Na primeira eleição realmente livre após o
golpe, Santos escolheu remar contra a maré, em 1968. Não só votou na oposição à ditadura, como elegeu o primeiro prefeito negro de uma cidade
média brasileira, Esmeraldo Soares Tarquinio de Campos Filho. Entre a eleição e a posse em março de 69, o Brasil vive o golpe dentro do golpe,
que levaria à edição do Ato Institucional nº 5, o AI5.
Tarquinio foi cassado, seu vice, Oswaldo Justo, renunciou em solidariedade, e veio a intervenção militar e depois a decretação da cidade
como "área de segurança nacional", prefeitos nomeados pelo Conselho de Segurança Nacional. Santos torna-se, então, a capital dos políticos com
mandatos extintos e com direitos políticos suspensos por dez anos. Entre eles estava, por exemplo, Mário Covas e Rubens Paiva, que teve menos
sorte que o primeiro e morreu sob torturas.
Foi um período de temores intensos em que a liberdade de reunião e de expressão eram sinônimos de "subversão à ordem". Lutávamos,
também, ao nosso modo e no que nos competia. Por exemplo na denúncia, em 1967, durante a presidência de Antonio Augusto Arantes, da
implantação dos sistema de livre escolha pelo INPS, que aglutinou os antigos IAPs. "Isso não trará os benefícios anunciados, pelo contrário,
colocará em risco todo o sistema público de saúde", alertávamos contra a corrente, numa quase premonição.
Era 1969, 30 anos de vida associativa. José Goulart Penteado dirigia a AMS. Cirurgião e angiologista competente, ele realizou na sede o
Congresso Regional da Associação Paulista de Medicina, com 314 participantes. Outra providência tomada em sua gestão foi a reforma dos
estatutos, ampliando o mandato da diretoria para dois anos.
Foram dezesseis longos anos até o fim da intervenção em Santos, a primeira eleição livre somente aconteceu em 1984, na ebulição das
"Diretas-Já". Durante este tempo, Santos viu esvaziar-se muito de sua importância econômica, política e cultural, não apenas em razão da
ditadura, naturalmente, mas com uma boa ajuda do divórcio entre a população e seu governo. O resultado da eleição mostrou uma cidade
"ranheta", como anotou o editorial do jornal Folha de S. Paulo, que elegeu para prefeito, Oswaldo Justo, o vice que renunciara em 69, tendo
como vice, o filho de Esmeraldo Tarquinio, que morrera dois anos antes. "Justiça histórica", dizia-se.