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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas - ROSÁRIO
As muitas histórias da Igreja do Rosário (10)

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Este material - fruto de pesquisas e entrevistas feitas pelo autor - já esteve publicado em páginas na Internet mantidas pelo professor de História e pesquisador santista Francisco Carballa, sendo por ele cedido em 2007 para divulgação em Novo Milênio, quando da extinção do site da igreja:
 
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Francisco Carballa


PADRES IMPORTANTES PARA A IRMANDADE DO ROSÁRIO

Mons. Moreira - Muitos, ao subirem a escadaria do Monte Serrat, sempre se deparam com o mesmo nome - Caminho Mons. Moreira -, que intriga os menos informados: quem foi? O que fez?

Seu nome completo era monsenhor José Benedito Moreira, nascido em Portugal no ano de 1833 no Alentejo e faleceu em 1924 num hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio de Janeiro. O bom capelão da Beneficência Portuguesa santista morava em humilde cômodo e rezava missas na pequena capelinha do hospital, que tinha por orago Santo Antônio, cuja imagem barroca ainda hoje se conserva na instituição, junto com o altar de madeira que está em uma das salas do velório.

Ficava esse hospital outrora localizado no bairro do Paquetá e tinha como vizinho o cemitério, separado pela Rua Amador Bueno; sua frente era para a Rua João Octávio, onde hoje está o Moinho Paulista, e suas palmeiras imperiais chegaram até o final dos anos 60.

Professando os votos em Beja (Portugal), partiu para Goa (antigo enclave português na Índia), ao completar 30 anos de idade, onde pregou o Evangelho por muito tempo; foi para a Austrália e depois para o Japão, onde sofreu um naufrágio. Salvo, foi para a Califórnia. Finalmente veio para o Brasil na época do fim da guerra do Paraguai, desembarcou no Rio de Janeiro e hospedou-se no Mosteiro de São Bento; seguiu para Petrópolis, onde lecionou para os filhos da princesa Isabel as matérias Inglês, Português, Latim e Filosofia. Quando foi proclamada a República, mudou-se para Santos.

Curiosamente, após cumprir seus deveres de honrado sacerdote de Cristo, pegava um bonde do Paquetá para o Largo do Rosário, onde lecionava Inglês e Português na escola existente no consistório da Igreja do Rosário dos Pretos, e ainda, depois de beber água no Itororó, subia o barrento caminho até o alto do Monte Serrat, onde celebrava missa.

Segundo sua biografia, honrava com afinco seus compromissos de sacerdote, merecendo o carinho dos pacientes e o respeito dos demais santistas. Sua descrição era a de um homem miúdo, longas barbas grisalhas, batina preta sempre alinhada, chegou a receber o título de sócio honorário do hospital.


Mons. Luiz Gonzaga Rizzo - Nasceu em 7 de abril de 1886 em Rutino, Itália, e sua família emigrou para o Brasil, radicando-se em Santos. Sua família era muito religiosa; assim, por vontade própria, ingressou no Seminário Provincial de São Paulo em 1910, sendo ordenado por dom Duarte Leopoldo e Silva e designado para Santos, onde exerceu cargos de importância para a diocese: por duas vezes foi escolhido como vigário capitular na sede vacante do bispado e por 15 anos foi vigário geral e diretor da Obra das Vocações Sacerdotais, sendo o responsável pela instalação do seminário de São José em São Vicente.

Memorável irmão e capelão benemérito da I.N.S.R., que não permitiu a venda do terreno e muita menos sua demolição, como estava evidentemente decretada para a remodelação total do largo do Rosário, enfrentou a Comissão Sanitária de Santos, reconstruindo com os poucos proventos da Irmandade a fachada e seus altares (que, de madeira, passaram para mármore, pois as medidas de higiene exigiam a renovação de tudo ou se possível de todos).

Até o fim de sua vida foi um notável sacerdote, sempre festejando a oraga, pregando, batizando e ensinando o evangelho com ardor, fazendo a primeira eucaristia das crianças, realizando os casamentos atendendo as confissões e encomendando os membros falecidos da irmandade, muito querido pelos irmãos do Rosário, inclusive seu rico patrimônio artístico colonial estava preservado até os anos 90 devido ao seu zelo pelas coisas da casa de Deus.

Não foi fácil para ele enfrentar os desentendimentos das irmandades abrigadas na igreja. Elas muitas vezes esqueciam sua condição de estar usando um espaço que não era seu, ocorrendo desentendimentos que rapidamente eram debelados pelo bom humor do padre, sem constrangimento para ambos os lados e chamando os envolvidos a razão. Ele ainda tinha a grande responsabilidade de cuidar de uma matriz, no período em que a igreja foi cedida para esse fim devido à demolição da antiga igreja da Praça da Republica.

Faleceu contando 42 anos de sacerdócio, às 6 horas do dia 25 de março de 1952, quando foi celebrada missa de corpo presente na casa de sua família na Rua Tolentino Filgueiras, 139, sendo transladado para a Catedral, e depois foi sepultado no cemitério do Paquetá.


D. Idílio José Soares, em sua primeira missa, ao lado de Monsenhor Rizzo, 
em 28 de outubro de 1945, no interior da Igreja do Rosário
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa


Frei Rafael Maria Marinho - Natural da Paraíba, ingressou na Ordem do Carmo no Convento do Recife, onde professou seus votos em 1942. Veio para a cidade de Santos em 1952, promoveu a primeira restauração dos altares da igreja com folhas de ouro, e de seu telhado, mantendo o patrimônio do convento intacto até o dia de seu falecimento. Conhecendo a arte do bordado, efetuou verdadeiras obras de arte em palas de cálice, casulas góticas e romanas que ainda hoje existem na igreja, toalhas de altar e o primeiro manto oficial de Nossa Senhora do Monte Serrat.

Por várias vezes esse frade rezou missas sempre de última hora, na igreja do Rosário, a pedido dos irmãos, no período que não havia capelão, e do mesmo modo que o monsenhor Moreira subiu durante muitos anos os degraus da escadaria do Monte Serrat; mesmo sofrendo com problemas de circulação nas pernas, pensava nos fiéis de Deus, também atendendo à sua forte devoção com Nossa Senhora e Jesus Eucarístico, pois ainda tinha fôlego para celebrar no convento do Carmo suas missas cotidianas.

Nos anos 1990, sendo o dia 8 de setembro um domingo, ao passar a procissão pelos fundos do Carmo, ele convidou a assembléia a um momento de silêncio e oração durante o final da comunhão e assim se manteve a igreja durante o toque de sinos que anunciavam festivamente Nossa Senhora, saudando a passagem da procissão pela Rua General Câmara. Ao cessar o barulho, ele finalizou a homilia e junto ao povo foi para as escadarias da Prefeitura renovar a consagração junto a população santista.

Com espírito simples, cuidava de várias plantas, com as quais enfeitava o presépio da igreja e seus altares, igualmente cuidava de muitos animais entre eles um gato siamês de nome Kiko, que mandou castrar para justificar o celibato do mesmo. Ao ocorrer o falecimento desse religioso (enquanto dormia, no Convento do Carmo de Santos, em 17 de fevereiro de 1998), o animal teve que ser retirado à força dos pés de seu corpo, não querendo, até o último momento, se separar - como tantos fiéis - de seu querido frei.

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