Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XXI
Em que se declara a costa do Rio de São Francisco até o
de Sergipe.
Do Rio de São Francisco ao de Guaratiba são duas léguas, no qual entram barcos da costa e tem este rio na boca uma ilha, que é a que vem da ponta
da barra do Rio de São Francisco; este rio se navega pela terra adentro três léguas, e faz um braço na entrada junto do arrecife, por onde entra o
salgado até entrar no Rio de São Francisco uma légua da barra, por onde vão os barcos de um rio ao outro, o qual braço faz a ilha declarada.
Do Rio de Guaratiba a sete léguas está um riacho a que chamam de Aguaboa, pelo ela ser, o qual, como chega perto do salgado, faz uma volta ao
longo dele, fazendo uma língua de terra estreita entre ele e o mar, de uma légua de comprido, e no cabo desta légua se mete o mar; entre um rio e
outro é tudo praia de areia, onde se chama a enseada de Vazabarris, a qual tem diante de si tudo arrecifes de pedra, com alguns boqueirões para
barcos pequenos, por onde podem entrar com bonança.
Desse riacho de Aguaboa a uma légua está o Rio de Ubirapatiba, por cuja barra podem entrar barcos e caravelões da costa com a proa ao
Leste-Noroeste. A este rio vem o gentio tupinambá mariscar, por achar por aqueles arrecifes muitos polvos, lagostins e caranguejos; e a pescar à
linha, onde matam muito peixe, o qual se navega pela terra adentro mais de três léguas.
Deste Rio Ubirapatiba a sete léguas está o Rio de Seregipe em altura de onze graus e dois terços, por cuja barra com batéis diante costumavam
entrar os franceses com suas naus do porte de cem tonéis para baixo, mas não tomavam dentro mais que meia carga, e fora da barra acabavam de
carregar com suas lanchas, em que acabavam de acarretar o pau que ali resgatavam com os tupinambás, onde também resgatavam com os mesmos algodão e
pimenta da terra.
Tem este rio duas léguas por ele acima a terra fraca, mas daí avante é muito boa para se poder povoar, onde convém muito que se faça uma povoação,
assim para atalhar que não entrem ali franceses, como por segurar aquela costa do gentio que vive por este rio acima, o qual todos os anos faz muito
dano, assim nos barcos que entram nela e no Rio Real no inverno com tempo, como em homens, que cometem este caminho para Pernambuco, fugindo, à
justiça e nos que pelo mesmo respeito fogem de Pernambuco para a Bahia, os quais de maravilha escapam que os não matem e comam.
Tem este Rio de Seregipe na barra, de baixamar, três braças, e dentro cinco e seis braças, cuja barra se entra Leste-Sudeste e Oeste-Noroeste, e
quem quer entrar pelo boqueirão do baixio vai com a proa ao Norte; e como está dentro a Oeste-Noroeste, vai demandar a ponta do Sul, e dela para
dentro se vai ao Norte; e quem vem do mar em fora verá por cima deste rio um monte mais alto que os outros, da feição de um ovo, que está afastado
da barra algumas seis léguas, pelo qual é a terra bem conhecida. A este monte chamam os índios Manhana, que quer dizer entre eles "espia", por se
ver de todas as partes de muito longe. E corre-se a costa deste rio ao de São Francisco
Norte-Nordeste e Sul-Sudoeste. |