Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo LXI
Em que se declara a capitania de Santo Amaro, e quem a
povoou.
Está tão mística a capitania de São Vicente com a de Santo Amaro, que, se não foram de dois irmãos, amassaram-se muito mal os moradores delas, as
quais iremos dividindo como pudermos. Indo pelo Rio de São Vicente acima, antes que cheguem à ilha que nele está, à mão direita dele, está a boca do
esteiro e perto da vila de Santos, por onde entra a maré, cercando esta terra até se juntar com estoutro esteiro de São Vicente; e entrando por este
esteiro de Santos, à mão esquerda dele está situada a vila do mesmo nome, a qual fica também em ilha cercada de água toda, que se navega com barcos,
e lhe dá jurisdição da capitania de Santo Amaro; e tornando à Ponta de Estevão da Costa, que está na boca da Barra de São Vicente, dela a três
léguas ao longo da costa está a vila de Santo Amaro, junto da qual está o engenho de Francisco de Barros.
De Santo Amaro fez Pero Lopes de Sousa cabeça desta capitania. Desta vila de Santo Amaro à barra de Bertioga são duas léguas, onde está um forte
com artilharia e bombardeiros, que se chama de São Filipe, por esta barra entra a maré cercando esta terra até se juntar com o esteiro de Santos,
por onde fica Santo Amaro também em ilha, e da ponta onde está esta fortaleza, estão no rio duas ilhetas.
Defronte da fortaleza de São Filipe faz uma ponta muito chegada a estoutra, onde está outra torre com bombardeiros e artilharia, que se diz de São
Tiago, e por entre uma e outra podem entrar naus grandes por ter fundo para isso, se destas fortalezas lho não impedirem; e passando destas torres
pelo esteiro acima da banda da terra firme estão os rios seguintes, que estão povoados com engenhos e outras fazendas, os quais se vêm meter aqui no
salgado: Rio dos Lagartos, o Piraquê, o de São João, o de São Miguel, o da Trindade, o das Cobras, o do engenho de Paulo de Proença, o Rio dos
Frades, onde está o engenho de Domingos Leitão, que é já da capitania de São Vicente, o de Santo Amaro, o do engenho de Antônio do Vale, o de Manoel
de Oliveira, concluindo, é marco entre a capitania de São Vicente e a de Santo Amaro o esteiro de Santos.
Atrás fica dito como Pero Lopes de Sousa não quis tomar as cinqüenta léguas de costa de que lhe el-rei fez mercê todas juntas, e de que tomou
metade, com Itamaracá e a outra em Santo Amaro, de que agora tratamos. Esta capitania foi povoar em pessoa este fidalgo, e fez para o poder fazer
uma frota de navios em que se embarcou com muitos moradores, com os quais partiu do porto de Lisboa e se foi à província do Brasil, por onde levava
sua derrota, e foi tomar porto no de São Vicente, donde se negociou e fez as povoações e fortalezas acima ditas, no que passou grandes trabalhos e
gastou muitos mil cruzados, a qual agora possui uma sua neta, por não ficar dele herdeiro varão a quem ela com a de Itamaracá houvesse de vir. |