Adriana Ribeiro registrou todas as etapas da criação do método
Foto: Walter Melo, publicada com a matéria
MÚSICA
História revolucionária do Lavignac é contada em livro
Fundadora do conservatório faz um relato de sua experiência inovadora
Elcira Nuñez y Nuñez
Da Reportagem
Nos anos 50, uma escola começava a utilizar um modo
não-convencional para ensinar música. A base principal do aprendizado não era a teoria e sim a própria criança ou jovem, que com liberdade casavam o
som com o movimento. O caminho de sucesso percorrido pelo Conservatório Lavignac está registrado no livro A Música de Todos os Tempos - O Relato
de uma Experiência, da professora, musicista e psicóloga Adriana de Oliveira Ribeiro. O lançamento será hoje, às 16 horas, no Campus Dom Idílio
José Soares da UniSantos, Sala 201.
"Somei as vivências, experiências principais desse tempo todo", conta Adriana, que
começou a escrever a obra há sete anos. A idéia era antiga e ganhou força através de Gláucia Leal, uma aluna do Lavignac que foi estudar piano na
Europa e atualmente é diretora de um conservatório em Tomar, Portugal.
"Ela me disse que havia necessidade de uma novidade para fugir do tradicional e
perguntou por que eu não fazia um relato da experiência do Lavignac. Seu pedido foi um reforço e o que era para ser um folheto se transformou em
livro", conta a autora.
Com 287 páginas, capa e ilustrações de Nívea Domingues Alves Francisco, a publicação,
da Editora Universitária Leopoldianum, tem prefácio de Gilda Martins de Figueiredo e orelha assinada por Gilberto
Mendes. Reúne ainda peças de iniciação pianística com explicações e terá lançamento também em Campinas e em Portugal. "Não é um livro teórico, é
fácil de ler, qualquer pessoa entende. Ao escrevê-lo, coloquei o prazeroso e o verdadeiro que aconteceram, coisas que me tocaram o coração. Reúne
muitos casos e depoimentos de pessoas que passaram pelo Lavignac e estão em áreas diversas, não só musical".
Relembrar a trajetória do conservatório foi uma experiência emocionante. "Mexe muito
com a gente, com a emoção, ao recordar a vivência de como foi difícil dar um enfoque diferente no ensino musical, tirando do centro os princípios
teóricos e em seu lugar colocando a pessoa e suas potencialidades.
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Não é um livro teórico. Pode ser entendido por todos
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Incentivo de Pagu
- Nesse remexer do baú de memórias, Adriana lembrou também das palavras de incentivo e encorajamento de Patrícia
Galvão, a Pagu. "Nos anos 50 não se falava em expressão corporal. As aulas foram ganhando gestos
teatrais e eu não entendia de teatro. Resolvi procurar a Pagu, que escrevia uma coluna em A Tribuna. Eu a conhecia do teatro amador,
dos festivais".
Adriana lembra que ficou aguardando uma censura de Patrícia por entrar em seara
alheia: o teatro. "Mas nada disso. Ela ficou muito interessada, pediu detalhes de como as crianças casavam movimento com o som e disse-me que fosse
em frente e não imitasse ninguém, que eu havia encontrado o caminho. Para ela, o entrelaçamento da arte da palavra, do corpo e da música era o
teatro do futuro".
Mas nem tudo foi fácil para Adriana e a sócia Dulce Fonseca Dias Pinto, já falecida.
"Uma escola de música que começa a mexer o corpo, na década de 50, era revolucionária. O método causou polêmica, muitas avós achavam que não se
estava ensinando nada. A criança era o reforço para continuar".
Imagem: reprodução, publicada com a matéria
Em
busca de mais conhecimentos para lidar com a cabecinha dos pequenos, Adriana foi estudar Psicologia. "Atendia crianças com problemas e, durante uma
cena que tinha como tema um cachorrinho perdido na floresta, uma garotinha chorou muito. Perguntei à mãe se a menina havia perdido algum bicho de
estimação e ela respondeu que não. No dia seguinte, recebi um telefonema do psiquiatra da menina - eu não sabia que ela se tratava com psiquiatra,
pois naquela época os pais tinham vergonha de médicos de cabeça. Ele queria saber que técnica havia usado. Expliquei que a cena do
cachorrinho havia mexido com suas sensações primitivas e ele disse que esperava essa catarse há tempos".
Foram essas experiências que fizeram com que psicólogos e
pediatras recomendassem música para o equilíbrio da criança. "Umas são inquietas, nervosas, sentem ciúme do irmão ou a perda de afeto da avó, e
durante as aulas vão elaborando a perda", explica Adriana, que faz questão de ressaltar: "A escola não é de terapia, o propósito é musical. Mas
acontecem pequenas surpresas porque se trabalha a emoção. A música dá o equilíbrio".
O endereço do Conservatório Lavignac é Av. Conselheiro
Nébias, 300, telefone 3273-1000, e o livro pode ser encontrado nas livrarias Loyola (da UniSantos), Realejo Livros, Livraria Martins Fontes e Pagu. |