Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XIII
Que trata da vida e costumes do gentio potiguar.
Não é bem que passemos já do Rio da Paraíba, onde se acaba o limite por onde reside o gentio potiguar, que tanto mal tem feito aos moradores das
capitanias de Pernambuco e Itamaracá, e a gente dos navios que se perderam pela costa da Paraíba até o Rio do Maranhão.
Este gentio senhoreia esta costa do Rio Grande até o da Paraíba, onde se confinaram antigamente com outro gentio, que chamam os caetés, que são
seus contrários, e se faziam crudelíssima guerra uns aos outros, e se fazem ainda agora pela banda do sertão onde agora vivem os caetés, e pela
banda do Rio Grande são fronteiros dos tapuias, que é a gente mais doméstica, com quem estão às vezes de guerra e às vezes de paz, e se ajudam uns
aos outros contra os tabajaras, que vizinham com eles pela parte do sertão. Costumam estes potiguares não perdoarem a nenhum dos contrários que
cativam, porque os matam e comem logo.
Este gentio é de má estatura, baços de cor, como todo o outro gentio; não deixam crescer nenhuns cabelos no corpo senão os da cabeça, porque em
eles nascendo os arrancam logo. Falam a língua dos tupinambás e caetés; têm os mesmos costumes e gentilidades, o que declaramos ao diante no
capítulo dos tupinambás. Este gentio é muito belicoso, guerreiro e atraiçoado, e amigo dos franceses, a quem faz sempre boa companhia, e,
industriado deles, inimigo dos portugueses.
São grandes lavradores dos seus mantimentos, de que estão sempre mui providos, e são caçadores bons e tais flecheiros que não erram flechada que
atirem. São grandes pescadores de linha, assim no mar como nos rios de água doce. Cantam, bailam, comem e bebem pela ordem dos tupinambás, onde se
declarará miudamente sua vida e costumes, que é quase o geral de todo o gentio da costa do Brasil. |