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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Hotel
Histórias do antigo Parque Balneário (3)

Local escolhido para casamentos e muitos outros eventos sociais...
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O elegante hotel da família Fracarolli, situado no final da Avenida Ana Costa, no Gonzaga, era usado para festas e recepções da alta sociedade santista, até ser demolido para reaproveitamento da área num complexo com prédios residenciais, centro comercial e um edifício hoteleiro moderno. O final do antigo Parque Balneário Hotel foi registrado pelo antigo jornal Cidade de Santos, nas páginas 1ª e 20 da edição de 1º de julho de 1973:


PROGRESSO DERRUBA O BALNEÁRIO - Aos poucos, o progresso vai destruindo os velhos e tradicionais prédios existentes na cidade, para substituí-los por outros, à altura do nosso desenvolvimento. Entre esses está o Parque Balneário
Foto e legenda publicadas com a matéria, na primeira página do jornal

Do Parque fica só a saudade

A cidade vai se transformando aos poucos e, nessa mudança, também vai perdendo ou ganhando coisas. Santos está perdendo agora um dos monumentos mais significativos da sua tradição de cidade hospitaleira: o Parque Balneário Hotel. Poucos são aqueles que se conformam com essa perda - necessária talvez. Depois de muitas afirmações, vendas, desmentidos e documentos assinados, o velho casarão cinza começou a ser demolido.

E, com ele, caem também testemunhas de um passado recente. Antes mesmo que o primeiro tijolo fosse arrancado de suas estruturas, a saudade já aparecia no coração de velhos e jovens - e não poderia ser diferente. O velho Parque Balneário está ligado a muitas histórias, a fatos da vida de muitas pessoas e ao próprio bairro do Gonzaga, que tinha, na tradição do hotel, um símbolo.

Com a demolição do Parque, que os santistas vão presenciar, novos fatos surgirão, nos cinco meses estipulados para esse serviço e, de transformação radical, restarão apenas lembranças naqueles que viveram com o Parque, que o idealizaram, que o ajudaram na sua construção e, mesmo, naqueles que estavam habituados somente a olhá-lo por fora, a admirá-lo.

A cidade está mudando e, com isso, perdendo um dos seus principais objetos de arte, pois, como tal, ele foi construído: aos poucos, com carinho, dedicação e bom gosto. O bairro do Gonzaga perderá um símbolo, e a cidade, uma das provas de sua tradição.

O início - O começo do hotel foi simples, mas aprimorado durante 34 anos, e quando essa etapa terminou, o Parque já fazia parte da vida da cidade. Em 1912, sua história teve início, embora o prédio já fosse utilizado para a exploração da hotelaria, pelos antigos proprietários. Nessa época, o hotel não passava de um bangalô, em um local pouco habitado, onde só existiam dunas e caminhos feitos na lama.

Foi comprado então, por 25 contos de réis, por dois italianos - João Fracarolli e Angelo Poci (este, dono do jornal A Fanfulla), que pretendiam instalar no lugar o hotel mais luxuoso do País. Pouco depois, essa sociedade foi desmanchada e formada uma outra, desta vez com dois irmãos: novamente João Fracarolli e Henrique Fracarolli. A família possuía vários imóveis na Itália e, para construir o Parque Balneário, começou a vender algumas dessas propriedades.

A primeira parte a ser construída foi aquela que corresponde hoje aos fundos do hotel, justamente por onde começaram recentemente os primeiros trabalhos da demolição. Todos os objetos usados no acabamento geral foram importados: o mármore, de Carrara; os cristais dos lustres, portas e janelas, da Boemia; as maçanetas e fechaduras, assim como as pastilhas do chão das varandas e dos terraços (de porcelana), trazidas da Inglaterra, além dos vitrôs, importados da Bélgica.

E o Parque Balneário foi se formando aos poucos, inclusive seus jardins, que ainda hoje conservam a mesma tranqüilidade. E essa será a única recordação concreta que ficará do hotel, pois o Complexo Turístico que será construído em seu lugar ficará com as mesmas árvores e plantas, de certa maneira, também tradicionais. O trabalho iniciado pelos dois irmãos Fracarolli foi intensificado pelos descendentes da família.

E, em 1946, ele estava pronto, já com a parte voltada para a Avenida Ana costa, com a conhecida escada de mármore, além do prédio central. Já tinha vida própria e o jogo do carteado, embora proibido nesse mesmo ano, dava-lhe uma movimentação diferente. A fase áurea durou até 1957, aproximadamente, quando o desenvolvimento imobiliário da cidade começou a causar prejuízos para o hotel.

Em 1964, ele era vendido ao Santos Futebol Clube, pois as despesas de manutenção eram muito altas para a família Fracarolli. Mesmo vendido, não seria modificado; mas, novas dificuldades financeiras fizeram, depois de muitos acertos e tentativas, que o Parque fosse revendido a um grupo financeiro santista, que promete construir no local um empreendimento de acordo com as tradições da cidade e com tudo aquilo que o Parque Balneário Hotel representou - essa é a esperança de todos.


Foto publicada com a matéria

Momentos históricos - Durante sua existência, pouco mais de 60 anos, o casarão cinza presenciou momentos importantes. O objetivo da família Fracarolli havia sido alcançado: o local era o ponto de encontro da sociedade paulista, mas recebia também diversos visitantes ilustres, vindos de vários Estados e países. Em 1928, quando já centralizava a vida social da cidade, foi realizado um jantar especial, para o lançamento oficial da candidatura de Washington Luiz à presidência da República, pois ex-presidente brasileiro também era hóspede do hotel, nessa época.

Momentos como esse foram repetidos: no hotel do Parque hospedaram-se presidentes, ministros, autoridades do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Entre eles, estiveram aqui Getúlio Vargas; o rei Alberto, da Bélgica; general Augustin Justo; Epitácio Pessoa e Gago Coutinho. Esses são alguns dos fatos que provam a tradição e a importância do Parque Balneário Hotel - citado em todos os trabalhos e assuntos que se referem à história da cidade.

É muito fácil entender porque o Parque deixará saudade e porque muitos lamentam o seu desaparecimento. No entanto, as transformações e o progresso que a cidade busca costumam sacrificar coisas que pareciam inatingíveis, permanentes. Tudo isso tem um preço e, desta vez, o Parque Balneário pagou.


Foto publicada com a matéria

Os planos para o novo empreendimento foram destacados nesta notícia de A Tribuna, publicada na edição de 9 de junho de 1974 (cópia enviada a Novo Milênio pelo produtor artístico Eduardo Fernandes):


Foto publicada com a matéria

Doneux garante que o novo Parque fica pronto em 3 anos

Dentro de três anos, aproximadamente, estarão concluídas as obras do novo Parque Balneário, segundo informações do empresário Cláudio Doneux, que se tornou o único proprietário do empreendimento, ao adquirir, da Elacap, a participação de 50% que esta empresa possuía. Diz ainda o empresário que serão gastos cerca de Cr$ 160 milhões para a construção do prédio.

Nele serão instalados um hotel, conjuntos de escritórios e um shopping center. Cláudio Doneux faz questão de salientar que os jardins do Parque serão mantidos, num total de 3.300 metros quadrados. "Porém, será um jardim movimentado, com uma cortina de água caindo ao lado direito e percorrendo o jardim, formando dois lagos".

Serão incluídos no projeto mais cinco jardins suspensos, num total de 3.400 metros quadrados. A garagem terá capacidade para cerca de mil veículos, com 20.300 metros quadrados; o shopping center terá 28 mil metros quadrados; a parte do hotel 12.500, com 182 apartamentos e suítes e 12 mil metros quadrados serão ocupados pelos escritórios.

Pesquisa domiciliar – Para projetar o shopping center, foi feito estudo de viabilidade que incluiu também a parte de hotel do empreendimento. "Pouco antes do carnaval, o Instituto Gallup visitou 2.083 domicílios, pesquisando o hábito de compras, gastos em roupas, alimentação, preferências por locais e perguntando sobre as vantagens de um shopping center etc. Posteriormente, divulgaremos esta pesquisa junto ao comércio", afirmou o empresário.

Não vai vender – Tudo no novo Parque Balneário será alugado. "A idéia – diz Cláudio Doneux – é de não vender nenhum metro quadrado do empreendimento que pertencerá à empresa Parque Balneário Center Hotel e Turismo Ltda., uma empresa criada em virtude do vulto do negócio.

Segundo ele, já existem quatro propostas para financiamento da obra. De um grupo francês, de um inglês e dos bancos Nacional de Habitação e Nacional do Desenvolvimento Econômico.

Esta notícia foi publicada no antigo jornal Cidade de Santos, na edição de 1º de julho de 1977 (cópia enviada a Novo Milênio pelo produtor artístico Eduardo Fernandes):


Foto publicada com a matéria

Do velho Balneário, só ficou a história

Um hotel que começou num bangalô, tornou-se centro da elite cafeeira, hoje não existe mais. É o Parque Balneário. Em seu lugar, surge um shopping center

Até o final deste mês, os três prédios residenciais que integram o conjunto denominado "Shopping Center Parque Balneário" deverão ser inaugurados. E, segundo as previsões dos responsáveis pela obra, em setembro, as lojas já poderão ser ocupadas.

Isso inicia uma nova fase no imenso terreno de 12.700 metros quadrados pelo qual dois italianos, João Fracarolli e Angelo Pecci, pagaram 25 contos de réis no começo do século (N.E.: século XX) e onde, entre dunas e lama, foi construído um bangalô.

Mas a história do Parque começa em 1926, quando a Companhia Construtora de Santos, presidida pelo economista e empresário Roberto Simonsen, iniciou as obras do luxuoso Balneário, que depois de pronto passou a receber a elite cafeeira paulista, num tempo em que em torno dela gravitava toda a economia nacional.

Auge e declínio – O Parque Balneário passou a centralizar a vida social de Santos e lá ficaram hospedadas as figuras mais proeminentes daquele tempo, entre elas Epitácio Pessoa, Gago Coutinho, conde D'Eu, Venceslau Braz, rei Alberto da Bélgica, general Augustin Justo, general Craveiro Lopes, presidente de Portugal, o escritor Blasco Ibañez e mais tarde, no início de seu declínio, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Ademar de Barros.

Em 1928, foi lançada oficialmente a candidatura de Washington Luiz à presidência, durante um jantar especial, quando o ex-presidente estava hospedado no Parque. Também eram apresentados shows com gente famosa para animar os milionários que tentavam a sorte no cassino. Jimmy Durante e Maurice Chevalier foram dois dos artistas que mais fizeram sucesso em suas apresentações.

Mas esse período de efervescência começou a desaparecer com a proibição do jogo no país em 1945, por determinação do presidente Eurico Gaspar Dutra. Antes, o jogo só havia sofrido uma breve interrupção, durante o governo de Washington Luiz (1927/30).

A partir de 1957, com o crescente desenvolvimento imobiliário em Santos, o luxuoso hotel começou a dar prejuízos e em 1964 era vendido ao Santos Futebol Clube. O Santos comprou o Parque por 6 milhões de cruzeiros, quando ainda estava numa boa fase financeira, apesar de não ter liquidado a compra totalmente. Rapidamente, a diretoria do Santos percebeu que não havia feito uma boa compra e passou a alugar o terreno para a instalação de parques de diversão, enquanto promovia bailes. Já em agosto de 1967, o presidente Athié Jorge Couri anunciava pelos jornais que um grupo liderado por Frank Sinatra estava interessado em adquirir o parque.

A nova fase – Porém, somente em outubro de 1972 apareceram os verdadeiros interessados em comprar o deficitário Parque Balneário, após um período de litígio na justiça entre o Santos Futebol Clube e a família Fracarolli. O preço estipulado foi de 16,8 milhões de cruzeiros divididos entre o Santos e os Fracarolli, sendo que as três empresas interessadas cobriram cada uma um terço da quantia. Formava-se assim a empresa Nova Santos, composta pelas firmas Metromar, de Cláudio Doneaux e Modesto Villanova; Elacap, de Abdalla Elias, Elias Akaui e Oscar Capelache e Exata, de Dâmaso Montero Esteves e Paulo Viriato Correia da Costa.

Exatamente às 14 horas do dia 15 de junho de 1973, vinte operários iniciavam os trabalhos de demolição e, alguns meses depois, eram leiloados 500 lotes de objetos que pertenceram ao Parque. Era o fim do majestoso hotel, que havia sido construído em sua grande parte com material importado: escadas de mármore de Carrara, da Itália; vidros das portas, janelas e lustres de cristal da Boêmia; as portas e as armações das janelas, de puro jacarandá; as maçanetas e as fechaduras, da Inglaterra; as pastilhas do chão, dos terraços, cozinhas, banheiros e varandas de porcelana, da Inglaterra; os vitrôs das portas, da Bélgica; o alto das paredes e colunas com desenhos cobertos com lâminas de ouro, além de seus salões imensos decorados com pinturas florentinas nas paredes e nos tetos.

A xícara e a marca:


Xícara em porcelana com a marca do Parque Balneário Hotel, usada no estabelecimento. Produzida no Paraná pela empresa Porcelana Steatita

Fotos: acervo de Eduardo Fernandes, enviadas a Novo Milênio em agosto de 2013

Uma ficha de jogo do Parque Balneário:


Foto: acervo de Eduardo Fernandes, enviada a Novo Milênio em 23 de setembro de 2013

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