Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 2 —
Descrição topográfica da Bahia
Capítulo XIII
Em que se declara o como se tratam os moradores da cidade
do Salvador, e algumas qualidades suas.
Na cidade do Salvador e seu termo há muitos moradores ricos de fazendas de raiz, peças de prata e ouro, jaezes de cavalos e alfaias de casa,
entanto que há muitos homens que têm dois e três mil cruzados em jóias de ouro e prata lavrada.
Há na Bahia mais de cem moradores que têm cada ano de mil cruzados até cinco mil de renda, e outros que têm mais, cujas fazendas valem vinte mil
até cinqüenta e sessenta mil cruzados, e das vantagens, os quais tratam suas pessoas mui honradamente, com muitos cavalos, criados e escravos, e com
vestidos demasiados, especialmente as mulheres, porque não vestem senão sedas, por a terra não ser fria, no que fazem grandes despesas, mormente
entre a gente de menor condição; porque qualquer peão anda com calções e gibão de cetim ou damasco, e trazem as mulheres com vasquinhas e gibões do
mesmo, os quais, como têm qualquer possibilidade, têm suas casas mui bem concertadas e na sua mesa serviço de prata, e trazem suas mulheres mui bem
ataviadas de jóias de ouro.
Tem esta cidade catorze peças de artilharia grossa, e quarenta, pouco mais ou menos, de artilharia miúda; a artilharia grossa está assentada nas
estâncias atrás declaradas, e em outra que está na Ponta do Padrão para defender a entrada da barra aos navios dos corsários, se a cometerem, donde
não lhe podem fazer mais dano que afastá-los da carreira, para que não possam tomar o porto do primeiro bordo, porque é a barra muito grande e podem
afastar as naus que quiserem, sem lhes a artilharia fazer nojo. |