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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MADEIRENSES
Madeirenses em Santos (3-A)

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Quando habitantes da montanhosa ilha da Madeira resolveram migrar para o Brasil, encontraram na região de Santos um dos melhores lugares, a começar pelo nome da ilha, São Vicente, que recordava localidade homônima em seu arquipélago do meio do Atlântico. Além disso, ilustres patrícios já os antecederam, trazendo na bagagem os instrumentos e as técnicas para a usinagem do açúcar e o preparo do vinho, além de atuarem como entreposto no comércio entre Brasil e Portugal.

E, em Santos, as encostas dos morros lembraram também sua montanhosa terra natal. Em terras santistas, a colônia madeirense ficou conhecida por suas festas e pelas bordadeiras, que continuaram em terras brasileiras as técnicas ancestrais que deram fama à sua ilha.

Esse é o tema de um livrete editado em 1992 pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Santos, com apoio da Comissão Municipal de Folclore e Artesanato, em trabalho escrito por Francisco Ribeiro do Nacimento, com ilustrações de Lauro Freire, capa de Eugênio Lara e fotos do arquivo do Diário Oficial/D.O.Urgente, Casa do Folclore, Assessoria de Comunicação/PMC e Tadeu Nascimento:

BORDADOS DA MADEIRA NOS MORROS DE SANTOS [1]

Geminação

Levantamento do artesanato madeirense transposto para a cidade praiana do Brasil por imigrantes. O trabalho serve como subsídio para futuras atividades relacionadas com a recente ligação entre Funchal e Santos, declaradas Cidades-irmãs.

Doutor Antônio A. Bispo
Membro da Comissão Organizadora do "Encontro sobre Folclore Luso-Brasileiro" e diretor do Instituto de Estudo de Cultura Musical no Mundo de Língua Portuguesa (Colônia-Alemanha)

Prefácio

Muitas vezes, grandes especialistas não conseguem realizar isso que Francisco Ribeiro do Nascimento efetuou, nos morros de Santos: flagrar um corte sincrônico de determinado processo de adaptação cultural, com imigrantes portugueses se instalando em local cuja paisagem física é até semelhante à de sua terra de origem (a Ilha da Madeira) e tentando dar prosseguimento ao artesanato que na ilha famosa faziam.

Se as necessidades desses imigrantes e suas expectativas os levavam a tentar recompor o traço cultural "Bordados da Madeira", na nova terra, os receios da não-aceitação lhes criavam uma incógnita. Venderiam o produto de sua habilidade manual e de seu conhecimento tradicional? Mais ainda: apareceram os intermediários com ares protetores - os constantes atravessadores que acabam levando a melhor... - e as bordadeiras madeirenses dos morros de Santos chegaram a ficar presas a eles, comercialmente; além de determinarem tipo, tecido, linha etc., configurando uma interferência cultural na atividade popular.

Na década de 1980, quando a Casa do Folclore de Santos identifica o problema, inclusive através da dedicação do prof. Albino Luiz Caldas, parecia configurar-se uma situação de crise para as bordadeiras portuguesas em Santos, apesar de algumas de suas filhas e de brasileiras não descendentes daquelas se mostrarem interessadas pelo artesanato.

Começa então um trabalho de apoio erudito, mediante reuniões após a missa dominical, palestras, incentivo, procura de verba do Estado para apoio ao projeto, exposições com venda direta etc.

Naturalmente, era um outro tipo de interferência. Os puristas criticariam atividades "de apoio", lamentando perdas; mas, afinal, as vivências sócio-culturais estão todas entrelaçadas, em constante interação - ainda mais nesta segunda metade do século XX, uma época marcada pelas comunicações instantâneas e por considerável movimentação geográfica e social - tornando mais imprópria uma visão estanque do complexo de fatos que integram o dia-a-dia de todos os estratos de uma população.

É natural que haja influências mútuas: entre turista/trovador numa feira do Nordeste durante a compra/venda dos famosos folhetos de cordel; entre romeiro/congadeiro ou entre pesquisador/congadeiro na festa de São Benedito em Aparecida (SP); entre um humilde pagador de promessa e um padre talvez estrangeiro que não capta bem o misticismo popular do brasileiro "folk"; entre angustiado/curandeiro munido de chás e benzimentos que podem ser salvadores; entre oleiro/colecionador ou comerciante ganancioso frente à maravilhosa produção de barro encontrada em Caraí, Turmalina e outras cidades do vale do Jequitinhonha-MG; entre um pintor naif folclórico e um marchand ou um colecionador; etc. Por que não entre uma bordadeira portuguesa cuja família se instalou em morros de Santos e intermediários ou madames-turistas? A mudança faz parte da vida dos fatos culturais.

O trabalho de Francisco Ribeiro do Nascimento apresenta o mérito de relatar o registro de uma mudança; ele flagrou essa mudança, até porque participou do projeto de apoio às bordadeiras. Em seu texto direto, sem rebuscados acadêmicos, ele nos mostra facetas interessantes da formação de um grupo de artesãs, seus problemas, a transmissão do artesanato a outras moças, e ainda se refere a tipos de bordados tentando uma aproximação com a produção da Madeira.

Enfim, um texto para ser lido e meditado agora, e no futuro, quando outras serão as bordadeiras do Morro de São Bento (serão? Haverá outras? Como serão os bordados?) e de outros morros santistas, tão próximos dos madeirenses não apenas no aspecto físico, mas também no espiritual, até porque são "morros-irmãos", já que Santos e Funchal são "Cidades-Irmãs".

Américo Pellegrini Filho - Professor da Escola de Comunicações e Artes-USP e Membro Fundador do Instituto de Estudos de Folclore - IEFOLC.


Dra. Telma Sandra Augusto de Souza, prefeita da cidade de Santos, vem acompanhando de perto não só os trabalhos como a organização das ilhoas no Morro de São Bento. No Funchal, capital da Ilha da Madeira, Telma fez questão de visitar a sede do Instituto de Bordados e Tapeçarias da Madeira. Na ocasião, a prefeita santista não poupou elogios aos bordados da Ilha da Madeira, produzidos em Santos

Obras de arte em bordado

Em 2 de outubro de 1989, a prefeita Telma de Souza, durante visita a Funchal, ratificou o protocolo de geminação assinado um ano antes (1988), na Prefeitura de Santos.

Na oportunidade, a prefeita promoveu gestões para a realização dos primeiros intercâmbios. Telma enfatizou que os portugueses já fazem parte do cotidiano de Santos: "Nós nos acostumamos a admirá-los pela abnegação, responsabilidade e honestidade no trabalho. Eles deram seu suor para que a cidade de Santos fosse o que é hoje, e certamente a amam com a mesma intensidade daqueles que aqui nasceram. Nós, santistas, aprendemos a gostar do bailado, bem como das verdadeiras obras de arte feitas pelas bordadeiras do morro do São Bento e das comidas preparadas com tanto carinho.

"Os madeirenses - disse a prefeita de Santos - fixaram-se aqui para ficar perto do mar. Escolheram os morros, onde sentiram a proximidade com a terra natal. Minha visita a Funchal teve como missão resgatar um pouco dessa terra maravilhosa para que possamos reforçar a confraternização entre esses dois povos irmãos".


Dr. João Heliodoro da Silva Dantas, presidente da Câmara de Funchal - responsável pela Administração Municipal - ressaltou a efetiva participação dos madeirenses, e em especial das bordadeiras dos morros de Santos, na vida da nova comunidade que escolheram, após deixarem Portugal. Tal participação proporcionou um importante desenvolvimento no artesanato da Baixada Santista

Sentimentos Recíprocos

O presidente da Câmara de Funchal, João Heliodoro da Silva Dantas, ao agradecer as palavras da prefeita Telma de Souza, ressaltou a geminação: "Mais não fizemos do que concretizar algo que já existia e interpretar fielmente os sentimentos recíprocos dos povos, das duas cidades. Foi na cidade de Santos que muitos madeirenses aportaram, participando ativamente da vida de sua nova comunidade, entregando-se ao trabalho abnegado e sincero".

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