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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - M.PESCA
Museu de Pesca... e Macaezinho (5)

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A história do Museu de Pesca é assim contada no site do Instituto de Pesca (acesso em 11/11/2011):
 

HISTÓRICO

Museu do Instituto de Pesca: Patrimônio Histórico e Cultural da Comunidade

(texto: pesquisador científico Roberto da Graça Lopes e
jornalista Antônio Carlos Simões)
 
 
A função básica do Museu do Instituto de Pesca é desenvolver ações científico-culturais, levando a comunidade a se conscientizar da importância da preservação e utilização racional do ambiente aquático.
 
Diretor técnico: Oscar José Sallée Barreto
Endereço: Avenida Bartolomeu de Gusmão, 192 CEP:11030-906 Santos – SP
Fone: (013) 3261-5260/ 3261-5995
e-mail: museu@pesca.sp.gov.br
 
O Museu do Instituto de Pesca tem finalidades científico-culturais e objetiva a difusão de conhecimentos originados do estudo do ambiente aquático e da tecnologia aplicada na exploração racional dos recursos marinhos e de águas continentais. É sua função ainda desenvolver atividades educativas não formais, com o intuito de criar ou descobrir e estimular mentalidades dirigidas à correta utilização dos recursos naturais, incluindo os recursos pesqueiros.
 
O Museu tem também outro importante papel, ao se relacionar com a Cidade de Santos desde o início do período desenvolvimentista, uma vez que o prédio, construído no local de uma fortificação datada do século XVIII (Forte Augusto), abrigou inicialmente a Escola de Aprendizes-Marinheiros, depois uma Escola de Pesca e, finalmente, um dos primeiros Institutos de Pesquisa na Baixada Santista. E é muito relevante manter vivas essas referências ao passado, mostrando sempre para a comunidade a importância do prédio do Museu como patrimônio histórico e cultural desde sua origem.
 
O grande edifício que sedia o Museu tem estilo eclético, característico da época em que foi construído (1908), pois reflete a influência de diferentes estilos arquiteturais clássicos. Apesar de sua importância histórica, apenas em setembro de 1986 iniciou-se um processo para tombamento do imóvel junto ao CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo. Esse processo foi concluído em 1998, quase treze anos depois, com o tombamento oficial do imóvel, através da Resolução SC-40, de 2 de abril de 1998, publicada no Diário Oficial de 7 de abril de 1998. Consideraram-se partes integrantes do tombamento todo o paisagismo que emoldura o edifício, bem como o muro de fechamento frontal em toda a testada da área, ficando excluídas as demais construções do Instituto de Pesca, situadas no mesmo terreno.
 
Principais Atrações
 
- acervo constituído de peças biológicas taxidermizadas (empalhadas), esqueletos de animais aquáticos e conchas de moluscos;
- esqueleto de baleia Balaenoptera physalus, com 23 metros de comprimento e pesando 7 toneladas;
- exemplares de tubarões taxidermizados;
- aquários com espécies produzidas pela aqüicultura paulista;
- representação de 4 ecossistemas marinhos do litoral paulista (manguezal, costão rochoso, praia arenosa e fundo do mar), sob a forma de dioramas (cenários);
- sala lúdica apresentando a simulação de um barco;
- lula gigante Architeuthis sp., com 5 metros de comprimento e pesando 91 quilos; único exemplar em exposição no mundo.
- Tubarão mega boca - Megachasma pelagius de 1,90 m
- Tubarão-golfinho - Lamna nasus - de 1,80 m
- Tubarão-galhudo - Carcharhinus plumbeus - de 1,70 m
- Tubarão-bico-de-cristal - Galeorhinus galeus - 0,70 cm (procedente da Ilha dos Açores)
- Raia - Manta birostris - de 4,40 m
 
Observações:
a) aberto de quarta a domingo, das 10 às 18 horas;
     Ingressos: R$2,00
     Estudantes: R$1,00
     Crianças até 6 anos e idosos acima de 60 anos: Isentos
b) visitas escolares monitoradas, agendadas previamente pelo telefone: (013) 3261-5260;
c) orientação a trabalhos escolares nas áreas de ecossistemas aquáticos e pesca.
 

Antigo terraço do Museu, onde estão instalados o auditório e o laboratório de taxidermia

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Vínculo Atual do Museu

O Museu do Instituto de Pesca é importante como veículo de divulgação técnico-científica na área da pesca, da aqüicultura e da biologia e ecologia aquáticas, apoiando a atuação formadora das escolas e atendendo ao turista, funções que assumem maior importância ainda em razão do reduzido número de entidades do gênero existentes no País. Em vista disso, muitos costumam considerá-lo como ligado a alguma secretaria de turismo, desconhecendo o fato de ele pertencer ao Instituto de Pesca, órgão de pesquisa científica em recursos aquáticos renováveis (pesca e aqüicultura), que integra a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

O Museu adquiriu “status” de unidade funcional apenas em abril de 1969, quando o antigo Instituto de Pesca sofreu uma reestruturação. Oficialmente, o primeiro chefe do Museu foi o Biólogo Ricardo Thadeu Barros Grassi , que permaneceu no cargo de 11 de março de 1971 a 7 de janeiro de 1974. A partir de 6 de abril de 1974, assumiu a chefia o Biólogo Manoel da Rocha Gamba. Durante sua gestão, e para fins de trâmites burocráticos internos, o Museu passou, em 3 de fevereiro de 1978, a se denominar Seção de Museu de Pesca. Com a ida de Rocha Gamba para a área de pesquisa, junto à Seção de Tecnologia de Pesca, a contar de 28 de julho de 1979, foi designado para a chefia do Museu o jornalista Antônio Carlos Simões, que assumiu em 30 de julho de 1979 e permaneceu até 29 de junho de 1998.

Por força de dispositivo da lei de regulamentação da profissão de museólogo e pelo tempo de efetivo trabalho na área junto ao Museu de Pesca, Simões, em 4 de fevereiro de 1986, conseguiu o seu registro profissional nessa especialidade, aproximadamente um ano antes da interdição do prédio do Museu para recuperação de estruturas do telhado comprometidas por cupins.

A partir de 16 de abril de 1998, com uma nova reestruturação do Instituto de Pesca, o Museu passou à condição de Núcleo, unidade funcional com status de diretoria, subordinada ao Centro de Comunicação e Treinamento (Cecom), tendo então como diretor o Pesquisador Científico Roberto da Graça Lopes, pois o jornalista e museólogo Antônio Carlos Simões foi designado, a contar de 30 de julho de 1998, para a Diretoria Técnica do Cecom. Graça Lopes dirigiu o Museu até 9 de novembro de 2000.

Já a partir de 8 de janeiro de 2002, através do Decreto n.o 46.488, o Museu passou a se denominar Museu do Instituto de Pesca e a se vincular ao Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Marinho. E em 10 de novembro de 2000, o zootecnista Eduardo Gomes Sanches foi designado o seu novo diretor, permanecendo até 10 de novembro de 2003. Em 12 de novembro de 2003, assumiu Marisa Helena Cestari Casartelli, que permaneceu até 2 fevereiro de 2005. De 3 de fevereiro a 2 de novembro de 2005, Roselaine Aparecida Dias de Oliveira dirigiu o Museu. Antonio Marotta Neto, de 3 de novembro de 2005 a 23 de maio de 2007. Lúcio Fagundes, pesquisador científico, de 24 de maio a 7 de novembro de 2007. Gastão César Cyrino Bastos, a partir de 8 de novembro de 2007.
 
De Forte a Escola de Aprendizes-Marinheiros

A história do terreno onde hoje está instalado o Museu começa com o antigo Forte Augusto (fortificação que entrou em atividade em 1734 para defesa de uma das entradas do estuário de Santos). Em 1893, o Forte Augusto sofre ataques, acaba em ruínas e é desativado naquele fim de século, sendo então aproveitado apenas como depósito de material bélico.
 
Entretanto, devido à posição privilegiada a beira-mar, o terreno da antiga fortificação da Ponta da Praia foi apontado como local ideal para a construção da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Estado de São Paulo, organizada pelo Ministério da Marinha. A finalização do prédio desse estabelecimento de ensino data de 1908, com sua inauguração ocorrendo em 5 de maio de 1909, funcionando ininterruptamente até 1931, quando foi extinta por ordem do Governo Federal. Cedeu lugar à Escola de Pesca (oriunda do Guarujá) que, por sua vez, em 1932, recebeu o nome de Instituto de Pesca Marítima.
 

Vista externa, com um canhão original Withworth, em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
A História do Instituto de Pesca Marítima de Santos

A Escola de Pesca funcionou primeiro em um prédio alugado no Guarujá, na praia das Astúrias, no local onde hoje está instalada a Colônia de Férias da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo. Seus trabalhos tiveram início naquele Município no segundo semestre de 1928. Contudo, somente em 28 de janeiro de 1930 foi oficialmente inaugurada. Em 31 de dezembro de 1932, transferiu-se para Santos, sediando-se na Avenida Bartolomeu de Gusmão nº. 192, no prédio da antiga Escola de Aprendizes-Marinheiros.

Incumbida inicialmente do ensino de práticas de pesca, a Escola recebeu em 1932 novos encargos, competindo-lhe a partir daí também o “fomento e a economia da pesca”, passando a se denominar Instituto de Pesca Marítima.

Foi assim que, através do Decreto Federal nº. 22 725, de 18 de maio de 1933, o atual prédio do Museu foi cedido pelo Ministério da Marinha à Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo para nele serem instalados o serviço de pesca no Estado e o Instituto de Pesca, sendo suas dependências e anexos cedidos para esse único e exclusivo fim, não podendo, sob pretexto algum, ter destino diferente (grifo do próprio Decreto), com suas atribuições ampliadas em 1935, introduzindo-se as questões ligadas ao estudo da biologia de seres aquáticos, à tecnologia de pesca e à fiscalização da atividade pesqueira.

A vinda do barco “Ademar de Barros” para a Instituição originou pesquisas de busca de parcéis (locais onde as características ambientais favorecem a concentração de animais, tornando-os propícios à pesca) e de bancos de espécies economicamente importantes, objetivando a consolidação de cartas de pesca.

A partir do segundo semestre de 1950, o Instituto de Pesca Marítima voltou a adquirir suas atribuições primitivas, funcionando com a seguinte estrutura interna: administração, serviço do pescado, ensino e Museu de Pesca.

O próximo marco importante foi quando, em 8 de abril de 1969, a Divisão de Proteção de Peixes e Animais Silvestres, da Secretaria da Agricultura, foi transformada em Instituto de Pesca, subdividido em duas divisões técnicas: a Divisão de Pesca Marítima e a Divisão de Pesca Interior, ficando subordinado à Coordenadoria da Pesquisa de Recursos Naturais da mesma Secretaria. Nessa oportunidade, esse Instituto de Pesca recém-criado, por meio da sua Divisão de Pesca Marítima, absorve as instalações e altera substancialmente as atribuições do antigo Instituto de Pesca Marítima de Santos, ou seja, mantém o Museu de Pesca e alguns serviços de apoio à atividade pesqueira, retoma a área de pesquisa e encerra as atividades de ensino.
 

Prédio do Museu de Pesca, antes de sua restauração. Detalhe: vitrôs de ferro ainda substituíam as originais venezianas (superiores) de madeira

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Como Surgiu o Museu

Um Gabinete de História Natural, ligado à então Escola de Pesca, é que dá início à história do Museu de Pesca. O antigo Gabinete veio do Guarujá e foi crescendo lentamente, ainda que sem uma linha definida de trabalho. Na época, o acervo se constituía de material reunido indiscriminadamente, resultante de doações e alguns trabalhos elaborados por funcionários da própria repartição.

No começo, o material existente se distribuía em apenas uma sala da parte superior do prédio do Museu. Já em 1936, passava para outra sala da mesma ala, mais ampla, onde se improvisavam estantes. Em 1939, as estantes foram substituídas por armários, na época mais adequados.

A grande transformação do Gabinete ocorreu em 1942, com a montagem do esqueleto de uma baleia que havia encalhado em uma praia do Município de Peruíbe no litoral sul do Estado de São Paulo. Para a exposição do esqueleto, derrubaram-se as paredes divisórias de três salas. Outras dependências do Gabinete também foram ampliadas, reunindo coleções de conchas, corais, peixes, aves marinhas etc. Nesse mesmo ano, o Gabinete ganhou extra-oficialmente a denominação de “Museu”.

Em 29 de junho de 1948 irrompeu um incêndio no novo edifício do Instituto de Pesca Marítima (onde atualmente está instalado o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Marinho e não restou outra alternativa senão a transferência dos serviços da Instituição para as salas de exposição do Museu. Tal incidente ocasionou a destruição e perda de várias peças de valor, devido ao amontoamento indiscriminado do acervo para a liberação de espaço. Até que a vida do Instituto retornasse à normalidade, houve um desinteresse pela reorganização do Museu, que ficou por um tempo adormecido, desativado.

É de se reconhecer que o “Museu” não poderia permanecer sem um objetivo claro, como também não deveria se constituir de peças incondizentes às finalidades do órgão a que estava subordinado. Haviam aves marinhas e terrestres, diferentes animais de pêlo, jacarés, lagartos etc, um começo voltado mais ao ensino que se ministrava no Gabinete de História Natural, ainda no Guarujá.
 
A Necessidade de Especialização

Para um Museu existem duas opções: a generalização ou a especialização de seu acervo.
 
Acervos multitemáticos dificilmente são representativos, além de se tornar muito dificil a ampliação e a renovação de forma ordenada. Soma-se ainda a dificuldade de se contar com um corpo técnico especializado que apóie o Museu, enriquecendo cada peça com as devidas informações históricas e/ou científicas, se muitos campos do conhecimento foram abordados simultaneamente. Este fato não ocorre em grandes instituições que, devido a sustentáculos técnico e financeiro consideráveis, têm condições de criar inúmeras alas, cada qual abordando um assunto (muitos Museus dentro de um grande Museu).

Em instituições menores, a opção pelas especialização é a mais aconselhável. Ao se consolidar essa opção atinge-se a uma personalização que dá originalidade à Instituição. Esta preocupação foi sentida no início da década de 1950, quando se optou por uma especialização do Museu.

Em 6 de fevereiro de 1950 foi constituído um legítimo Museu de Pesca, relacionado diretamente às finalidades do órgão a que estava subordinado, com objetivos técnicos, culturais e turísticos. Com a recuperação de algumas peças danificadas e o reaproveitamento de outros objetos, principiou-se a ampliação do acervo dirigida para as coisas do mar. Daí, o Museu permaneceu em atividade até outubro de 1974, quando fechou para obras de restauração arquitetônica.
 

Área fronteira do museu, vendo-se a Fortaleza da Barra Grande do outro lado do canal de navegação, em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Obras de Restauração

Após a criação, em 1969, do Instituto de Pesca, órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, ao qual o Museu até hoje pertence, as primeiras obras de restauração do prédio do Museu começaram em 1972, com o reparo de todo o telhado que estava em precárias condições. As telhas, de origem francesa, foram restauradas (muitas coladas e todas escovadas, impermeabilizadas e pintadas). Houve substituição de peças no madeiramento do telhado que, posteriormente, foi imunizado contra cupim. Durante essas obras é que construíram-se o auditório, um laboratório para desenvolver os trabalhos de taxidermia, as salas da administração e os sanitários, todos a partir de anexos já existentes associados ao prédio principal.
 
Recuperaram-se os detalhes arquitetônicos do prédio de acordo com o modelo original de sua construção, uma vez que, por volta de 1945, todas as janelas (as de madeira e as vidraças) haviam sido substituídas por vitrôs de ferro. Possivelmente, optou-se por tal medida buscando-se eliminar partes móveis, em função dos constantes estragos provocados pelos fortes ventos que vibram e batem as janelas. Nas janelas residia um dos principais problemas de manutenção no Museu, pois é extremamente difícil obter recursos para uma perfeita conservação. Hoje, tal fato, embora ainda grave, evidentemente não justificaria a substituição das venezianas por vitrôs, descaracterizando arquitetonicamente o imóvel. Assim, durante as obras de restauração, em lugar de vidros em enferrujados batentes, o Museu voltou a receber venezianas de madeira e janelas de vidro, cópias das antigas. Outra ação importante, que aumentou a funcionalidade do Museu, foi a reconstrução de uma das escadas internas laterais, situada à direita de quem entra, e que dá para a sala da ossada da baleia, que havia sido eliminada quando o prédio serviu de sede ao antigo Instituto de Pesca Marítima.
 
As paredes internas e externas foram revestidas com massa corrida e tinta látex branca, em lugar de cal, embora não fosse essa a cor original do imóvel. Pesquisas mostraram que, muito provavelmente, o prédio seria de duas cores, uma para as grandes áreas de parede e outra para realçar os detalhes arquitetônicos, conforme estilo da época da construção.
 
Em novembro de 1982, as telhas originais (ainda de origem francesa) foram substituídas por telhas nacionais novas, em virtude do grande número de peças quebradas e da impossibilidade de aquisição de material congênere para substituição. Em dias chuvosos havia grande quantidade de goteiras em todo o Museu, causando muitos danos. No auditório, por exemplo, tais goteiras levaram à destruição do piso de “Paviflex”, colocado na época de sua construção. Em dezembro de 1984, esse revestimento foi substituído por cacos de granito natural.
 
De 1979 a 1987 o Museu sustentou uma intensa dinâmica de trabalho, colocando-se nesse breve período entre as instituições museais de vanguarda no país. Porém, já em 5 de fevereiro de 1987, a partir de um laudo técnico apresentado pelo Corpo de Bombeiros, a seguir corroborado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Museu foi interditado à visitação pública. O motivo foi o estado precário de alguns componentes da estrutura de sustentação dos telhados, tanto do edifício principal como dos sanitários públicos, por infestação de cupins de solo. Aliás, um problema não original para o prédio, pois quando das primeiras obras de restauração, boa parte do madeiramento foi substituído, já que se encontrava comprometido pela ação desses insetos.
 
O início das novas obras de recuperação do imóvel deu-se apenas mais de um ano depois do fechamento, em 13 de junho de 1988, sendo que tais obras foram interrompidas por diversas vezes, sempre em função de demora na liberação de recursos financeiros e diluição dos valores autorizados pela alta inflação existente na época. Resultado, houve um agravamento paulatino da situação do imóvel, pois uma das interrupções deu-se quando o telhado ainda estava aberto, encarregando-se a chuva de estragar o piso e o forro intermediários e o piso do andar térreo, que estavam em excelentes condições quando o Museu foi fechado.
 
Apenas em 1996, na gestão Mário Covas, passou-se a considerar a reforma do Museu como uma prioridade de governo e, através da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, as obras foram reiniciadas, apesar de a equipe do Museu jamais ter deixado de buscar recursos junto ao próprio Governo e à iniciativa privada. Finalmente, mais de 11 anos depois, em 30 de junho de 1998, o prédio do Museu de Pesca teve a sua reforma concluída, sempre obedecendo às suas características originais uma vez que é um patrimônio tombado pelo CONDEPHAAT, sendo nessa data reaberto à visitação apresentando um arrojado projeto de exposições.
 
O Museu do Instituto de Pesca e a Sua Relação com a Ciência

Um Museu eminentemente científico possui dois tipos de acervo: a) coleções de referência, disponíveis a pesquisadores da área de especialização e b) coleções e objetos disponíveis à visitação pelo público leigo. No caso de um Museu de ciências biológicas, a “coleção de referência” pode se constituir de uma série de espécies devidamente identificadas, conservadas adequadamente, de forma a permitir sua utilização como objeto de estudo científico. É um material para confrontação.
 
Quanto ao aspecto de organização administrativa, os Museus científicos podem ser de dois tipos: o que subordina uma instituição de pesquisa e o que é subordinado a uma instituição de pesquisa. O Museu do Instituto de Pesca se enquadra neste segundo caso. Difere do primeiro tipo porque basicamente não “produz” ciência, mas “divulga” ciência. Sua função é, portanto, interpretar e veicular, por intermédio de seu acervo, dados obtidos através de estudos científicos, visando a torná-los mais facilmente absorvidos pela comunidade leiga.
 

Interior do museu, em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Atribuições

O Artigo 445 do Decreto nº. 11 138, de 03 de fevereiro de 1978, dá à Seção de Museu de Pesca as seguintes atribuições (transcritas exatamente como grafadas no Diário Oficial do Estado, inclusive a pontuação):
 
I - organizar e manter mostruários permanentes sobre assuntos de pesca;
II - classificar e catalogar as peças em exposição;
III - adquirir por compra, permuta ou doação, peças para o Museu;
IV - organizar exposições temporárias, especializadas sobre assuntos de pesca, em colaboração com as demais dependências do Instituto de Pesca;
V - atender e informar visitantes;
VI - manter intercâmbio com Museus congêneres do País e do Exterior;
VII - colaborar com os estudos de sistemática realizados pela instituição.
 
No início da década de 80, em razão da acelerada transformação por que passou o Museu e por sua dinamização, essas atribuições ficaram ultrapassadas, incompletas. Propôs-se então o rol de atribuições a seguir, que refletiam na ocasião as atividades em curso no Museu:
 
I - organizar e manter exposições permanentes, temporárias e itinerantes sobre organismos marinhos e de águas continentais, sobre tecnologias aplicadas à exploração racional de recursos pesqueiros, sobre o cultivo de organismos aquáticos e sobre as relações homem - mar;
II - desenvolver pesquisas museológicas;
III - classificar e catalogar os objetos que constituem o acervo;
IV - ampliar o acervo existente;
V - desenvolver atividades que relacionem ciência e arte, destinadas ao entendimento e valorização do ambiente aquático;
VI - manter intercâmbio com entidades congêneres;
VI - adquirir peças por compra, permuta ou doação;
VII - atender e informar visitantes;
VIII - colaborar com os estudos de sistemática realizados pela Instituição;
IX - através do laboratório de taxidermia e técnicas afins
a) produzir peças biológicas taxidermizadas; tratar ossos e manter esqueletos de animais aquáticos;
b) preparar conchas de moluscos, corais e outros materiais;
c) conservar e restaurar peças biológicas;
d) organizar e manter coleção de peças biológicas fixadas e conservadas em meio líqüido;
desenvolver, adaptar ou utilizar diretamente outras técnicas de produção de peças para o acervo biológico;
X - através da área educativa, 
a) monitorar grupos de estudantes em visitas às dependências do Museu de Pesca;
b) orientar a elaboração de trabalhos escolares ligados à área de atuação da Instituição;
c) elaborar a aplicar material didático relacionado ao ambiente aquático e ao próprio Museu de Pesca;
d) manter relacionamento com serviços educativos de Museus nacionais e estrangeiros e com outras instituições da área educacional;
XI - através da área de museografia,
a) manter “atelier” para o desenvolvimento das atividades museográficas;
b) planejar e elaborar os recursos expositivos necessários;
c) desenvolver ou adaptar técnicas de comunicação museográfica;
d) organizar o espaço museal para a montagem das exposições;
e) organizar e preservar a reserva técnica de acervo museal.
 
Pouco antes da reabertura ao público, com a última reestruturação do Instituto de Pesca, publicada em 16 de abril de 1998, o Museu passou de seção administrativa a núcleo técnico, com as seguintes competências oficiais:      
 
a) manter tecnicamente, aprimorar e divulgar (por meio de atividades e exposições científico-culturais) o acervo museológico relativo ao ambiente e aos recursos aquáticos e à pesca;
b) providenciar e preservar as peças biológicas e não biológicas necessárias às exposições museais;
c) manter uma Equipe Educativa especializada no atendimento a professores e estudantes, visando à utilização do Museu de Pesca como instrumento de complementação do ensino formal;
d) aprimorar os conhecimentos de seu corpo técnico na área museológica, buscando melhorar a eficiência do Museu como instituição para a preservação, valorização e divulgação dos testemunhos da ciência e da cultura, bem como para capacitá-lo a prestar serviços de assessoria na especialidade;
e) manter catálogo atualizado dos objetos que constituem o acervo;
f) planejar e realizar atividades e exposições científico-culturais e educacionais relacionadas à temática da Instituição;
g) pesquisar, resgatar e organizar objetos, documentos e depoimentos relacionados à origem e transformação do próprio Museu e do Instituto de Pesca, visando à memória institucional;
h) desenvolver programas de treinamento nas áreas de museologia, taxidermia e educação em Museus;
i) manter intercâmbio com entidades congêneres.
 
Composição do Acervo

O acervo institucional compõem-se de objetos biológicos, objetos temáticos: miniaturas de embarcações, instrumentos de navegação etc., objetos artísticos: pinturas, fotografias (coleções temáticas), esculturas etc. e mobiliário.
 
Ações Educativas

a) programar e monitorar visitas de grupos de estudantes;
b) orientar trabalhos escolares, transmitindo aos estudantes noções básicas sobre a abordagem dos temas e a realização da pesquisa bibliográfica necessária;
c) promover atividades relacionadas ao conhecimento do ambiente aquático envolvendo a história, a geografia, a biologia, a oceanografia etc., incluindo procedimentos práticos como coleta de organismos, estudos de morfologia e classificação taxonômica e outras práticas de laboratório etc.
d) desenvolver práticas de educação ambiental, utilizando o Museu como instrumento para a conscientização e valorização do patrimônio natural e cultural;
e) desenvolver exposições itinerantes, como forma de ampliar a ação educativa do Museu;
f) desenvolver outras ações pedagógicas que possam fortalecer o ensino formal em áreas correlatas à temática da Instituição.
 

Peças do museu, em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Nova Concepção

Desde meados de 1979, o Museu de Pesca vem evoluindo dentro de uma nova linha de atuação, através de uma remodelação em seu acervo e da introdução de várias atividades dinâmicas, visando a assumir um efetivo papel junto à comunidade.
 
Até julho de 1979, o Museu subsistia em função apenas de seu acervo biológico, constituído de animais taxidermizados. A partir dessa data, sentiu-se a necessidade de incorporar a esse acervo novas formas de comunicação com o público. Isto porque um acervo dessa natureza precisa ser cuidadosamente concebido para que a criança e o jovem compreendam satisfatoriamente o seu valor como objeto e não o interpretem, eventualmente, como uma devastação do meio.
 
Independentemente de se constituir em uma das maiores atrações da Cidade de Santos, o Museu do Instituto de Pesca tenta hoje se transformar em um importante instrumento para a complementação do ensino formal. A sua atual equipe técnica se ocupa da reavaliação permanente do papel da Instituição, transformando-a num centro de reflexão, através da transferência de conhecimentos ligados ao seu acervo, fundamentados numa filosofia ambientalista e de exploração sustentada dos recursos naturais renováveis.
 
A atual filosofia de atuação do Museu tem por objetivos gerais:      
 
a) utilizar ampla e adequadamente o potencial da Instituição, na transferência de conhecimentos sobre o ambiente aquático (suas características e recursos), visando a demosntrar, através da evidência museográfica, resultados obtidos pela pesquisa científica desse ambiente;
b) despertar o interesse da comunidade pelo presente e futuro dos oceanos e dos corpos hídricos continentais;
c) despertar, descobrir ou criar e estimular mentalidades voltadas à preservação e utilização adequada dos recursos naturais (Educação Ambiental);
 
A nova forma de comunicação com o público adotada pela Instituição, multiplicando as abordagens sobre o meio aquático (e, conseqüentemente, do próprio acervo estático e dos conhecimentos ligados à biologia), tornou obrigatória a utilização de técnicas ligadas a várias especialidades como a pedagogia, a história, a geografia, as artes plásticas, a comunicação etc, dando ao Museu um caráter multidisciplinar.
 
A idéia de diversificação das técnicas e abordagens visou sobretudo a satisfazer interesses heterogêneos do público visitante, porém de forma a fazer confluir esses interesses para um objetivo comum: uma visão mais ampla e harmoniosa da Natureza.
 
No entanto, uma série de atividades aparentemente não coordenadas entre si poderia denotar uma dispersão de propósitos. Portanto, reunir as atividades em andamento, integrando-as em uma estrutura de projetos e subprojetos que permita uma análise objetiva dessas atividades, aparentemente dispersas, e demonstre que as mesmas fazem parte de um todo orgânico, tornou-se vital para o fortalecimento da imagem da Instituição.
 
Assim, em setembro de 1983, buscando-se sistematizar e conceituar a série de inovações introduzidas que visam basicamente atender aos objetivos gerais, criou-se o “Programa de Revitalização do Museu de Pesca”, constituído por dois projetos e vários subprojetos:
 
1) Projeto de Remodelação Museográfica, operacionalizado pelos subprojetos “reprogramação visual do acervo”, “memória” e “galeria de artes”;
 
2) Projeto Atividades Pedagógicas, operacionalizado pelos subprojetos “reforço didático” (que se desenvolve por meio das atividades: acompanhamento técnico da escolas, projeção de filmes técnicos, bibliografia de apoio à trabalhos escolares, orientação a estudantes na elaboração desses trabalhos, estudos práticos, folhas didáticas e preparação de audivisuais); “educação patrimonial”, “concurso anual de desenhos - O mar visto pela criança”, “ciclos de palestras e conferências” (sobre o mar e o meio ambiente), publicações” e “Museu itinerante”.
 
A reestruturação do acervo, em termos visuais e de informações sobre os objetos, e a criação de atividades dinâmicas resultaram na geração de um novo substrato de conceitos museológicos e técnicas museográficas que têm levado a Instituição a cumprir com eficiência o seu papel social. Desenvolver esses conceitos e técnicas e mesmo adaptar os já existentes é uma atividade de pesquisa. Portanto, paralelamente a tudo o que vem realizando, o Museu contribui também para o enriquecimento da ciência museológica. O “como fazer” obtido no decorrer do processo de sua evolução tem sido divulgado através de artigos em revistas, da apresentação de trabalhos em congressos, seminários e encontros etc.
 
Com soluções museográficas econômicas e embasada numa estrutura organizacional eficiente, o “Programa Revitalização do Museu de Pesca”, a nova dinâmica imposta ao Museu pode ser medida pelo número de visitantes atendidos (crianças, estudantes e pagantes): 38.822 em 1979, 59.526 em 1980, 66.424 em 1981, 103.063 em 1982, 85.740 em 1983, 132.615 em 1984, 98.004 em 1985 e 66.474 em 1986 (último ano em que a Instituição recebeu público visitante). A partir da reabertura, 58.767 visitantes, de junho a dezembro de 1998; 48.223, em 1999; 31.639, em 2000; 52.453, em 2001; 61.422, em 2002; 70.520, em 2003; 92.050, em 2004; e 74.812, em 2005.
 
Apesar de toda a sua dinâmica, o Museu ainda é um “projeto de evolução”, aplicado em várias etapas, onde cada nova etapa decorre de uma necessidade prática observada na etapa anterior, necessidade essa ditada em parte pelos anseios da própria comunidade que participa da montagem do Museu.
 
Finalmente, o Museu do Instituto de Pesca procura assumir o verdadeiro papel de uma instituição museológica, passando de um simples arquivo de objetos a uma instituição efervescente, onde o patrimônio natural e cultural do Homem seja posto a serviço do contínuo aperfeiçoamento da comunidade.
 

"Quarto do Capitão", em 2005

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Serviço Educativo
 
Visando ao aprimoramento da prestação de serviços à comunidade foi implantado no Museu (oficialmente a partir de 12 de abril de 1984) um Serviço Educativo que, inicialmente, contava com a participação de três professoras (da área de Ciências Biológicas) cedidas pela Secretaria de Educação do Estado, conforme Resolução de 9 / 4 / 84 dessa Secretaria. Esse serviço atendia estudantes de escolas públicas e particulares de todo o Estado.
 
A função do professor no Museu é criar e desenvolver atividades práticas destinadas a complementar o ensino formal, envolvendo: cursos de educação ambiental e iniciação científica, palestras, visitas monitoradas ao Museu, estudos do meio na praia do Góes (por meio de observação “in loco” do ambiente marinho e coleta de material biológico), orientação a pesquisas escolares, projetos especiais para deficientes físicos, Museu itinerante, atividades lúdicas para crianças de pré-escola, orientação a professores em assuntos relacionados ao ecossistema aquático e à pesca etc.
 
A finalidade de tais atividades é criar uma “mentalidade” de preservação e utilização racional dos recursos marinhos, bem como sensibilizar o jovem e a criança no sentido de valorizar o litoral paulista, dada a sua importância como patrimônio natural profundamente relacionado com os aspectos sociais, históricos e culturais da região.
 
Os Museus, assim como os parques zoobotânicos e os aquários se constituem em recursos educacionais de incontestável riqueza, sendo até hoje pouco explorados. Por serem de fundamental importância no processo de formação e enriquecimento cultural das comunidades que os abrigam e sustentam, todas as modernas e relevantes instituições como essas devem dispor de professores em suas equipes multidisciplinares. Para se ter uma idéia da importância da face educativa em um Museu, o Louvre, por exemplo, já em 1880 foi o primeiro a criar um serviço educativo permanente. Entre 1914 e 1918, a direção do “Victoria and Albert Museum”, de Londres, a partir de atividades dirigidas e pensadas para os estudantes, inaugura o que se poderia chamar de “pedagogia ativa” no âmbito dos Museus. A publicação “Os Museus do Mundo” (Salvat Editora) registra que o ponto culminante da experiência pedagógica em Museus ocorreu nos Estados Unidos, a partir de 1920. Em 1960, esse País contava com 35 Museus exclusivamente dedicados a estudantes, enquanto no resto do mundo não chegavam a 10.
 
Lamentavelmente, os afastamentos das professoras que atuavam no Museu foram cessados a partir de 14 de março de 1995, por força do Decreto Estadual no. 39 930, de 30 / 01 / 95, do Governador Mário Covas.
 
Com a reestruturação do Instituto de Pesca (Decreto Estadual no. 43 037, de 15 de abril de 1998), o antigo e oficioso “Serviço Educativo” foi transformado na “Equipe Educativa”, uma unidade institucional oficial, ainda informalmente chamada de Servico Educativo do Museu.
 
Por outro lado, buscando resolver a questão da disponibilidade de professores para o Serviço Educativo de maneira formal e definitiva, que independa da boa vontade da política administrativa vigente, a Direção do Museu de Pesca propôs à Deputada Maria Lúcia Prandi a apresentação de um projeto de lei tratando dessa questão, idéia que a Deputada consubstanciou no Projeto de Lei no. 67 de 1999, publicado no D.O.E. de 24 / 03 / 99 que “Determina o reconhecimento dos Serviços Educativos em Museus Públicos Estaduais”.
 

Interior do museu, em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Comprometimento Social

Lamentavelmente, esse importante patrimônio histórico e cultural permaneceu interditado ao público durante 11 anos. Nesse período de fechamento, milhares de crianças e jovens, em uma fase fundamental de sua formação, perderam a oportunidade de conhecer e refletir sobre as tantas imagens e informações que davam identidade ao Museu de Pesca. Quem o conheceu nos últimos anos anteriores à sua interdição pôde testemunhar a diversidade de atividades que ali fluíam, transformando um simples cenário com peixes empalhados (taxidermizados) em um dinâmico centro de expressão e formação da mentalidade da comunidade. Havia espaço tanto para assistir como para participar. E assim a Instituição ia se abrindo mais e mais a esse verdadeiro trabalho comunitário, criando alternativas e desenvolvendo atividades que estavam no rumo de propostas de instituições museológicas de vanguarda, no que diz respeito à função social e educacional dos Museus.
 
Contudo, para não perder completamente o seu vínculo com a comunidade, o Museu manteve, através de seu Serviço Educativo, várias atividades para atingir diretamente crianças, jovens e professores, utilizando diferentes recursos pedagógicos para a transmissão de conhecimentos, quais sejam: cursos e palestras, orientação a pesquisas escolares, estudos do meio ( a partir de observações “in loco” do ambiente marinho e de seus habitantes), Museu itinerante etc. Manteve também o Laboratório de Taxidermia e Técnicas Afins, onde interessados receberam treinamento na área.
 
Necessidade de Renovação do Acervo Biológico

O acervo biológico do Museu do Instituto de Pesca se constitui de animais aquáticos conservados através da técnica de “taxidermia” (arte de empalhar animais). Por estarem sujeitas a danos causados por fungos e insetos, pela umidade, pelo ressecamento da pele curtida ao longo dos anos, ou pela oleosidade excessiva da pele de algumas espécies etc., as peças biológicas precisam ser constantemente substituídas por peças semelhantes ( exemplares da mesma espécie).
 
É importante separar um acervo artístico de um acervo biológico. Um óleo sobre tela ou uma escultura, por exemplo, são objetos de arte criados uma única vez pelo artista. Tratam-se de objetos que devem ser preservados principalmente por sua originalidade. Já peças biológicas são objetos que podem ser repetidos, substituídos, pois se constituem em exemplos de flora e fauna. Logicamente, quando se tratar de animais extintos, ou de difícil coleta, há que se redobrar os cuidados com a sua preservação.
 
Nos últimos anos, tanto as técnicas de museografia quanto as de taxidermia evoluíram consideravelmente, obrigando os Museus de ciências naturais a se modernizar, sob pena de, na visão do grande público, continuarem mantendo a imagem de depósitos de objetos cheirando a mofo. Os Museus precisam ser competitivos em relação aos veículos de transferência de conhecimentos, a cada dia mais dinâmicos e interativos, na hora de captar a atenção do público.
 
No que diz respeito ao Museu de Pesca de Santos, há muito o seu acervo biológico necessitava ser substituído. Os animais taxidermizados, além de toda a problemática concernente à deterioração por diversos fatores, eram animais conservados por técnicas de taxidermia incipientes, que davam a esses animais uma aparência muito artificial.
 
É importante separar também os acervos biológicos didáticos de acervos biológicos científicos. Os didáticos destinam-se à comunidade leiga, enquanto os científicos destinam-se à comunidade científica. Os acervos científicos, conhecidos também como “coleções de referência”, têm técnicas peculiares de conservação dos animais e não têm finalidades expositivas. No caso do Museu de Pesca, a sua função primordial é didática, ainda que sempre com base em estudos científicos sobre o ecossistema aquático e a atividade pesqueira.
 
Outra característica do antigo acervo biológico era a enorme quantidade de peças (muitas delas repetidas), apresentadas aleatoriamente em vitrines pouco funcionais, que serviam apenas para um “passar de olhos do visitante”, mas que de nada valiam para aquele que seria o principal objetivo das exposições: a reflexão e a conseqüente fixação das informações transmitidas através de apresentação dentro de um contexto pré-determinado. Por exemplo: expor exemplares, taxidermizados ou em meio líquido, de sardinha sim, mas ao se mostrar a pesca e a importância econômica dessa espécie.
 
Assim, hoje valoriza-se a qualidade e a coerência do material biológico exposto em relação a temas previamente concebidos. Não há sentido em se taxidermizar um grande número de animais apenas para transformar o Museu de Pesca numa das instituições que possua um dos maiores acervos biológicos taxidermizados do País, ignorando-se a necessidade de se adequar esse acervo a objetivos museológicos.
 

Reabertura do Museu de Pesca, em 1998, depois de onze anos fechado

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Campanha “S.O.S. Museu de Pesca:
ponto de partida para um exercício de cidadania
 
Em 1995, já com oito anos de fechamento do Museu, surgiu no Rotary Club de Santos a idéia de uma campanha através da mídia, capaz de conscientizar a população de sua omissão em relação ao estado de abandono desse patrimônio. Foi assim que lançou-se a campanha “2 reais é pouco. Eu defendo o Museu de Pesca de Santos”, numa parceria do Rotary com o jornal “A Tribuna” e a agência Clã de Publicidade, recebendo ainda muitos outros apoios: Prefeitura Municipal de Santos, Câmara Municipal de Santos, Universidade Católica de Santos, Hipermercado Eldorado, Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Santos, Banco Bamerindus do Brasil S.A, Associação dos Empresários de Hotéis de Turismo de Santos e Baixada Santista, Sindicatos e Entidade de Classe, Associações de Melhoramentos de Bairros, Clubes de Servir, Buldog Assessoria de Eventos, Grupos de Escoteiros, Gráfica Francar, Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, Engecont Engenharia Comércio e Serviços Ltda., Lions Clube de Santos-Sul, estabelecimentos de ensino etc.
 
Como parte da campanha, realizou-se nos dias 25 e 26 de agosto de 1995 uma vigília com pedágio de 24 horas para receber a contribuição de dois reais de cada cidadão santista, em troca de uma “medalha” (adesivo) para ser colocada simbolicamente no peito, atendendo a um dos apelos da campanha, ou seja : coloque esta idéia no peito.
 
O movimento, chamado provisoriamente S.O.S. Museu de Pesca, além do total arrecadado com a venda das “medalhas”, recebeu inclusive compromissos de doação de projetos técnicos, serviços, materiais etc.
 
Por outro lado, um passo vigoroso para o processo de revitalização do Museu foi a constituição oficial, com o pertinente registro em Cartório, de uma Associação dos Amigos do Museu de Pesca (AAMP), cuja primeira diretoria-executiva foi eleita por cerca de 150 sócios fundadores (pertencentes a diversas entidades representativas de Santos), em reunião realizada no auditório do Museu no dia 30 de agosto de 1995. A função dessa Associação é não apenas administrar os recursos financeiros obtidos na Campanha, mas também dar continuidade a essa Campanha, buscando colher os demais recursos necessários ao aprimoramento e à manutenção do Museu.
 
Sensibilizado por esse empenho da comunidade santista em prol do Museu, o Governador Mário Covas assumiu integralmente as obras de recuperação arquitetônica do imóvel que estavam interrompidas desde dezembro de 1991, reiniciando-as em 30 de setembro de 1996.
 
Para o museólogo Antônio Carlos Simões, que respondeu pelo Museu de Pesca por mais de 15 anos, “com todos os obstáculos colocados à frente de uma administração desta natureza, exemplos como a “Campanha S.O.S. Museu de Pesca” alimentam o nosso idealismo e estimulam e gratificam o nosso esforço de trabalho. Mais do que isso, com a conscientização coletiva e a participação ativa de importantes segmentos da sociedade, o Museu do Instituto de Pesca avança e se adequa aos novos conceitos da Museologia, no momento em que o seu próprio público passa a participar do seu processo de reconstrução física e redefinição do papel museológico desta instituição. Na era da informática, da globalização e da interatividade, e do irônico mas real caos econômico que afeta o mundo contemporâneo, não há mais como reconstruir ou manter as instituições culturais de outra forma. É mesmo a sociedade que deve se conscientizar e lutar pelos testemunhos culturais de seus antepassados. Quem administra essas heranças sabe muito bem do novo rumo que as instituições culturais forçosamente terão que tomar, através de cidadãos conscientes, parcerias, parcerias e parcerias. Só assim sobreviverá o nosso Museu, como tantos outros raros exemplares do patrimônio histórico-cultural brasileiro”.
 
Hoje, é um grande desafio o gerenciamento de uma instituição museológica. Na era da informação eletrônica, é preciso valorizar e aprimorar os Museus em função de sua importância como instrumentos de materialização do conhecimento. Pois apesar de todas as facilidades do computador, este não substitui o potencial dos Museus com a riqueza de seus objetos.
 

Reabertura do Museu de Pesca, em 1998, depois de onze anos fechado

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Cenário de Atrações Marinhas

De junho de 1996 a meados de 2001, um raro exemplo foi dado por um grupo de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (da Universidade Católica de Santos), que acompanhou o processo de revitalização do imóvel. Coordenado pelos arquitetos Edgard Gouveia Júnior e Frederico Zanardi Chicarino, o grupo denominado “Reviver” desenvolveu um amplo projeto de modernização do Museu, tendo em vista a dinâmica das exposições, a adequação das atividades a diferentes tipos de público e a interatividade.
 
O Grupo Reviver, ao propor as intervenções arquitetônicas, preocupou-se em garantir a preservação das características do edifício, propiciando-lhe adjetivos que atendessem à vocação de um Museu contemporâneo. Uma das intervenções mais interessantes foi na sala onde está exposta a ossada de uma baleia (com 23 m de comprimento e 7 toneladas), no pavimento superior do edifício. O piso de madeira sob a ossada foi substituído por placas de vidro, sobre as quais o visitante inclusive pode andar, cuja função foi criar um ângulo inusitado de visualização da ossada a partir do andar térreo, assim como abrir para o visitante uma nova perspectiva visual, ao reciprocamente permitir a quem está no primeiro andar observar os objetos e o público no andar térreo. Ou seja, o piso de vidro amplia os, por si só já grandes, espaços das salas.
 
Para o Reviver, o estudante universitário tem importante papel na produção de novos conhecimentos e na difusão de práticas contemporâneas em sua área de atuação. Esse grupo dá aos universitários um verdadeiro exemplo de cidadania, ao transformar inesperadamente o seu curso universitário em um importante instrumento de contribuição social.
 
Para o Museu de Pesca, por sua vez, abrigar e cultivar esse tipo de participação em sua construção vai de encontro a um dos princípios de sua filosofia de trabalho. É o que se tem denominado de “Museu laboratório”. Segundo esse princípio, a Instituição enriquece a comunidade ao estimular a sua participação na implantação dos projetos museais e, paralelamente, recebe uma contribuição dos interessados em doar de seu dom ao Museu, os quais, em contrapartida, recebem a orientação de profissionais. Há uma simbiose que facilita a viabilização do Museu, enquanto gera uma nova interface de contato com usuários específicos, uma nova motivação para a equipe museal e um novo ângulo de valorização institucional.
 

Raia-manta, morta acidentalmente em rede de espera, em Praia Grande (SP), em 2005

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Ala Lúdica
 
Um dos principais projetos do grupo Reviver consistiu na transformação de uma grande área do Museu (mais de 25% de seu espaço de exposições) em espaço de aprendizado destinado basicamente, porém não exclusivamente, às crianças. Essa área, denominada Ala Lúdica Petrobras, foi inaugurada em 29 de junho de 1998. Nesse local, as crianças se locomovem ao nível do porão do edifício, cruzando seus agora descobertos arcos, hoje integrantes do novo cenário museográfico. O projeto, patrocinado pela Petrobrás, também recebe o apoio importante da Associação dos Amigos do Museu de Pesca.
 
Nesse espaço lúdico, a criança pode perceber quanta beleza e minúcias há na complexa e organizada vida sob as águas. “Navega” num barco imaginário, ouve e conta histórias, agita. Interdependência, sustentabilidade, sonho e fantasia, fluxo de energia, associação, aventuras, flexibilidade, viajantes, diversidade... Mas, calma! Há muita coisa, mas não há nenhum bicho de sete cabeças. Afinal, isso não existe no mar, ou existe?
 
A ala lúdica compreende três salas:
 
SALA DA PRAIA: representação de quatro ecossistemas marinhos do litoral paulista (manguezal, costão rochoso, praia arenosa e fundo do mar), constituindo um diorama, um cenário. Nesse espaço se mostrará a importância da preservação de cada um desses ambientes para a manutenção do equilíbrio geral.
 
SALA DO BARCO: sonhos com piratas, noções de navegação, de marinharia, regime de marés e ventos etc. A pesca, o mergulho, o uso do mar e a necessidade de uma convivência harmoniosa e construtiva do homem com o ambiente aquático.

QUARTO DO CAPITÃO: No dia 12 de outubro de 2006, o Museu de Pesca de Santos deu um presentão à criançada: reinaugurou o “Quarto do Capitão”, uma atração com base na figura lúdica de um antigo capitão, que, segundo a lenda, protege o Museu.
 
A funcionária Gizelda Palubinskas, 65, conta que essa figura imaginária teve origem na figura real do capitão-tenente Garcez Palha, personagem com referências em documentos da Marinha do Brasil. Tal personagem está ligada também à história do prédio do Museu de Pesca, pois supervisionou com muito zelo as obras de construção do imponente imóvel, originalmente destinado, à hoje extinta, Escola de Aprendizes Marinheiros do Estado de São Paulo, que depois se transformou na “Escola de Pesca”, o embrião do atual Museu de Pesca. Garcez Palha foi apelidado carinhosamente, por antigos funcionários do Instituto de Pesca, de “Capitão Padilha”. Comenta-se que o Capitão permanece até hoje zelando pelo prédio, evitando que seja descaracterizado. Será que o comandante Padilha ajudou no processo de tombamento e restauração do prédio do Museu?
 
Segundo narraram ex-alunos das citadas Escolas, eles não saíam à noite dos quartos em que se alojavam no andar superior do prédio, nem para ir ao banheiro, com medo de se defrontarem com o fantasma do capitão. Mas, para Gizelda, ninguém deve temer o gentil “Capitão Padilha”, já que ele dedicou grande parte de sua vida amando e protegendo o majestoso prédio da Ponta da Praia.
A concepção do “Quarto do Capitão”, integrando o projeto da Ala Lúdica Petrobrás, é de autoria de um grupo de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (da Universidade Católica de Santos), coordenado pelos arquitetos Edgard Gouveia Júnior e Frederico Zanardi Chicarino, que atuou no Museu de junho de 1996 a meados de 2001. O “Grupo Reviver”, como era assim denominado, desenvolveu um amplo projeto de modernização do Museu de Pesca, tendo em vista a dinâmica de exposições, a adequação de atividades a diferentes tipos de público e a interatividade.
 
A concepção romântica relacionada ao “Capitão Padilha” e ao seu quarto no Museu, abordada na mídia regional na ocasião da recente reinauguração, assim como as muitas “curiosidades” sobre o “fantasma guardião”, derivaram de relatos, freqüentemente fantasiosos, de funcionários do Instituto de Pesca. Na verdade, o “Quarto do Capitão” e todos os enredos inventados para o personagem permitem que se crie no público uma expectativa que o predispõe a visitar o Museu e participar alegremente desse espaço lúdico.
 
O que importa é que, atento e amistoso, o “Capitão Padilha” recebe sempre bem as crianças e os amigos no cenário de seu quarto, que reúne móveis e outros objetos, como um baú e até um gato (empalhado), que dão vazão a exercícios de ficção que ficam por conta de cada um, viagens da imaginação e emoção.
 
Novidades
 
De julho a outubro de 2006, o “Quarto” foi redecorado. Nelson Dreux Costa, funcionário do Instituto de Pesca e especialista em taxidermia (a arte de conservar, artificialmente, animais), coordenou a redecoração, apoiado por estagiários do Museu de Pesca. O projeto contou com o patrocínio da Petrobrás, que envolveu também outros ambientes que compõem a “Ala Lúdica” do Museu.
 
Parcialmente inspirado no filme “Piratas do Caribe”, o novo cenário, que tem agora iluminação especial, apresenta uma arca cheia de jóias de faz-de-conta, um baú lúdico representando um tesouro com imitações de moedas de ouro, uma espada confeccionada com resina e material reciclado e o esqueleto verdadeiro de um macaquinho, como no filme. Um gato empalhado, que fica ao lado da “cama do Capitão”, também integra o ambiente, como ainda alguns instrumentos de navegação (timão, bitácula, bússola, barômetro, lanternas e carta náutica, por exemplo).
 
 

Estudantes no museu, em 2005

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

 
Colaboração

Durante os 11 anos de recuperação do imóvel, dois órgãos merecem especial destaque: o Centro de Engenharia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que supervisionou as obras com empenho e responsabilidade, e o IPT, que providenciou gentilmente os tratamentos preventivos contra nova infestação por cupins.
 
Para a primeira fase de recuperação do edifício, em junho de 1988, as obras efetivaram-se a partir de um acordo entre o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento da época, Antônio Tidei de Lima e o então prefeito de Santos, Oswaldo Justo, através de um convênio, sendo os recursos financeiros destinados pelo Estado e as obras executadas pela prefeitura através da Prodesan (Progresso e Desenvolvimento de Santos).
 
Esse acordo prosseguiu na administração da prefeita Telma de Souza, na gestão do secretário estadual de Agricultura e Abastecimento Walter Lazzarini Filho. A partir da prefeita Telma, houve um hiato na participação da prefeitura na recuperação do Museu, ficando toda a responsabilidade por conta do governo do Estado.
 
Finalizando, o Museu do Instituto de Pesca é
algo pelo que vale a pena trabalhar
 
Após onze anos fechado, o Museu retorna à comunidade. Um tempo que pode ser considerado uma eternidade para uma Instituição com função cultural e educativa ficar afastada do público, pois gerações deixaram de visitá-la e de se encantar, deixaram de ser estimulados a amar e respeitar o mar e as coisas da Natureza. Felizmente, isso agora é passado.
 
Mas é bom que se possa entender melhor como a sua equipe o vê. Para nós, um Museu e uma pessoa são comparáveis. Primeiro porque em ambos tem que haver vida. Depois porque os dois devem ter princípios vitais: ter alma. E a alma de um Museu, a base filosófica que lhe dá coordenação interior, é o seu projeto museológico.
 
Para o Museu do Instituto de Pesca, esse projeto diz que a criança é seu público preferencial, o público no qual se pode semear o amor pelas coisas culturais, pelo saber alegre, pela satisfação em conhecer mais. Diz também que é preciso mostrar a delicada, mas extremamente bela, casa que o ser humano habita: o seu meio ambiente. Incríveis oceanos e terras rodopiando velozmente pelo espaço. Define ainda que é preciso trazer para a Instituição sempre novas maneiras de ver e interpretar o mundo oceânico, sua estrutura e criaturas, e os segmentos sociais que vivem e sobrevivem nesse e desse mundo. Que é preciso abrir seu espaço à presença e participação do artista, do deficiente físico, do artesão e do curioso. Essa alma museal define então o corpo que se quer para o Museu.
 
Em qualquer Museu, tal corpo é constituído pelo prédio que o sustenta fisicamente e que, como o esqueleto humano, é o ponto de apoio de seus movimentos. Onde firmam-se músculos, pele e metabolismo, agentes do ciclo vital. No mundo físico (há o mundo das idéias), um ser ou um Museu não se expressam, não pulsam ou gesticulam, sem essa base material. E num Museu, músculos, pele e metabolismo são representados pelo seu Projeto Museográfico.
 
Sendo um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico, esse “esqueleto” do Museu de Pesca foi revitalizado, mas permanece o mesmo. A alma que o impulsiona há décadas, seu projeto museológico, permanece também. Mas músculos, pele e metabolismo estão sendo reconcebidos, atualizados. Há um novo corpo, um novo rosto, que mantém sua identidade, suas impressões digitais, que atende pelo mesmo nome, mas que é diferente. Há uma preocupação com a acessibilidade para deficientes, com um ciclo mais curto para as exposições... No Museu de Pesca de hoje, um novo projeto de exposições, ou seja, uma nova museografia será a maior novidade.
 
E o verbo é será porque ela ainda está em implantação. Desde a entrega do prédio, a sua equipe começou a recheá-lo com as informações, os objetos, a fantasia e o entusiasmo necessários para entregá-lo mais completo à comunidade, como um grande presente de valor incalculável.
 
Porém, por mais completo que o Museu do Instituto de Pesca venha a estar, ele sempre será uma Instituição que se constrói dia-a-dia com a participação da comunidade, um laboratório para o desenvolvimento de talentos aplicados ou descobertos nesse trabalho de construção.

Imagem: captura de tela do site do Instituto de Pesca (acesso em 11/11/2011)

 

Cronologia do Museu de Pesca

 

 

1734 - Instalação do Forte Augusto, que cruzava fogo com a Fortaleza da Barra Grande, embora mais nada fosse que uma amurada de pedra armada com algumas peças de artilharia. Ambas fortificações trabalhavam em conjunto para defender uma das entradas do Estuário de Santos (no interior do qual se situava a Vila) contra os piratas, principalmente.

 

1893 - O Forte Augusto, que sofreu muitos ataques ao longo de mais de 150 anos de funcionamento, após repelir o cruzador República na Revolta da Armada, acaba em ruínas, instalando-se a partir daí no local apenas um depósito de material bélico.

 

1908 - Constrói-se na área do antigo Forte Augusto o prédio da Escola de Aprendizes-Marinheiros (inaugurada em 1909), instituição ligada ao Governo Federal.

 

1930 - Inaugurada oficialmente a Escola de Pesca do Estado de São Paulo (o Decreto de criação é de dezembro de 1927), subordinada à Diretoria da Indústria Animal da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, com sede na praia das Astúrias, Município de Guarujá. Essa Escola possui, para uso dos alunos, um Gabinete de História Natural (o embrião do Museu de Pesca).

 

1931 - A Escola de Aprendizes-Marinheiros é extinta.

 

1932 - A partir deste ano a Escola de Pesca do Estado de São Paulo passa a denominar-se Instituto de Pesca Marítima, desenvolvendo também pesquisa (foi a primeira instituição de pesquisa da Baixada Santista) a par do ensino em pesca.

 

1933 - Dando prosseguimento a um vasto plano de remodelação do ensino profissional para a juventude, principalmente para a população do litoral, o Governo do Estado recebe em comodato o prédio da extinta Escola de Aprendizes-Marinheiros, para onde transfere o Instituto de Pesca Marítima (incluindo a sua parte educacional e o Gabinete de História Natural).

 

1942 - O Gabinete do Instituto de Pesca Marítima recebe um esqueleto de baleia e se transforma em um Museu de História Natural.

 

1950 - O Museu de História Natural se especializa e se transforma em Museu de Pesca.

 

1974 - Tem início uma grande restauração do imóvel, para recuperá-lo da descaracterização arquitetônica que havia sofrido ao longo dos anos.

 

1978 - Reabre ao público com sua arquitetura original.

 

1979 - Inicia-se uma fase de intensa expansão de atividades que, até 1986, já havia colocado o Museu de Pesca entre as instituições museais de vanguarda do País.

 

1987 - O Museu é interditado ao público, em virtude do comprometimento, por cupins, de várias estruturas de madeira do edifício.

 

1996 - O Governo do Estado passa a considerar a reforma do Museu como uma das prioridades de seu programa e, através da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, as obras de reforma do prédio são reiniciadas.

 

1998 - O prédio do Museu de Pesca tem a sua reforma concluída e a Instituição é reaberta com um novo e arrojado projeto de exposições. Afastado da comunidade por mais de onze anos, o Museu deixou de contribuir para a formação de várias gerações, papel que deverá reassumir completamente.

 

2001 - Inaugurada a Ala Lúdica Petrobras, constituída por três salas: do Mar, do Barco e a Cabine do Capitão. Um recurso moderno para a difusão científica e a educação ambiental, e um passo significativo para o Museu de Pesca reconquistar o seu espaço junto à comunidade, especialmente junto aos jovens e às crianças.

 

 

(fontes de informação: Livro de J. Muniz Jr. De Escola de Aprendizes a Museu de Pesca; documentos internos do [...museu)]

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

Principais Atrações do Museu de Pesca
 
Sala dos Tubarões
 
Abriga diversas espécies de tubarões e arraias da costa brasileira. Os exemplares aqui expostos foram obtidos através da pesca comercial, ou são animais que “encalharam” em praias do nosso Litoral. Dois exemplares de tubarão Anequim (Isurus oxyrinchus), foram encontrados, em épocas distintas em praias da região e vieram compor o acervo do Museu.

Aqui também podemos conhecer a menor espécie de tubarão do mundo (o tubarão anão, com 25 cm de comprimento quando adulto), além de conhecer aspectos da reprodução dos tubarões e suas diferentes utilizações em nosso cotidiano.

Lula Gigante taxidermizada. Museu de Pesca de Santos (SP), junho 2004

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

Sala das Tartarugas

Abriga as diferentes espécies de tartarugas que ocorrem no Litoral Brasileiro. São expostas quatro, das cinco espécies que utilizam as praias brasileiras para desovar. A tartaruga Verde, a Cabeçuda, a Pente e a Oliva. As tartarugas que se encontram aqui no museu  são resultado de interações antrôpicas negativas, tais como a pesca com redes de emalhe e/ou ingestão de lixo jogado pelo homem no mar.

Sala dos Mamíferos Marinhos
 
Um esqueleto de Baleia Fin (Balaenoptera physalus) é a maior atração do Museu de Pesca. Esta ossada pesa 7 toneladas, apresentando um comprimento de 23 metros. A Baleia Fin vive aproximadamente 90 anos, sua gestação é de 11 meses e alimenta-se de Krill, um mini crustáceo encontrado nos Pólos. Esta espécie de baleia esta quase  extinta, devido a caça predatória e a poluição dos mares.

Leão marinho (Otaria flavescens). Pode medir 2,5 m o macho e pesar 300 Kg, e a fêmeas medir 1,8 m e pesar 144 Kg. Geralmente encontrados em águas geladas, sendo encontrado desde o norte do Peru a Oeste da América do Sul até o Sul do Brasil. São animais robustos, de focinho curto e orelha pequena.

Lobo Marinho Arctocephalus australis

Toninha Pontoporia brainvillei

Foca Caranguejeira Lobodon carcinophagus

Cachalote Anã Kogia sp.

Sala de Areias e Conchas
 
O Brasil possui mais de 8.000 km de litoral, com mais de 2.400 praias sinalizadas no Guia Quatro Rodas. Imagine uma coleção com amostras de areia de cada praia do litoral brasileiro. A coleção areias de praias brasileiras, em exposição no Museu, permite ao visitante conhecer um pouco deste fantástico universo. Mais informações podem ser obtidas através do site www.areiadepraia.com.br .Em paralelo, nesta sala, o visitante ainda poderá conhecer uma exposição de conchas com mais de 300 especimes em modernas estantes que valorizam cada concha em termos de visualização e informações.

Sala das Aves
 
Diversas aves (atobas, petreis, albatrozes, pinguins...) expostas, inclusive algumas pecas na forma de esqueletos, permitindo a visualização da complexidade da estrutura óssea das aves.

Ala Lúdica "Petrobras"

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

Ala Lúdica Petrobrás
 
integrada por três salas : a Sala do Mar, a Sala do Barco e a Cabine do Capitão, essa Ala funciona como o palco para um diálogo com as crianças, misturando realidade e fantasia. Onde o pensar, o sentir e o querer (a ação) podem se expressar. A equipe do Museu de Pesca e os patrocinadores do espaço acreditam que “apenas o envolvimento lúdico permite internalizar uma mensagem, um conteúdo, de maneira a transformar comportamentos, a concretizar um processo de educação para o bem do ambiente e da vida”. Esse espaço, que ocupa aproximadamente 25% da área de exposições do Museu, recebeu investimentos da ordem de R$ 250.000,00, sendo seu patrocinador master a Petrobras, que, mais uma vez, integrou-se a um trabalho em prol da formação da criança. Outros patrocinadores foram a Associação dos Amigos do Museu de Pesca e o próprio Governo do Estado de São Paulo.

A Sala do Mar apresenta um diorama com os seguintes ecossistemas representados:

Fundo Arenoso:

Entre espaços de rochas e lama, o fundo marinho se preenche de areia fina. Areia que as águas e os seres agitam, esvoaçam. Mas, logo em seguida, ele se acalma e se deita, formando uma cama indecisa, ao mesmo tempo friável e firme. Sobre essa cama alguns repousam, se enterram e outros nadam.

Tubarões,  raias, linguados e outros peixes. Acima da areia, lulas; sobre ela, caranguejos. Um aparente deserto com seus oásis de rochas colonizadas.

Um pedaço de chão marinho espaçoso e charmoso. Um campo de busca para o mergulhador curioso. Que pode ser você.

Costão Rochoso:

Onde as rochas, as beiradas de continentes e ilhas se precipitam no mar, surge o costão rochoso. Lugar de fixação, de resistência ao movimento das águas, de incontáveis espécies de vegetais e animais, o costão rochoso hospeda uma grande profusão de vida. Algas variadas, estrelas, anêmonas, moluscos, crustáceos e peixes (sargentinho, baiacu, moréia, garoupa, etc.) estão por aí. Ou aqui, sob os seus pés.

Reentrâncias, tocas, cavernas, tudo é duro substrato coberto pela intrincada teia da vida.

Praia Arenosa:

Sob as águas rasas, ou nem tanto. Sob a ação de ondas e surfistas. Com mais ou menos areia a mostra, dependendo da maré, a praia arenosa é típica da orla da baía de Santos.

Enquanto caminhamos conversando, nos banhamos ou olhamos o horizonte, robalos, sardinhas e camarões nadam e tatuíras, corruptos e moluscos se enterram e se protegem do movimento. Apenas engano imagino que a praia arenosa abriga pouca vida. O que olhos não vêem foi porque a Natureza escondeu. É só procurar. Aqui mesmo tem.

Manguezal:

Grandes áreas entre marés ocupadas por árvores de mangue e afins, vegetais especializados em viver em solo instável (lama) e sujeitos a água salgada. São árvores de muitas pernas a sombrear um ambiente rico em peixes, crustáceos (o caranguejo-uçá é o mais conhecido), moluscos bivalves (o sururu, a ostra) e outros bichos. O manguezal é irmão da praia, filhos da mesma união entre a terra e o mar.

Ala Lúdica "Petrobras", em foto de Marilena Rodrigues, em 2009

Imagem: Museu do Instituto de Pesca

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