Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo VII
Em que se declara a costa do Rio Grande até a do
Jagoarive.
Como fica dito, o Rio Grande está em dois graus da parte do Sul, o qual vem de muito longe e traz muita água, por se meterem nele muitos rios; e,
segundo a informação do gentio, nasce de uma lagoa em que se afirma acharem-se muitas pérolas.
Perdendo-se, haverá dezesseis anos, um navio nos baixos do Maranhão, da gente que escapou dele que veio por terra, afirmou um Nicolau de Rezende,
desta companhia, que a terra toda ao longo do mar até este Rio Grande era escalvada a maior parte dela, e outra cheia de palmares bravos, e que
achara uma lagoa muito grande, que seria de 20 léguas pouco mais ou menos; e que ao longo dela era a terra fresca e coberta de arvoredo; e que mais
adiante achara outra muito maior a que não vira o fim, mas que a terra que vizinhava com ela era fresca e escalvada, e que em uma e em outra havia
grandes pescarias, de que se aproveitavam os tapuias que viviam por esta costa até este Rio Grande, dos quais disse que recebera com os mais
companheiros bom tratamento.
Por este Rio Grande entram navios da costa e têm nele boa colheita, o qual se navega com barcos algumas léguas. Deste Rio Grande ao dos Negros são
sete léguas, o qual está em altura de dois graus e um quarto; e do Rio dos Negros às Barreiras Vermelhas são seis léguas, que estão na mesma altura;
e numa parte e noutra têm os navios da costa surgidouro e abrigada. Das Barreiras Vermelhas à ponta dos Fumos são quatro léguas, a qual está em dois
graus e 1/3. Desta ponta do Rio da Cruz são sete léguas e está em dois graus e meio em que também têm colheita os navios da costa.
Afirma o gentio que nasce este rio de uma lagoa, ou junto dela, onde também se criam pérolas, e chama-se este Rio da Cruz, porque se metem nele
perto do mar dois riachos, em direito um do outro, com que fica a água em cruz. Deste rio ao do Parcel são oito léguas, o qual está em dois graus e
meio; e faz-se na boca deste rio uma baía toda esparcelada.
Do Rio do Parcel à enseada do Macorive são onze léguas, e está na mesma altura, a qual enseada é muito grande e ao longo dela navegam navios da
costa; mas dentro, em toda, têm bom surgidouro e abrigo; e no Rio das Ostras, que fica entre esta enseada e a do Parcel o têm também. Da enseada do
Macorive ao Monte de Li são quinze léguas e está em altura de dois graus e dois terços, onde há porto e abrigada para os navios da costa; e entre
este porto e a enseada de Macorive têm os mesmos navios surgidouro e abrigada no porto que se diz dos parcéis.
Do Monte de Li ao Rio Jagoarive são dez léguas, o qual está em dois graus e 3/4, e junto da barra deste rio se mete outro nele, que se chama o Rio
Grande, que é extremo entre os tapuias e os potiguares. Neste rio entram navios de honesto porte até onde se corre a costa Leste-Oeste; a terra
daqui até o Maranhão é quase toda escalvada; e quem quiser navegar por ela e entrar em qualquer porto dos nomeados há de entrar neste Rio de
Jagoarive por entre os baixos e a terra porque tudo até o Maranhão defronte da costa são baixos, e pode navegar sempre por entre eles e a terra, por
fundo de três braças e duas e meia, achando tudo limpo, e quanto se chegar mais à terra se achará mais fundo. Nesta boca do Jagoarive está uma
enseada onde navios de todo o porte podem ancorar e estar seguros. |