Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0236f.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/07/04 11:55:32
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - INCLINADOS...
Prédios inclinam mais que Pisa... e caem! (5)

Leva para a página anterior

Devido às características do subsolo santista e à imprevidência de alguns construtores, muitos edifícios sofreram fortes recalques, ao ponto de inclinarem mais que a famosa torre italiana da cidade de Pisa. Os procedimentos para a recuperação desses prédios inclinados, aliás, foram estudados pelos técnicos italianos encarregados de recuperar aquela torre medieval européia. Outros prédios nem chegaram a se inclinar: desabaram durante a construção.

A questão dos recalques foi abordada em página Web produzida pela Universidade de São Paulo (USP) em 2002, Deslocamentos de apoio, parcialmente reproduzida abaixo (a parte não citada se refere a outro tipo de deslocamento de apoio: o terremoto):

Recalques de apoio

Torre de Pisa

O caso mais clássico de recalque de apoio é sem dúvida o da Torre de Pisa. Sua construção foi iniciada em 1173, e terminada em 1350; desde o início, a torre apresentou recalques maiores de um lado que de outro, que levaram-na a inclinar-se.

Várias tentativas foram feitas para solucionar o problema no curso da história, sempre sem sucesso. Em 1990, porém, estando  o topo da torre mais de 4,5 m fora do prumo e continuando a torre, que possui 58,5 m de altura,  a inclinar-se a uma taxa de 1,2 mm por ano, foi constituída mais uma comissão de especialistas para salvá-la. A solução proposta por esta comissão e executada a partir de 1997 foi a de, utilizando sondas especiais, retirar solo debaixo do trecho do bloco que havia recalcado menos, fazendo com que apenas esta região viesse a afundar e assim a inclinação da torre viesse a diminuir.

Este procedimento foi coroado de êxito, e, em junho de 2001, o desaprumo do topo da torre já havia diminuído em 40 cm. Em dezembro de 2001, a Torre de Pisa, que, por razões de segurança havia sido fechada à visitação pública em 1990, pôde ser reaberta para visitas.

A Orla Santista

Foto: Dênis Santinelli Augusto - 1999, publicada com o texto

No Brasil há também um grande exemplo do problema de recalques de apoio: os prédios da orla santista. Quem já foi para Santos ou viu alguma foto dos edifícios inclinados tem uma boa idéia de como o deslocamento dos apoios pode afetar uma estrutura. Décadas se passaram com os prédios a se inclinarem, e, assim como com a Torre de Pisa, várias propostas de correção foram feitas para reverter essa situação.

Sabe-se que a origem do problema é a deficiência do solo de Santos, formado por uma camada superficial de areia que, por sua vez, recobre uma extensa camada de solo argiloso, muito compressível. Tal formação do solo não suporta  a fundação direta de prédios com mais de dez andares. Nas décadas de 1950 e 1960 foram construídos, na orla santista, inúmeros edifícios com mais de dez andares apoiados em fundações diretas. Muitos destes prédios passaram a inclinar-se, e hoje há cerca de 100 edifícios inclinados na orla de Santos.

Várias propostas para a correção deste problema vêm sendo  feitas recentemente.Um grande exemplo é a solução aplicada em um dos prédios mais famosos de Santos, o Núncio Malzoni.

Imagem: Sayegh, S., Efeito solo, Téchne, março/abril 2001, p.40, publicada com o texto
Construído em 1967, com 17 andares e 55 m de altura, o Núncio Malzoni teve suas fundações diretas apoiadas em uma camada de areia fina e compacta com 12 m de espessura apoiada sobre uma camada de 30 m de argila mole. Os recalques ocorridos neste edifício levaram-no a sair 2,10 m do prumo (como se pode observar na figura ao lado).

O projeto de reaprumo do prédio, desenvolvido pelos professores Carlos Eduardo Moreira Maffei, Heloísa Helena Silva Gonçalves e  Paulo de Mattos Pimenta, do Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da USP, considerado inédito no mundo, foi visitado por engenheiros de diversos países como México, Canadá e Japão, e até por um dos engenheiros responsáveis pela solução adotada na Torre de Pisa, que veio conhecer a técnica utilizada.

Hoje em dia, o prédio está totalmente reaprumado. O projeto que conseguiu esse feito foi realizado em três etapas:


1ª etapa
Foto: Sayegh, S., Efeito solo, Téchne, março/abril 2001, p.40, publicada com o texto

1a etapa: implantação de fundações profundas com a execução de oito estacas de cada lado do edifício. Com diâmetro variando de 1,0 a 1,4m, estas estacas têm uma profundidade média de 57,0 m e atingem um solo residual resistente e seguro situado abaixo da camada de argila mole. Na foto, pode-se observar a camisa metálica utilizada para conter o solo durante a execução das estacas.


2ª etapa
Foto: Sayegh, S., Efeito solo, Téchne, março/abril 2001, p.40, publicada com o texto

2a etapa: foram executadas oito vigas de transição com cerca de 4,5 m de altura para receber os esforços dos pilares e transmiti-los às novas fundações.


3ª etapa
Foto: Sayegh, S., Efeito solo, Téchne, março/abril 2001, p.40, publicada com o texto

3a etapa: quatorze macacos hidráulicos acionados por seis bombas, instalados entre as vigas de transição e os novos blocos de fundação, foram utilizados para reaprumar o edifício. Os vãos em que estavam os macacos foram preenchidos com calços metálicos e posteriormente concretados.

A fachada lateral esquerda do edifício foi levantada 45 cm e a fachada posterior, 25 cm, levando o prédio a ficar novamente no prumo.

Reaprumado, o Núncio Malzoni repousa hoje sobre as novas estacas, que transmitem suas 6500 tf ao solo residual seguro e resistente situado a cerca de 60 m de profundidade.


Finalização
Foto: Sayegh, S., Efeito solo, Téchne, março/abril 2001, p.40, publicada com o texto

Finalizando, nota-se que a Secretaria de Obras e Serviços Públicos da Prefeitura de Santos divulgou que irá encaminhar à Câmara Municipal um projeto de lei que estabelece normas para o monitoramento dos prédios com inclinação e exigências para a recuperação das edificações comprometidas. "Cada prédio tem uma inclinação perigosa, e para cada inclinação existe uma solução específica", afirma Maffei.

Leva para a página seguinte da série