Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XIX
Em que se declara a terra da Bahia, da cidade até a Ponta
de Tapagipe, e as suas ilhas.
Atrás fica dito como da cidade até a Ponta do Padrão há uma légua; agora convém que vamos correndo toda a redondeza da Bahia e recôncavos dela,
para se mostrar o muito que tem para ver, e que notar.
Começando da cidade para a Ponta de Tapagipe, que é uma légua, no meio deste caminho se faz um engenho de água em uma ribeira chamada "Água dos
Meninos", o qual não será muito proveitoso por ser tão perto da cidade. Este engenho faz um morador dos principais da terra, que se chama Cristóvão
de Aguiar de Altero, e nesta Ponta de Tapagipe estão umas olarias de Garcia de Ávila e um curral de vacas do mesmo, a qual ponta, bem chegada ao
cabo dela, tem uma aberta pelos arrecifes, por onde entram caravelões, que com tempos se recolhem aqui, e da boca da barra para dentro em uma
calheta onde estes caravelões e barcos estão seguros.
Nesta ponta, quando se fundou a cidade, houve pareceres que ela se edificasse, por ficar mais segura e melhor assentada e muito forte, a qual está
Norte e Sul com a Ponta do Padrão.
Virando dessa ponta sobre a mão direita está um esteiro mui fundo, por onde entram naus de quatrocentos tonéis, ao qual chamam Pirajá. Esse esteio
faz para dentro grandes voltas; numa delas, tem uma praia onde se põem os navios a monte muito à vontade, e se calafetam muito bem às marés, porque
com as águas vivas descobrem até a quilha, aonde se queimam e calafetam bem.
Deste esteiro para dentro, ao longo desta ponta, estão três ilhetas povoadas e lavradas com canaviais e roças, e na terra desta ponta estão outras
duas olarias de muita fábrica, por haver aqui muito e bom barro, donde se provêm dele os mais dos engenhos, pois se purga o açúcar com este barro. |