GONZAGA, PARA SEMPRE UM CARTÃO-POSTAL - Bairro sofreu mudanças ao longo do tempo, mas mantém seu
charme e ainda funciona como uma espécie de espelho de Santos, mostrando o que tem de melhor e também o que não é desejável. Em termos de
serviços, poucos lugares oferecem tantas opções. A estimativa e de que existam 1.800 estabelecimentos comerciais nessa região da Cidade
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 12/4/2010
Para sempre um cartão-postal
Com uma população em torno de 25 mil pessoas, o Gonzaga é um misto de núcleo
residencial e comercial
César Miranda
Da Redação
Em cada canto de Santos, tem um
cartão-postal que encanta moradores e turistas. É o bonde, a praia, o estádio, o aquário ou o
museu. Agora, um bairro que ostenta como nenhum outro o título de ser cartão-postal da Cidade só tem um: o Gonzaga, um
lugar amado por seus moradores e flertado por quem vive em outros bairros.
Andar por aquelas calçadas, passeio despretensioso, tem sempre um sabor especial. Não importa se
o dinheiro só dá para o cafezinho. Até para quem está com o bolso vazio, o simples olhar as vitrines distrai mente.
O bairro é o
espelho de Santos, reúne tudo o que é bom e também o que não é considerado nem tão agradável, como o excesso de mendigos pedindo um trocadinho. O
Gonzaga é mesmo um bairro ímpar, passou por várias transformações o longo dos tempos, porém continua sendo a "capital de Santos", como gostam de
dizer muitos freqüentadores. Essa fama começou nos anos 50 e 60, quando o bairro era símbolo de elegância.
Hoje o Gonza, para os íntimos, é efervescente, pacato, barulhento e boêmio. É um
verdadeiro caldeirão de tribos, de esquinas e sotaques. Nem a selva de pedra que nasceu no bairro pela quantidade excessiva de prédios tirou seu
charme.
É um bairro tradicional, que não perdeu a sintonia com a modernidade. Lá, é fácil encontrar
ótimos restaurantes com diversas especialidades, cafés, bares, lanchonetes e cinemas.
Não bastasse ter uma atraente rede cultural e de lazer, o comércio do Gonzaga faz o diferencial,
porque é bem diversificado. Oferece desde lojas simples às mais pomposas. Estima-se que existam 1.800 lojas no bairro. Símbolo de beleza e
acolhimento, não é à toa que a maior parte da rede hoteleira está concentrada no Gonzaga.
O português Ernesto Rodrigues acompanha as transformações do Gonzaga desde 1949, quando chegou
ao Brasil. De lavador de pratos, hoje é dono do Restaurante São Paulo
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Raul Seixas e Osesp - Um ponto charmoso fica no coração do bairro. É a Praça
Independência, lugar tradicional para comemorar a conquista de um título de futebol ou para protestar contra o Governo.
No local, há também o Monumento aos Andradas, uma homenagem aos
irmãos José Bonifácio de Andrada e Silva (Patriarca da Independência do Brasil), Martim Francisco Ribeiro de Andrada e
Silva e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e SIlva.
A Praia do Gonzaga também tem história. Lá aconteceram e acontecem diversos espetáculos
musicais. Quem tem mais de 45 anos e curte rock deve lembrar do apoteótico show de Raul Seixas em 1982. Há muito tempo, grandes espetáculos
já não são mais permitidos.
Atualmente, o que mobiliza milhares de pessoas todo fim de ano são as apresentações da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), considerado o melhor conjunto sinfônico da América Latina.
"Gosto do Gonzaga antigo e de hoje. É aqui que me sinto bem, perto da família e dos amigos", diz
o comerciante aposentado Ernesto Rodrigues, de 86 anos. Ele chegou de Portugal a Santos em 1949 e foi trabalhar como lavador de prato no
Restaurante São Paulo, até se tornar dono.
"Sou do tempo da Doceria Iara, Pizzaria Zi Tereza e Restaurante Trianon. Daquela época em que as
pessoas gostavam mais da rua do que ficar em casa vendo televisão, como é hoje", lamenta.
Outro estrangeiro apaixonado pelo Gonzaga é o aposentado Zafer Issa Chahda, um sírio de 72 anos
que chegou a Santos em 1948. "Sempre morei neste bairro. Conheço a Síria, Egito, Grécia e Argentina. Mas igual a este lugar não tem. O Gonzaga é o
paraíso".
Se puder, a dona de casa Márcia Villas-Bôas, de 46 anos, nunca sairá do bairro. Atualmente, mora
numa casa da Rua Paraguai. Antes viveu um bom tempo em um prédio na Avenida Ana Costa. Só mudou o endereço. "Aqui é bom demais. Tudo faço
caminhando. Tenho tudo perto: escola, shopping e praia. É uma grande comodidade", diz Marcia, ao lado da filha Camille, de 5 anos.
O dono da Confeitaria Viena, Carlos Ernesto Campos Witt, de 64 anos, é um dos que gostam de
dizer que o Gonzaga é capital de Santos. À frente do comércio fundado pelo seu pai (Helmutth Witt) em 1960, ele diz que o que o encanta é o astral
do público. "Fui mordido pelo charme das pessoas que circulam sempre com otimismo, alegria e com uma dose grande de fraternidade".
Até quem não mora mais no Gonzaga sente saudade. É o caso de Eda Finco Agia, de 82 anos, campeã
de natação e colecionadora de medalhas. Há três décadas, não mora mais naquelas imediações. Mudou-se para a Ponta da Praia. "Mas não tem jeito,
sempre venho aqui. Para passear e rever amigos. Sou do tempo em que não havia asfalto".
"Ficaria um lugar mais bonito", diz Obeidi referindo-se à Goitacazes
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Goitacazes, mais um bulevar à vista?
Planos para melhorar o comércio no Gonzaga não faltam com a nova diretoria que assumiu
recentemente a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Santos-Praia. O presidente Nicolau Miguel Obeidi, de 53 anos, diz que voltará a ser discutida a
criação de um bulevar na Rua Goitacazes.
Mesmo sabendo que o projeto divide opiniões, ele disse que havia a mesma resistência quando foi
sugerida a criação do bulevar na Othon Feliciano.
No projeto para a Goitacazes, Obeidi comenta que as galerias Ipiranga e Queiroz Ferreira irão
ser beneficiadas e não haverá prejuízo para os moradores porque terá uma passagem assegurada na via para quem se direcionar às garagens dos
prédios.
"Ficaria um lugar bonito e mais valorizado para todos. Mas está faltando vontade política", diz
ele, ocupando o cargo pela terceira vez. A Prefeitura tem conhecimento da reivindicação, mas informou não ter ainda "posição definida" sobre a
vontade dos comerciantes.
Com lojas fechando cada vez mais tarde, a CDL quer ainda estender o horário de remoção do lixo,
que ocorre duas vezes por dia (8 e 20 horas). A idéia é que os caminhões façam a remoção às 21h30. "Assim evitaria que montanhas de lixo se
acumulassem nas calçadas até o outro dia de manhã, como vem acontecendo com freqüência".
Ele também quer incentivar as lojas de rua a manter as vitrines expostas em vez de colocar
portas de ferro escondendo suas mercadorias quando encerram o trabalho. "Essa sensação de insegurança é falsa. Se o ladrão quiser entrar, não vai
ser quebrando a vitrine que irá fazer isso. Ele vai entrar escondido para não chamar atenção".
ORIGEM - O nome do bairro é uma homenagem ao Bar do Gonzaga, criado em 1889 na esquina da
Avenida Presidente Wilson com a Rua Marcílio Dias, onde hoje fica a Caixa Econômica Federal. No local, funcionava um chalé onde o comerciante
Luiz Antônio Gonzaga montou um bar que servia como ponto de referência para o bonde puxado por burros que ligava o Centro
às praias. O bar de madeira tinha três portas e uma janela e vendia cachaça e aperitivos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
RAIO-X - Serviços: 21 estacionamentos, 15 agências bancárias, 13 escritórios de advocacia, 28
agências de viagens, 86 salões de beleza, 9 hotéis. Comércio: 152 restaurantes, 86 padarias, 3 shoppings, 3 supermercados. Saúde: 1 Unidade
Básica, 2 hospitais. Educação: 4 escolas municipais e uma estadual
Infográfico publicado com a matéria
Paixões
"Gosto do bairro porque tem movimento e agitação. Nunca pára. Se eu não vir gente, me sinto
mal"
José Barbosa Sobrinho, 71 anos,
aposentado
"Aqui é a capital de Santos. Quem não tem amigos, faz e reconhece as amizades neste bairro
acolhedor por natureza"
Carlos Ernesto Campos Wit, 64 anos,
comerciante
"Conheço a Síria, Egito, Grécia e Argentina. Mas igual a este lugar não tem. O Gonzaga é o
paraíso"
Zafer Issa Chahda, 72 anos, aposentado
"Faço tudo a pé neste bairro. Essa comodidade é do que mais gosto. Espero não sair deste bairro"
Márcia Villas-Bôas Costa, 46 anos,
dona-de-casa
"Tirando o belo jardim da praia, que acho lindo, considero o Gonzaga o cartão-postal de Santos"
Eda Finco Agia, 82 anos, aposentada
"O Gonzaga é o lugar onde trabalho e também me divirto com meus amigos. Só faltava morar
aqui"
Raphaella Duran, 20 anos, cabeleireira
Fotos: Carlos Nogueira, publicadas com a
matéria |