Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XXXV
Em que se declara a costa e terra dela do Rio de Santa
Cruz até o Porto Seguro.
Do Rio de Santa Cruz ao de Itacumirim é meia légua, onde esteve o engenho de João da Rocha. Do Rio de Itacumirim ao de Porto Seguro é meia légua;
e entre um e outro está um riacho, que se diz de São Francisco, junto das barreiras vermelhas. Defronte do Rio de Itacumirim até o de Santa Cruz vai
uma ordem de arrecifes que tem quatro boqueirões, por onde entram barcos pequenos; e faz outra ordem de arrecifes baixos mais ao mar, que se começam
defronte do engenho de João da Rocha, e por entre uns arrecifes, e os outros é a barra do Porto Seguro, por onde entram navios de sessenta tonéis; e
se é navio grande toma meia carga em Porto Seguro, e vai acabar de carregar em Santa Cruz.
Porto Seguro está em dezesseis graus e dois terços, e quem vem de mar em fora vá com boa vigia, por amor dos baixos. E para conhecer bem a terra,
olhe para ao pé da vila, que está num alto, e verá umas barreiras vermelhas, que é bom alvo, ou baliza, para por ele a conhecer.
Entra-se esse rio Leste-Oeste com a proa nestas barreiras vermelhas até entrar dentro do arrecife; e como estiver dentro vá com a proa ao Sul, e
ficará dentro do rio. Da outra banda dos baixos e contra o Sul está outra barra, por onde entram navios do mesmo porte; quem entrar por esta barra,
como estiver dentro dela, descobrirá um riacho, que se diz de São Francisco; e como o descobrir, vá andando para dentro, até chegar ao porto.
De Porto Seguro à vila de Santo Amaro é uma légua, onde está um pico mui alto em que está a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, que faz muitos
milagres. De Santo Amaro ao Rio de Tororam é uma légua, onde está um engenho, que foi de Manuel Rodrigues Magalhães, e junto a este engenho uma
povoação, que se diz de São Tiago do Alto, no qual rio entram caravelões. Desse Rio de Tororam ao de Maniape são duas léguas, e antes de chegarem a
ele estão as barreiras vermelhas, que parecem, a quem vem do mar, rochas de pedras.
Do Rio de Maniape ao de Urubuguape é uma légua, onde está o engenho de Gonçalo Pires. Do Rio de Urubuguape ao Rio do Frade é uma légua, onde
entram braços, e chama-se do Frade por se nele afogar um, nos tempos atrás. Do Rio do Frade ao de Juuacema são duas léguas, onde esteve uma vila que
se despovoou o ano de 1564, pela grande guerra que tinham os moradores dela com os aimorés. Neste lugar esteve um engenho, onde chamam a ponta do
Cururumbabo. |