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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [25]
Bom Retiro

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Publicado em 31/5/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


BOM RETIRO ENFRENTA VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA - Bairro privilegiado da Zona Noroeste, o Bom Retiro passa por um processo de supervalorização imobiliária. Os novos empreendimentos estão concentrados nas quadras do entorno do Jardim Botânico. Do outro lado do principal ponto de lazer do bairro, as vias são calmas e quase não há tráfego de veículos. Mas os moradores têm um problema: as enchentes que ocorrem sempre que a maré sobe

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 31/5/2010

Casas maiores na paisagem pacata

Valorização imobiliária chega à Zona Noroeste. Imóveis de médio padrão comercial começam a mudar o cenário de região popular

Da Redação

Um "retiro" dos mais pacatos em região privilegiada da Zona Noroeste de Santos dá sinais de dinamismo em seu cenário urbano. Enquanto a vida parece seguir a passos lentos principalmente para antigos moradores, o Bom Retiro vai ganhando novos sobrados e residências sobrepostas de médio padrão que dão indícios de uma supervalorização imobiliária no bairro, aspecto já confirmado no outro lado da Cidade, a Zona Leste.

Os novos empreendimentos estão concentrados nas quadras do entorno do Jardim Botânico, principal ponto de lazer da região. Em esquina bem em frente ao parque, na Avenida Jovino de Melo, um conjunto com sete residências inaugurado neste ano tem quatro unidades vendidas. O único dos três triplex disponível, com três dormitórios, custa R$ 290 mil. Os dois duplex ainda à venda (dois quartos) saem por R$ 240 mil.

A meia quadra dali, dois sobrados - com três dormitórios, sendo uma suíte - têm o preço de R$ 300 mil cada. A casa, uma das mais novas do bairro, resulta do espírito empreendedor de um morador e comerciante do próprio Bom Retiro.

Pergentino Ribeiro de Almeida, 72 anos, estabeleceu-se há 27 na região e ali criou os três filhos. Estivador aposentado, é dono de uma loja de materiais de construção e, de olho na tendência de valorização, comprou a casa por R$ 107 mil há dois anos. Derrubou-a e, no local, construiu os sobrados que devem render R$ 600 mil. "O valor subiu muito. Um terreno aqui há 10 ou 15 anos era R$ 60 mil. gora está R$ 150 mil".

Do outro lado do Botânico, em vias calmas com quase nenhum tráfego de veículos, um conjunto de quatro sobrados entregue no ano passado é composto por residências com dois dormitórios e 120 metros quadrados cada. Mas somente uma ainda está à venda. O preço? R$ 180 mil.

O sobrado fica na Rua Adriano Dias dos Santos, onde o valor venal do metro quadrado do terreno é R$ 154,25. Bem menor do que locais reconhecidamente valorizados da Cidade, como a Avenida Ana Costa e o Canal 3, onde o valor do metro quadrado passa dos R$ 2 mil próximo à orla. Já na Rua Antônio Freire, um sobrado novo é vizinho de outro em construção.

"Houve um aumento expressivo desses novos sobrados. O bairro está valorizando bastante: é sossegado, familiar. Mas ainda temos problemas com enchentes. E não precisa nem chover, é só a maré subir", ponderou Tereza Cristina Pereira Félix, que cresceu no bairro e hoje compõe a direção da Sociedade de Melhoramentos.

Essa entidade funciona na Rua Ézio Testini e oferece espaço de convivência com bar, mesas para carteado e uma biblioteca com 6.800 exemplares, aberta à população. De lazer, portanto, os moradores estão bem servidos: a Sociedade de Melhoramentos é mais uma opção, além do Jardim Botânico e do complexo esportivo M. Nascimento Júnior.

Ilhéu Baixo - Enquanto o bairro de classe média vai ganhando novas residências, moradores de um núcleo do Bom Retiro aguardam o título de posse do pedaço de terra que habitam há 16 anos. O Ilhéu Baixo é fruto da luta por habitação, encampada por moradores de favelas e pessoas que viviam de aluguel.

Eles se instalaram em terreno então particular no sopé do morro do Ilhéu ALto - onde mais de 500 famílias vivem em conjuntos da CDHU também em processo de regularização - e reivindicaram aquele espaço. Após quatro anos de embate, a Prefeitura adquiriu o terreno e o loteou para 495 famílias. Os moradores construíram suas casas com uma planta padrão do Município.

O local foi urbanizado há quatro anos e os moradores aguardam a regularização. "Queremos ter o documento de propriedade porque só assim seremos donos de fato das nossas moradias", ressalta Odete Cunha dos Santos, presidente da Associação Comunitária Pró-moradia e Ilhéu da Baixada Santista.

Presidente da Cohab Santista, Hélio Vieira informa que não há previsão para que a regularização seja concluída. Ele disse que os documentos do processo estão sob avaliação do estado e a Prefeitura prepara o levantamento topográfico do local, necessário para a regularização.


A meia quadra do Jardim Botânico, dois conjuntos com sobrados na Jovino de Melo inaugurados há alguns meses custam...

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

 


... entre R$ 240 mil e R$ 300 mil; cresce também a construção de sobrepostas de médio padrão

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Quarenta anos vendendo bons pastéis

Figura mítica do Bom Retiro, o pasteleiro Mário Pereira Couto tem forte ligação com o bairro que o acolheu há 40 anos, onde encontrou meios próprios de prosperar e criar os três filhos. Ele veio com a mulher de Minas Gerais em 1970 em busca de oportunidade de emprego. Instalou-se na casa da irmã, no Rádio Clube, mas meses depois alugou sua casa no Bom Retiro, após ter comprado um carrinho de pastel.

O carisma e a disposição para o trabalho garantiram o crescimento ns vendas e a conquista de clientes fiéis durante os 32 anos em que vendeu pastéis na esquina da Avenida Jovino de Melo com a Rua João Fracaroli. No período, comprou um terreno no bairro e construiu o lar da família.

Há sete anos, adquiriu o ponto comercial localizado no número 799 da João Fracaroli e abriu o Pastel do Mário.

Com três netos, uma vida mais estável e 60 anos de idade, Mário nem cogita a possibilidade de morar em outro local. "Não tem lugar melhor do que o Bom Retiro".

A calmaria de sempre - Muita coisa mudou no bairro desde que o aposentado Manoel da Conceição Neres foi morar, em 1971, na Rua Pastor Alberto Augusto. As ruas ganharam asfalto, terrenos baldios deram lugar a novas residências e a violência é uma ameaça mais presente. Mas os longos momentos de silêncio ainda podem ser contemplados mesmo em horário comercial.

Essa calmaria, aliás, é o que garante a qualidade de vida a ele e à mulher Lindaura. Eles são dois dos moradores de longa data do bairro.

Manoel veio de Fazenda Nova, em Sergipe, em 1955, e começou a trabalhar como ajudante de pedreiro. Chegou a morar no porão de uma casa da Avenida Conselheiro Nébias. Cresceu no ofício e foi contratado pela Cosipa.

No início dos anos 70, já casado, ele comprou um terreno no Bom Retiro e construiu a casa onde criou dois filhos e mora com Lindaura até hoje. "Gosto muito daqui, mas a manutenção das ruas está deixando a desejar", ressalva o aposentado.


Mário conquistou estabilidade financeira e criou três filhos no bairro

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Enchente e caminhão, problemas de sempre

Se boa parte dos moradores já é antiga neste pedaço privilegiado da Zona Noroeste, os principais problemas apontados por quem vive ali também são os mesmos de 20, 30, 40 anos atrás. As enchentes se repetem há décadas, mas os santistas desta região alimentam a esperança de dias melhores na concretização da prometida macrodrenagem, prevista no Programa Santos Novos Tempos da Prefeitura, anunciado há mais de cinco anos.

"Toda a Zona Noroeste está na expectativa do fim das enchentes com esse programa", comentou Tereza Cristina Pereira Félix, primeira secretária da Sociedade de Melhoramentos do Bom Retiro.

O estacionamento irregular de caminhões no entorno do Jardim Botânico também é problema recorrente e parece não ter solução. Parar caminhões nas ruas de toda a volta do parque é proibida, mas o desrespeito é flagrante. Em uma manhã, A Tribuna flagrou quatro veículos parados na Rua Bulcão Viana, encostados na guia da calçada que margeia o Botânico.

Segundo Tereza, a rua foi emplacada diversas vezes em toda sua extensão, mas os próprios caminhoneiros as retiram e chegam a jogá-las no canal da Jovino de Melo.

Sob o título "Bom Retiro não quer caminhões nas suas ruas", reportagem publicada em 26 de fevereiro de 1985 já denunciava o problema. "Além do barulho e do cheiro de óleo queimado nomeio da madrugada, quando os caminhoneiros saem para trabalhar, os caminhões parados ali servem de esconderijo para assaltantes. À noite, eles ficam entre os veículos e o muro do Jardim Botânico e não são vistos".

Resposta

A CET informou que realiza rondas periódicas no local, mas os agentes só podem multar mediante devida sinlização vertical, que é freqüentemente retirada. O órgão disse que o local é constantemente sinalizado. Denúncias podem ser feitas pelo 0800-7719194.

 


Manoel e Lindaura curtem a tranqüilidade do Bom Retiro há 39 anos

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

 

História

Oficialmente criado em 23 de abril de 1958, o Bom Retiro começou a ser ocupado na década de 40, quando teve sua área loteada de forma a dar origem a um bairro de terrenos grandes e quadras pequenas. Os lotes foram comercializados pela Imobiliária Bom Retiro, que acabou batizando o bairro. Tem como referências o Jardim Botânico, o complexo M. Nascimento e o 5º Distrito Policial. O bairro é essencialmente residencial. O último censo apontou uma população de 6.902 habitantes

 


BICA ABASTECE MORADORES - Moradores do bairro, como o estivador Ranulfo Feitosa, não usam filtro de água. Nem gastam dinheiro para matar a sede. Eles se abastecem rotineiramente de uma conhecida bica localizada próximo à encosta do Morro do Ilhéu. "Nunca vi essa bica secar, mesmo quando fica muito tempo sem chover", afirmou ele. A fonte traz o líquido do morro. Os moradores garantem que a água é limpa e própria para beber. A bica fica em um praça na Rua Cristiano Solano. O problema é que a via concentra muito entulho e água parada

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1982
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