HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Os senhores Gonzaga e José Menino
Eles viraram nomes de praias e de bairros...
Existiu um tempo em que, à falta de outras referências facilmente
reconhecíveis, marcava-se determinados lugares pelo único bar ou quitanda ou mercearia existente na área, que por sua vez era também conhecido pelo nome
de seu dono. E assim foi que dois bairros praianos de Santos ganharam os nomes dos que primeiro ali se estabeleceram com seus negócios, passando a
servir como ponto de referência para os demais. Um século depois, os bairros e as praias são bem conhecidos, mas poucos sabem dizer, sem pensar muito,
quem foram as pessoas que assim ganharam essa fama. Antônio Luiz deu seu nome ao bairro e
praia do Gonzaga; do apelido de José Honório Bueno surgiram o bairro e
a praia do José Menino.
Sobre Antônio Luiz Gonzaga, há uma nota
no Almanaque de Santos - 1969, editado por Roteiros Turísticos de Santos, de P. Bandeira Jr., tendo como redator responsável o falecido
jornalista Olao Rodrigues (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), na página 45:
Antônio Luís Gonzaga
Imagem:
bico-de-pena de Lauro Ribeiro da Silva (Ribs), em Santos Noutros Tempos (de Costa e Silva Sobrinho, São Paulo/SP, 1953), também publicada
com a matéria no Almanaque
Eis o velho Gonzaga, jovial e bonachão
Quem deu nome ao Gonzaga, esse famoso bairro-praia que chega aos nossos dias como
dos mais salientes na esfera urbano-turística do Município, não foi o grande inconfidente Thomaz Antônio Gonzaga, o poeta de Marília de Dirceu,
como muitos julgam, mas um santista, um bom santista, o Antônio Luís Gonzaga, aqui nascido a 19 de junho de 1854.
Ele morava na Barra, na chácara de George Holden. Trabalhador que fora do mestre de
obras Tomáz Antônio de Azevedo, passou mais tarde a construtor, marceneiro, avaliador forense e acabou intermediário de negócios. Mas tornou-se
popular como dono de botequim. Quando, em 1888, a chácara de George Holden foi atravessada pelos trilhos da empresa de "bondes de burro",
explorada por esse homem e grande evidência na vida de Santos do outro século, que foi Matias Costa, o nosso Gonzaga abriu um botequim que se
tornou muito conhecido por ser o local obrigatório de passagem dos bondinhos - o ponto do Gonzaga - como chamavam ao local, pois era ali que os
carros deixavam as encomendas e os passageiros se abrigavam do sol ou da chuva.
Antônio Luís Gonzaga era um bonachão. Incorrigível contador de anedotas, fez sucesso
em sua época pelo espírito jovial, índole boa e poder de amistosidade.
Hoje tudo mudou. No lugar do botequim no Gonzaga está a sede do Clube XV. A Rua do
Encanamento é nos dias atuais a super-movimentada Av. Floriano Peixoto, onde se situa o grosso do comércio do Gonzaga Hoje, o Gonzaga surge como
dos primeiros bairros do Município, esse "mesmo Gonzaga dos namorados, onde Antônio Luís Gonzaga, o acolhedor e bonachão Gonzaga, havia de ter um
dia consagração toponímica".
O bairro em 1889: Rua Marcílio Dias,
com os trilhos do bonde e o botequim do Gonzaga na praia
Imagem:
bico-de-pena do artista Lauro Ribeiro da Silva, reproduzido do raro Calendário de 1987 editado pela Progresso e Desenvolvimento de Santos
S.A. (Prodesan), com o tema Santos Antiga em Bicos-de-pena |
Na mesma publicação, página 48, é destacada a figura de José Honório Bueno:
Eis aí o patrono do José Menino
José Menino é essa praia bonita, que tem ilha, arranha-céus na margem do mar, como
acontecimento singular; orquidário, gruta-monumento, linha férrea, fonte, dois grandes clubes sociais, pista suplementar na principal via
pública e cabinas de banho, higiênicas ou não, disputadas pelos "turistas pobres".
Não é demais dizer que José Menino era o apelido de José Honório Bueno, nascido no
ano de 1766 e batizado a 18 de maio do mesmo ano, na igreja Matriz de Santos, filho de Bernardo Bueno de Araújo e Ana Francisco Fernandes, ambos
naturais de Santos. A despeito do seu avantajado físico, ele tinha o cognome de José Menino; na sua juventude aprendeu ourivesaria e
fazia com perfeição rosários de ouro, medalhas, relicários e outros artefatos de matéria preciosa, vivendo mais tarde da agricultura.
Por volta de 1817, já cinqüentão, José Honório Bueno resolveu contrair matrimônio,
mas para fugir ao falatório dos parentes, amigos e conhecidos, que se opunham ao casamento porque a noiva, Gertrudes Maria Madalena, não era
flor que se cheirasse e até diziam que ambos eram filhos do mesmo pai, o nosso José Menino partiu para o Planalto, onde na Igreja da Penha se
uniu pelos laços matrimoniais, perante o vigário José Rodrigues Coelho e as testemunhas padre Joaquim Monteiro da Silva Buri e André Alves
Borges.
Mas o casal, como era esperado, não se deu bem. E veio a separação, definida em
escritura pública de 18 de dezembro de 1827. Irrequieto e temperamental, José Honório Bueno "arrumou-se" com Porcina Maria dos Anjos,
cinqüenta anos mais moça do que ele, que orçava pelos sessenta e seis anos. Desse contubérnio, provieram três filhos: José Honório Bueno, João
José Bueno e Carlos Honório Bueno, contando Costa e Silva Sobrinho, em Santos Noutros Tempos, que o primeiro deles foi despachante geral
da Alfândega.
José Honório Bueno morreu a 9 de outubro de 1854, com 88 anos, já decrépito. |
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