Bola rolou 10 anos antes do Santos FC Dez anos eram passados, depois que
a bola havia corrido pela primeira vez em Santos. Clubes surgiam e desapareciam. O povo santista queria um quadro de futebol que representasse a cidade. E foi atendido, na voz de Antonio de Araújo Cunha.
Estava reunido na sede do Clube Concórdia um grupo de interessados na fundação do clube que representaria Santos. Diversos nomes foram sugeridos e rejeitados. Quando a reunião estava no
fim, com o nome ainda por encontrar, lá do fundo do salão alguém falou: "Por que não chamá-lo Santos Futebol Clube? Todos olharam para trás e viram Antonio Araújo Cunha um pouco escondido, talvez com receio de não ser aceita sua sugestão. Mas,
aqueles senhores, já desanimados, receberam o nome Santos Futebol Clube com aplausos, com entusiasmo, até com lágrimas.
Campo veio logo - O clube estava fundado, era preciso um estádio e uma sede. O campo, não demorou 15 dias e estava pronto. Era no bairro do Macuco. A
sede também veio depressa, um sótão alugado no Largo do Rosário (hoje Praça Rui Barbosa). Apelido curioso ganhou aquele cômodo: "Pombal", porque parecia uma casa de pombos. E todos perguntavam: Quando é que tem
festa no "Pombal"?
Mas, o que interessava mesmo era o futebol. No dia 22 de junho de 1912, o Santos estreou em partida de caráter não oficial, mas que foi a primeira disputada pelo alvinegro. E ganhou,
formando com Fauvel; Simon e Ari; Bandeira, Ambrosio e Oscar; Bule, Geraule, Esteves, Fontes e Anacleto. O adversário foi o Teresa Team, vencido por dois a um.
Veio o primeiro jogo oficial, para o qual o campo do Santos era pequeno. Pediram emprestado do Clube Atlético Internacional, o mesmo que servira para o primeiro
jogo de importância. O Santos FC enfrentou outro Santos, o Santos Atlético Clube. Ganhou de 3 a 2 e o primeiro gol oficial foi registrado. Seu autor, Arnaldo Silveira.
Nobreza e paz - As cores oficiais do Santos foram escolhidas somente no ano seguinte ao de sua fundação. Paulo Peluccio foi quem sugeriu: "Preto e branco. Preto da nobreza e
branco da paz".
Não houve discussão, as cores e a bandeira foram aprovadas, esta idealizada por Raimundo Marques. O uniforme também recebeu aprovação, outra vez sugerido por Paulo Peluccio: camisas de
listras grossas, verticais, pretas e brancas, calções brancos e meias pretas.
Uniforme e camisa continuam os mesmos até hoje.
Feitiço, o goleador - Entre 1912 e 1932, jogava-se por amor à camisa do Santos. E foi nesse amadorismo que um ataque formado por Siriri, Camarão; Feitiço, Araken e Evangelista
tornou-se imortal para os santistas. Feitiço e Araken eram o terror, "quebravam" todos os adversários que muito que enfrentavam o Santos. Ari Patusca também teve seu nome muito falado em sua passagem pela Vila.
Feitiço foi artilheiro máximo do Santos durante o amadorismo. Marcou 468 gols, seguido por Araken (153) e Ari Patusca (108). Nesse período de vinte anos o Santos jogou 468 partidas,
ganhou 246, perdeu 126 e empatou 76. Marcou 1.454 e sofreu 907, com um saldo positivo de 547 gols.
O título - orgulho - Gilmar; Lima, Haroldo, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe começaram no dia 19 de setembro de 1962, contra o Benfica de Portugal,
pelo título mundial interclubes. O primeiro jogo não parecia difícil: seria no Maracanã, o Santos tem muita torcida no Rio de Janeiro. Pelé (2) e Coutinho marcaram para o Santos vencer por 3 a 2. Veio a segunda partida, agora decisiva, em Lisboa.
Novamente deu Santos, goleando por 5 a 2, ganhando pela primeira vez o título de Campeão Mundial de Clubes.
A luta de 1963 era pelo bi-mundial. Para a final, ficaram Santos e Milan. Veio o primeiro jogo na Itália e a derrota, por 4 a 2. Restava a esperança do segundo, que seria no Maracanã.
Mas, essa esperança apagou-se com as contusões de Zito, Calvet e Pelé. O técnico escalou o temperamental Almir no lugar de Pelé. Para substituir Zito, deslocou Lima para o meio de campo. O Milan recebeu de volta o placar de 4 a 2.
O último jogo - o da decisão - bastante acidentado, teve em Almir a causa direta da vitória. O Santos ganhou por 1 a 0, penal de Maldini em Almir cobrado por Dalmo. Era o bi-mundial,
título-orgulho do Santos.
Começo internacional - Três jogos, três derrotas, marcaram o início do Santos em jogos internacionais. Os dois primeiros em 1917, contra o Dublin do Uruguai, por 6 a 2 e 3 a 1. No
ano seguinte, outra derrota, 2 a 1 frente ao Nacional Wanders, também do Uruguai.
Os insucessos ante clubes famosos parecem ter abalado um pouco o ânimo do Santos, que somente onze anos depois, em 1929, voltou a jogar contra equipes estrangeiras. O Desportivo Barracas
serviu para o começo de uma série de vitórias, foi vencido por 1 a 0. Outras aconteceram contra o Rampla Juniors (5 a 0), Tucuman (4 a 1) e Huracan (4 a 1), todos da Argentina. Esta segunda fase internacional do Santos, de 1929 a 1931, apresentou o
seguinte balanço: oito jogos, sete vitórias e um empate; marcou trinta gols e sofreu somente sete.
Santos é hoje um clube - talvez o único do mundo - que poderia dedicar todo o seu tempo para jogos no exterior. Depois da sua ascensão em 1955 e, mais tarde, do aparecimento de Pelé, não
mais faltaram telegramas de todo os países onde o futebol é praticado, convidando o clube da Vila Belmiro para torneios, inaugurações de estádios, aniversários e festas nacionais.
Urbano, símbolo - Vibrava com as vitórias, sofria com as derrotas. Era Santos nas horas fáceis e nas difíceis. Diziam seus amigos: "Acordava Santos FC, passava o dia Santos FC e
dormia Santos FC".
Urbano Caldeira não era santista nem fundador do Santos. Mas, o alvinegro era sua razão de viver, seu ideal. O Santos estava ainda engatinhando, tinha só 8 meses quando Urbano Caldeira
aderiu a ele. Trabalhava na limpeza do gramado, na construção da praça de esportes. "Fazia detudo" - como diziam seus amigos.
Um dos maiores cronistas esportivos de Santos - De Vaney - assim definiu Urbano Caldeira: "Vivia inteiro para o Santos FC. Suas atividades construtivas, só um livro poderia contar. Seu
nome tornou-se símbolo de trabalho, de bem querer, de administração e, principalmente, de crença nos destinos do Santos FC".
O Santos não esqueceu seu soldado das horas difíceis. O Estádio Urbano Caldeira é a maior prova de compreensão e de agradecimento ao seu torcedor nº 1 de todos os tempos.
Jogo entre o Santos F.C. e o Espanha, futuro Jabaquara, no campo santista
Reprodução do jornal santista A Tribuna, edição de terça-feira, 1º de setembro de 1942
(acervo do historiador santista Waldir Rueda)
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