Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XVIII
Em que se declara a costa do Cabo e Rio do Ipojuca até o
Rio de São Francisco.
Já fica dito como se mete o Rio de Ipojuca como o do Cabo ao entrar no salgado, agora digamos como dele ao porto das Galinhas são duas léguas. A
terra que há entre este porto e o Rio de Ipojuca é toda alagadiça. Neste porto e Rio das Galinhas entram barcos da costa. Do Rio das Galinhas à Ilha
de Santo Aleixo é uma légua, em a qual há surgidouro e abrigo para as naus, e está afastada da terra firme uma légua; da Ilha de Santo Aleixo ao Rio
de Maracaípe são seis léguas, onde entram caravelões, o qual tem uns ilhéus na boca.
De Maracaípe ao Rio Formoso são duas léguas, o qual tem um arrecife ao mar defronte de si, que tem um boqueirão por onde entram navios da costa, o
qual está em nove graus, cuja terra é escalvada mas bem provida de caça. Do Rio Formoso ao de Una são três léguas, o qual tem na boca uma ilha de
mangues da banda do Norte, a qual se alaga com a maré, e mais adiante, chegadas à terra, tem sete ilhetas de mato. Deste Rio Una ao porto das Pedras
são quatro léguas, o qual está em nove graus e meio.
Entre este e o Rio Una se faz uma enseada muito grande, onde podem surgir e barlaventear naus que nadem em fundo de cinco até sete braças, porque
tanto tem de fundo.
E corre-se a costa do cabo de Santo Agostinho até este porto das
Pedras Norte-Nordeste
Sul-Sudoeste. Deste porto ao Rio Camaragipe são três léguas, cuja fronteira é
de um banco de arrecifes que tem algumas abertas por onde entram barcos da costa, e ficam seguros de todo o tempo entre os arrecifes e a terra.
Neste Rio de Camaragipe entram navios de honesto porte, e na
ponta da barra dele da banda do Sul tem umas barreiras vermelhas, cuja terra ao longo do mar é escalvada até o rio de Santo Antônio Mirim, que está
dele duas léguas, onde também entram caravelões da costa. Do Rio de Santo Antônio Mirim ao Porto Velho dos Franceses são três léguas, onde eles
costumam ancorar com as suas naus e resgatar com o gentio.
Do Porto Velho dos Franceses ao Rio de São Miguel são quatro
léguas, que está em dez graus, no qual entram navios da costa, e entre um e outro entra no mar o Rio da Alagoa, onde também entram caravelões, o
qual se diz da Alagoa, por nascer de uma que está afastada da costa, ao qual rio chamam os índios o porto Jaraguá.
Do Rio de São Miguel ao Porto Novo dos Franceses são duas
léguas, defronte do qual fazem os arrecifes (que vão correndo a costa), uma aberta por onde os franceses costumavam entrar com suas naus, e
ancoravam entre o arrecife e a terra por ter fundo para isso, onde estavam muito seguros, e daqui faziam seu resgate com o gentio.
Do Porto Novo dos Franceses ao de Sepetiba é uma légua, do qual
ao Rio de Currurupe são três léguas em o qual entram navios da costa, cuja terra ao longo do mar é fraca, mas para dentro duas léguas é arresoada.
Deste Rio do Currurupe até o Rio de São Francisco são seis léguas.
Da ponta da barra Currurupe, contra o Rio de São Francisco se
vai armando uma enseada de duas léguas, em a qual bem chegados à terra, estão os arrecifes de d. Rodrigo, onde também se chama o Porto dos Franceses
por se eles costumarem recolher aqui com suas naus à abrigada desta enseada, e iam por entre os arrecifes e a terra, com suas lanchas, tomar carga
do pau de tinta no Rio de Currurupe.
Aqui se perdeu o bispo do Brasil, d. Pedro Fernandes Sardinha, com sua nau vinda da Bahia para Lisboa, em a qual vinha Antônio Cardoso de Barros,
provedor-mor que fora do Brasil, e dois cônegos e duas mulheres honradas e casadas, muitos homens nobres e outra muita gente, que seriam mais de cem
pessoas brancas, afora escravos, a qual escapou toda deste naufrágio, mas não do gentio caeté, que neste tempo senhoreava esta costa da boca deste
Rio de São Francisco até o da Paraíba; depois que estes caetés roubaram este bispo e toda esta gente de quanto salvaram, os despiram e amarraram a
bom recado, e pouco a pouco os foram matando e comendo, sem escapar mais que dois índios da Bahia com um português que sabia a língua, filho do
meirinho da correição.
A terra que há por cima desta enseada até perto do Rio de São Francisco é toda alagadiça, cuja água se ajunta toda em uma ribeira, que se dela
faz, a qual vai entrar no Rio de São Francisco até o porto das Pedras Norte-Nordeste Sul-Sudoeste, e toma da quarta de Norte-Sul. |