Quem iniciou a década de 60 foi o cirurgião e
urologista Alcebíades Salles, que realizou na sede além das reuniões científicas, recitais de piano, violão e apresentação de uma peça
infantil do médico Oscar Von Pful. Em outubro desse ano o povo teve direito ao último voto direto antes da ditadura.
Quando o navio Uruguay Star deixou a barra de Santos em 1961, levando o ex-presidente Jânio Quadros, ficou no cais mais que aquela
multidão atônita e órfã de seu líder meteórico. Ficou um conflito aberto. A cidade pararia nos dias seguintes numa greve que só seria
encerrada com a posse do vice-presidente João Goulart. Santos, que era para aquela época o que o ABC foi para a década de 80, tornou-se estão
a "cidade vermelha", "a república sindicalista", rotulada pela mídia e pelos líderes conservadores.
Não interessava que os comunistas, na verdade, não tivessem a força suposta ou que sindicato ou associação algum guardasse as tais
"armas de guerra" de que falavam os jornais. Mas Santos dividia-se nas ruas. Desmoronava, pelo medo, a unidade entre trabalhadores e classe
média que perdurara, entre tapas e beijos, por quase três décadas.
O prefeito eleito em março de 1961, Luiz La Scala Júnior, sofreu um acidente estúpido no dia de sua diplomação, em 4 de abril, agonizou
por 80 horas na Santa Casa e morreu. Dez dias depois tomou posse o vice, José Gomes, já tido como "aliado dos comunistas", o que consolidou a
imagem "subversiva" da cidade junto aos golpistas que já planejavam o que viria em 1964. Confrontavam-se, de forma cada vez mais ríspida, os
adeptos das "Reformas de Base" e os da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade". Santos freqüentava mais os grandes jornais que a maioria
das capitais brasileiras.
A política também passou a fazer parte das conversas antes mais amenas na Associação dos Médicos, agora na presidência de Heitor
Moreno. Inovando na atividade social ele organizou sessões cinematográficas para os sócios e tentou iniciar um serviço de refeições rápidas na
sede, mas sem obter o movimento esperado. Em sua gestão a AMS recebeu um plano de credenciamento para seus associados da Refinaria Presidente
Bernardes, no sistema de livre escolha, que foi bem aceito pela classe.
Jorge Vieira de Mello assumiu em 62, um tempo em que os médicos prestavam serviços em praticamente todas as instituições de saúde, o
número de profissionais permitia essa situação. A AMS participou da programação da comemoração do Jubileu de Prata do Pronto Socorro
Municipal. Na cidade, fracassava a greve geral que teve caráter nacional.