o qual se deu na
terra de maneira que daí a quatro anos se colheram mais de quatro mil arrobas, o qual é com muita vantagem do que vem da Índia, em grandeza e
fineza, porque se colheu dele penca que pesava dez e doze arráteis, mas não o sabiam curar bem, como o da Índia, porque ficava denegrido do qual se
fazia muita e boa conserva, do que se não usa já na terra por el-rei defender que não o tirem para fora.
Como se isto soube o deixaram os homens pelos campos, sem o quererem recolher, e por não terem nenhuma saída para fora apodreceram na terra muitas
léguas cheias dele.
Arroz se dá na Bahia melhor que em outra nenhuma parte sabida, porque o semeiam em brejos e em terras enxutas; como for terra baixa é sem dúvida
que o ano dê novidade; de cada alqueire de semeadura se recolhe de quarenta para sessenta alqueires, o qual é tão grado e formoso como o de
Valência; e a terra em que se semeia se a tornam a limpar dá outra novidade, sem lhe lançarem semente nova, senão a que lhe caiu ao colher da
novidade. Levaram a semente do arroz ao Brasil de Cabo Verde, cuja palha se a comem os cavalos lhes faz muito mormo, e, se comem muito dela, morrem
disso.
Da Ilha de Cabo Verde e da de São Tomé foram à Bahia inhames que se plantaram na terra logo, onde se deram de maneira que pasmam os negros de
Guiné, que são os que usam mais dele; e colhem inhames que não pode um negro fazer mais que tomar um às costas; o gentio da terra não usa deles
porque os seus, a que chamam carás, são mais saborosos, de quem diremos em seu lugar. |