Trecho da matéria
Conservatório Musical de Santos
Escola Superior de Arte Especializada - Fiscalizado pelo Governo Estadual
Rua 7 de Setembro n. 37 - tel. 4965 - Santos
- "O Conservatório Musical de Santos não presta..."
- Por quê?
- Os professores não são bons?
- Não prestam.
- Os programas são defeituosos?
- Não prestam...
Não diziam os motivos, mas os "entendidos" asseveravam que não prestava...
E não se limitavam a desfazer, davam-se ao trabalho de procurar os alunos da casa e
insinuar-lhes com insistência que deviam sair, o que seguidamente obtinham.
E assim os anos foram se passando. Em vão eram postos em prática os meios mais
eficientes e leais de reclame: audições primorosas, concertos gratuitos, nenhum pedido ao público, diligência e pontualidade nas aulas e cursos,
mestres de nomeada contratados para lecionar, às vezes, um só aluno!...
Persistia a maledicência: "o Conservatório não presta"...
Assim, entretanto, não entendeu o Conselho Nacional do Ensino, o qual, além de elogiar
o dr. Luís Wetterlé com a referência de "benemérito da ... (N.E.: trecho ilegível por falha de impressão)
brasileira", concordou em dar ao estado de São Paulo (ao primeiro em todo o Brasil) um inspetor na pessoa da exímia pianista Antonietta Rudge, como
medida preliminar à equiparação ao Instituto Nacional de Música, onde pontificam os grandes mestres da arte nacional.
Exigiu, entretanto, o Conselho, que a propriedade do Conservatório não continuasse a
ser de uma só pessoa física e que, para ser equiparado, passasse a constituir patrimônio de uma pessoa jurídica, eis que preenchidas estavam todas
as condições exigidas para a equiparação.
Foi nessa ocasião que o dr. Wetterlé, visando o bem dos alunos e desprezando ofertas
comercialmente vantajosas, passou o estabelecimento à direção de d. Antonietta Rudge e de I. Tabarin, e,
alquebrado por 6 anos de labor sobre-humano, foi procurar repouso em outras atividades.
Isso foi em fins de 1932.
O Conservatório fora reconhecido pelo governo federal como "uma escola de ensino
superior", dando assim boa resposta aos que ainda teimavam em dizer: "não presta"...
Um aspecto do concerto das diplomadas pelo Conservatório Musical de Santos, em 1937.
A soprano, sra. Nenê Ferreira Thahn, cantando a ária de Yara, da ópera Lo Schiavo,
de Carlos Gomes, acompanhada ao piano pelo maestro Tabarin
Foto publicada com a matéria
Um pouco de história do Conservatório de Santos
O estabelecimento de ensino artístico-musical existente nesta cidade sob a competente
e desinteressada atual direção do maestro I. Tabarin e Antonieta Rudge, começa, após 12 anos de sua fundação, a despertar o carinho a que fazem jus
a dedicação, honestidade e heroísmo dos que o vêm conduzindo.
Foram sem conta os obstáculos opostos ao desenvolvimento de uma casa de ensino que já
mereceu os mais significativos aplausos do Conselho Nacional de Ensino, e que sem favor é uma das instituições, no gênero, que, pela seriedade no
ensino, e pela alta competência do corpo docente, pela norma impecável estabelecida inicialmente e sempre mantida com o maior exemplo, é um dos mais
perfeitos modelos a se apresentar no Brasil como legítimo padrão de ensino artístico.
Foi em 1927 que o conhecido artista dr. Luís Wetterlé ideou e realizou a fundação do
nosso conservatório. A sessão solene teve lugar na noite de 29 de julho daquele ano, no salão do Clube Eden Santista. Foi
então lavrada a ata da fundação e que recebeu, entre aplausos, as assinaturas dos entusiastas da idéia e que enchiam o vasto recinto.
Os cursos foram então anunciados e deveriam ter início no dia 2 de agosto, daí a 3
dias. Surgiu, entretanto, a primeira dificuldade. O proprietário do prédio onde o estabelecimento iria funcionar, à Rua Rangel Pestana,
arrependeu-se... e os móveis chegados de São Paulo tiveram que aceitar o abrigo dos pobres (e isso era bem significativo) no edifício novo ainda não
inaugurado, do Albergue Noturno.
O fundador fazia, entretanto, empenho em que as coisas fossem efetivamente inauguradas
no dia 2. E na manhã do dia 2, com a presença do sr. prefeito e outras autoridades diversas, foram inauguradas no sobrado n. 43 da Rua Braz Cubas,
embandeirado e florido. p>Foram adotados desde o início os programas
do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, e teve o diretor, dr. Wetterlé, a preocupação máxima de se cercar de auxiliares de valor
artístico acima de quaisquer suspeitas. Entretanto, o número de alunos, que no fim daquele ano atingira a meia centena, decresceu sensivelmente na
reabertura das aulas em fevereiro de 1928. Não desanimou o administrador e, julgando que a melhoria de prédio viesse a influir no aumento do número
de matrículas, transferiu o conservatório para um palacete nas imediações da Av. Conselheiro Nébias.
Foi desastrada a mudança, pela dificuldade que oferecia no transporte dos alunos. No
mesmo ano houve nova mudança, para o excelente prédio em que, meses depois, se instalava a União Operária, nova proprietária, dando ao
conservatório, sob intimação judicial, o prazo de um mês para a mudança...
Seguia o estabelecimento a sua sina, e mais uma vez se transferiu, com graves despesas
e contrariedades de toda a sorte, para um salão da Praça Mauá, rejeitada a sua presença em novo edifício que na mesma
praça acabava de ser construído, porque o proprietário "não queria barulho"...
Da Praça Mauá foi novamente despejado pelo capricho da proprietária e teve pela última
vez (?) de colocar os pianos e móveis nos caminhões à procura de nova residência, onde ainda se encontra (à Rua 7 de Setembro).
Ao lado de tais contrariedades, outras e bem maiores foram aparecendo, fruto da
intriga e maledicência.
O Conservatório Musical de Santos, escola de arte, entra no seu 12º ano de existência.
Através das manifestações públicas e nas estações de rádio, puderam os santistas, de alguma forma, verificar o esforço que empenhou sua direção,
para dar a esse Instituto um espírito novo, obtendo assim a proficiência do seu ensino e o ato criterioso de sua direção, a cargo da virtuose
pianista Antonietta Rudge e maestro I. Tabarin.
Aparelhado como está, o Conservatório Musical de Santos espera, no presente ano,
dilatar ainda mais seu raio de ação. Todas as vocações musicais desta cidade devem procurar esse Instituto, certos de que terão uma segura direção e
um máximo de aproveitamento.
O Conservatório Musical de Santos é um centro de ensino e de arte que enche de justo
orgulho a cultura de S. Paulo e do Brasil.
Seu corpo docente, dos mais provectos, contando com nomes estelares no campo da
música, é de per si a melhor garantia do ensino professado em tão notável estabelecimento.
O corpo docente do Conservatório Musical de Santos está assim constituído: inspetora,
d. Antonietta Rudge (profª. honorária da Universidade Musical do Rio de Janeiro).
Professores: Savino de Benedictis (diretor da Academia Musical de São Paulo); Calixto
Corazza (solista do Departamento de Cultura de S. Paulo); Dino Fioretti (prof. da Academia Musical de São Paulo); José Lopes (diretor do Ginásio "Tarquínio
Silva"); I. Tabarin (ex-professor do Instituto Musical de Pádua - Itália - e professor da Academia Musical de S. Paulo). Professoras; dd. Irene
Carranca, Maria José Sanches Caldeira, Maria do Carmo de Oliveira, Judith Doubeck Lopes e Alcina de Almeida Tavares.
O Conservatório Musical de Santos, fundado em 1927 pelo dr. Luís Wetterlé, conta,
entre seus fundadores, os nomes saudosos do senador Azevedo Júnior e cap. João Salermo, e dos ilustres srs. drs. João Carvalhal Filho, José de
Freitas Guimarães, José de Sousa Dantas, M. Nascimento Jr., Ismael de Sousa, Victor de Lamare, cel. José de Andrade Maria Filho, Mariano Gomes e
outros.
Em 1929, o Conservatório Musical de Santos foi registrado na Diretoria de Ensino (São
Paulo), sob n. 182.
Em 1938, foi novamente registrado, na Superintendência da Educação de São Paulo, sob.
n. 366, nos termos do decreto 6.841, de 4/12/1934, e atualmente está sob a fiscalização oficial do Conselho de Orientação Artística de São Paulo,
conforme decreto publicado no Boletim Oficial de 8 de dezembro de 1938 p.p., sendo assim unificados, para todo o Brasil, os diplomas.
"Fotografia tirada durante a cerimônia da entrega de diplomas à turma de 1942 do
Conservatório Musical de Santos, Escola de Arte Especializada, reconhecida oficialmente pelo decreto do governo federal n. 9798, de 7 de dezembro de
1938. Essa solenidade foi realizada no dia 3 de dezembro de 1943, presidida pelo dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos,
prefeito municipal, tomando lugar à mesa d. Antonietta Rudge, diretora do Conservatório Musical de Santos; vigário Alfredo Sampaio, representante do
bispo diocesano; prof. Múcio Lobo da Costa, fiscal do governo; dr. Menotti Del Picchia, da Academia Brasileira de Letras, e paraninfo da turma;
prof. Dino Fioretti, professora Alcina Tavares, e Benedito Merlin, crítico da A Tribuna. Ao centro vê-se o Orfeão do Conservatório, sob a
regência do Maestro Tabarin"
Foto-legenda: revista santista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)
"Diplomandas da Turma de 1942, do Conservatório Musical de Santos, Escola de Arte
Especializada, reconhecida oficialmente pelo Decreto 9.798, de 7 de dezembro de 1938. Vê-se, ao centro, o dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos,
prefeito municipal; o dr. Menotti Del Picchia, da Academia Brasileira de Letras, paraninfo; o padre Alfredo Sampaio, representante do bispo
diocesano; e a profa. d. Alcina Tavares, rodeados pelas alunas, que receberam os respectivos diplomas no dia 3 de dezembro do ano passado."
Foto-legenda: revista santista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)
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