Em alta, bordado é a principal atividade artesanal do País
Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), divulgada ontem pelo IBGE, mostra
que o bordado é a principal atividade artesanal do Brasil e fonte de renda número 1 de seus produtores em 75% das cidades. Santos chegou a abrigar
um forte núcleo de bordadeiras, em sua maioria no Morro São Bento. Hoje, porém, poucas mulheres se dedicam à atividade
com fins comerciais na Cidade.
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EM SANTOS, Maria Tereza é uma das poucas que ainda vivem da atividade
Foto: Patrícia Cruz, publicada com a matéria
Sábado, 25 de Novembro de 2006, 08:18
PESQUISA
Bordar é a maior atividade artesanal no País
Na região, a função teve papel destacado na imigração dos portugueses
Marcelo Eduardo dos Santos
Da Reportagem
O bordado é a principal atividade artesanal do Brasil.
Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base
em dados do ano passado, a arte é a principal fonte de renda dos artesãos em 75% das cidades do País. Na região, estudo feito pela jornalista Gisela
Kodja demonstra que a função teve papel importante na imigração dos portugueses, em especial os que vieram da
Ilha da Madeira.
Conforme o IBGE, depois do bordado, a atividade artesanal mais importante é a madeira,
com 43,1%, seguida do barro, com 23,4%, material reciclável, com 16,7% e fibras vegetais, com 14,6%. Ainda foram citados fios e fibras, tapeçaria,
renda, tecelagem, couro, frutas e sementes, pedras, pedras preciosas e metal.
A gerente de Pesquisa de Informações Básicas dos Municípios, Vânia Pacheco, do IBGE,
afirma que o levantamento é feito anualmente com base em dados informados pelas prefeituras. No caso do artesanato, os pesquisadores perguntaram
quais são as três atividades mais importantes em determinada cidade, por isso, a soma das porcentagens supera os 100%. Em relação a Santos, conforme
o site do IBGE, o único tipo de artesanato mencionado como principal é o de madeira.
Segundo Gisela, o bordado chegou a contar com trezentas artesãs na região. Elas, porém,
moravam em sua maioria no Morro São Bento. Nascidas na Ilha da Madeira, começaram a chegar em peso a Santos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas,
hoje, conta a jornalista, somente quatro bordadeiras — Isabel Fernandes de Andrade, Maria Tereza Pestana, Maria Alexandre Fernandes e Maria Paixão
de Abreu — vivem de seu trabalho. "Algumas (imigrantes e descendentes) fazem o bordado dentro de casa, mas bordar para vender só elas".
Por serem bordadeiras já de idade avançada, a preocupação de Gisela é que o bordado
típico da Ilha da Madeira adaptado à região acabe em pouco tempo. De acordo com ela, a técnica praticada no São Bento tem composição e bordados
florais diferentes, com pontos cheios e em alto relevo. "O original era em linha de seda ou linho puro, mas hoje elas usam tecido misto".
Profissionais |
"Algumas (imigrantes e descendentes) fazem o bordado dentro de casa, mas bordar
para vender só elas"
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Gisela Kodja
Jornalista
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Persistência - Para manter o bordado típico, as quatro artesãs do São Bento - a
quinta componente do grupo, Beatriz Leão Pereira, morreu em maio - mantêm uma associação que divulga e comercializa a produção. Elas realizam duas
exposições mensais: uma no primeiro domingo de cada mês no Ilha Porchat Clube e a outra no segundo domingo, no Orquidário. A
venda acontece sempre das 10 às 18 horas.
Por ser um trabalho artístico, a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) convidou as
bordadeiras para ministrarem aulas na oficina, que funcionou este ano e cujas aulas encerraram nesta semana. Uma das bordadeiras do São Bento, Maria
Tereza, diz que as inscrições serão abertas no local da oficina, no Teatro Municipal, em janeiro.
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Maria Tereza Gonçalves Pestana, bordadeira do Morro São Bento, revela que
algumas peças chegam a custar mais de R$ 300,00
Foto: Patrícia Cruz, publicada com a matéria
Sábado, 25 de Novembro de 2006, 08:19
Demora para fazer e dificuldade para vender prejudicam
Gisela Kodja, que concluiu a dissertação de mestrado
Bordadeiras do Morro São Bento — memória, trabalho e identidade em 2004 pela PUC-SP, afirma que o risco de se perder a arte do bordado típico
das imigrantes se deve também à dificuldade em comercializá-lo e ao tempo exigido para executá-lo. "Elas levam um mês para fazer o jogo de cama e
três meses para vendê-lo".
A bordadeira Maria Tereza Gonçalves Pestana afirma que há trabalhos a preços
acessíveis, como o lenço a R$ 8,00, e também os de alto custo, jogos de cama a R$ 360,00. "Toalhas de mesa só por encomenda". Maria Tereza conta que
o bordado de jogo de cama pode levar até mais de um mês de trabalho. "É demorado e a bordadeira precisa ser paciente".
Hoje aos 68 anos, Maria Tereza chegou à região aos 21 anos, quando havia uma leva de
imigrantes da Ilha da Madeira rumo a vários países, como Venezuela e Brasil. Segundo ela, essa onda imigratória foi uma "loucura", pois muitos
tinham casa própria no local de origem e se transferiram para regiões onde passaram a viver em moradias de aluguel.
De acordo com Maria Tereza, o bordado, além de ser uma forma de manter os costumes da
Ilha da Madeira, foi uma questão de orgulho. As imigrantes queriam chegar ao Brasil mostrando o que melhor sabiam fazer.
Otimista com a oficina em que ministra aulas de bordado no Teatro Municipal, ela
espera que o curso possa manter o artesanato madeirense na região. "As alunas são moças que não desistiram, por isso, estou feliz".
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Técnica é de bordados florais com pontos cheios e em alto relevo
Foto: Patrícia Cruz, publicada com a matéria
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