PIRATININGA - Pacato, bairro lembra cidade do Interior
Encravado no meio do Distrito Industrial da
Alemoa e da Via Anchieta, o bairro Piratininga em nada reflete o agito de seus vizinhos.
Predominam os imóveis residenciais e quem mora lá garante que é um pedaço de paraíso
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 15/3/2010
Lugar pacato por natureza
Luiz Gomes Otero
Da Redação
A rotina de Maria de Lourdes de Oliveira
Santana, de 74 anos, lembra a de uma pequena cidade do Interior de São Paulo, apesar de morar em Santos. Há 37 anos ela vive no Piratininga, um
bairro de Santos onde há mais casas do que prédios comerciais, situado em um local inusitado: entre o movimentado Distrito Industrial da Alemoa e
a Via Anchieta.
Fundado no final dos anos 60, o núcleo faz divisa com Cubatão.
À primeira vista, o visitante nota uma aparente imagem de tranqüilidade no núcleo.
Mas o detalhe
que chama a atenção é justamente o fato de o bairro ter prosperado entre o Distrito Industrial da Alemoa e a Via Anchieta. Nem mesmo a proximidade
do tráfego pesado de caminhões foi suficiente para abalar a tranqüilidade de quem mora no bairro.
Servidora aposentada da Secretaria de Estado da Educação, Maria de Lourdes trabalhou vários anos
na Escola Estadual Visconde de São Leopoldo, no Macuco. Fazia parte de sua rotina a viagem de
ônibus da linha que serve o bairro (108) até a baldeação no Terminal Rodoviário do Valongo.
"Era uma vida sacrificada, mas valeu a pena. Foi assim que construí a vida que tenho ao lado de
meu marido", disse.
Quando decidiu se mudar para o bairro, as ruas não eram asfaltadas. "A iluminação era bem
precária também. Na verdade, não havia nada por aqui".
Aos poucos, viu as casas serem ocupadas. Com o passar dos anos, a Prefeitura realizou algumas
intervenções na área, como a implantação de um play-ground ao lado da sede da Sociedade de Melhoramentos do bairro.
No jardim de sua casa, Maria de Lourdes e o marido cultivam dois pés de café que chamam a
atenção de quem passa pelo local. "As pessoas dizem que não é comum ver isso em Santos. Mas se at erra for boa e você tiver paciência, ele nasce
mesmo".
A população do bairro conta com 981 habitantes, de acordo com o censo do IBGe realizado em 2000.
A proximidade com a cidade vizinha de Cubatão acaba provocando alguns reflexos no transporte
coletivo. Não é raro ver os ônibus lotados nos horários de pico (início da manhã e final da tarde).
Serviços básicos - Presidente da Sociedade de Melhoramentos do Piratininga, Francisco
Nascimento acompanhou o processo de fundação do bairro, em 1969. "Moro aqui desde agosto de 1970. Então vi muita coisa acontecer. Desde a chegada
da luz nas ruas até a pavimentação de vias".
Hoje em dia, Nascimento disse que a principal necessidade se concentra nos serviços básicos de
manutenção, limpeza das bocas-de-lobo, por exemplo. O que mais nos preocupa é o avanço da dengue. Se os terrenos estiverem mais limpos, menores
serão as chances de o mosquito transmissor se proliferar por aqui".
Outro ponto negativo destacado foi a situação da Avenida Bandeirantes, principal via de acesso
ao bairro. Um trecho localizado próximo da Divisa com Cubatão apresenta o asfalto em estado precário de conservação. "Mesmo assim, quem mora aqui
nem pensa em mudar", concluiu Nascimento.
Novo viaduto - A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) está pleiteando junto ao
Governo do Estado e à Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), a construção de um novo viaduto interligando os bairros
Piratininga e São Manoel.
De acordo com o presidente da CET, Rogério Cranstchaninov, a medida não só beneficiaria os
moradores do Piratininga como também facilitaria o escoamento da carga que tem como destino o Distrito Industrial da Alemoa.
"Nós acreditamos que a obra transformará o bairro, ajudando a promover o seu desenvolvimento.
Além disso, acabaria com o isolamento que há hoje entre os dois bairros", assinalou Cranstchaninov.
Sobre as queixas relativas ao transporte coletivo, Crantchaninov disse que o setor responsável
irá checar se há necessidade de ampliar a oferta de veículos nos horários de pico da Linha 108.
Apesar de estar entre as turbulências do Distrito Industrial da Alemoa e da Via Anchieta, o
bairro tem como característica a tranqüilidade
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Ex-jogador do Santos morou no bairro
No Piratininga surgiu um dos jogadores que faria história do Santos Futebol
Clube: Márcio Fernandes, que além de jogar como ponta-esquerda no time, ainda atuaria como treinador do time alvinegro da
Vila Belmiro.
O pai de Fernandes, Ernesto Figueiredo, é conhecido pelo apelido de Jabaquara, herdado
nos jogos de várzea. Foi presidente da Sociedade de Melhoramentos e é um dos defensores mais fervorosos do bairro onde reside há 40 anos.
"Nossa vida foi feita aqui. E agora tenho certeza de que fiz a escolha certa", assinalou
Figueiredo.
Sobre o filho, que jogou no Santos Futebol Clube, Figueiredo diz ter orgulho. "Ele era uma
atacante habilidoso e virou um treinador competente. Vai ter muito sucesso nesta nova carreira que está iniciando".
MELHORIA |
A Prefeitura defende a construção de um viaduto sobre a Via Anchieta, ligando o
Piratininga com o São Manoel, como forma de melhorar o trânsito de carros na área |
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As principais queixas da comunidade no início da formação do bairro se concentravam na demora
dos ônibus. Anteriormente, o bairro era servido por uma linha intermunicipal, que levava até o Centro.
"Era muito difícil. Depois construíram a escola e implantaram uma linha de ônibus (108) para o
bairro. As coisas hoje em dia são bem melhores que no passado".
Figueiredo ou seu Jabuca, como também gosta de ser chamado, nunca foi adepto da
politicagem. Ele garante que sempre procurou administrar a entidade com os olhos voltados para a comunidade.
"Não tinha sentido a Sociedade de Melhoramentos existir sem servir para a comunidade. Se hoje
ela existe, é porque os moradores precisam e participam. Cada um de nós pode fazer um pouco para ajudar", disse Figueiredo.
A luta agora consiste na eliminação de pontos de criadouros do mosquito transmissor da dengue (Aedes
aegypti) no bairro.
"Como todos nós nos conhecemos, estamos procurando orientar sobre esse problema. Sobretudo quem
passa a maior parte do tempo fora de casa. São medidas simples mas que ajudam a evitar a doença", assinalou.
Para o bairro, Figueiredo espera que a Prefeitura continue mantendo e amplie os espaços públicos
para o lazer, promovendo assim a valorização dos imóveis.
"Sempre gostei de morar aqui. Não consigo me ver morando em outro lugar. Por isso, o que desejo
é que o bairro continue prosperando. Para que as futuras gerações possam manter viva a sua história", concluiu.
Morador atuante, Ernesto é um dos maiores defensores do Piratininga
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Padaria é referência para visitantes
Quando decidiu montar uma padaria há cerca de 17 anos no Piratininga, João Carlos Deodoro da
Silva não tinha noção de que o ponto iria se tornar uma referência para o bairro.
Hoje em dia, todos os moradores conhecem a Padaria Aichicken, assim como os caminhoneiros que
chegam ao Porto de Santos, que se deliciam degustando a famosa costela de boi servida na brasa.
O segredo do estabelecimento está no atendimento e no preço das refeições. Com R$ 8,90 é
possível comer um prato pronto na hora do almoço ou da janta.
"Nós sabemos que o motorista que está de passagem não tem muito tempo. Então, pensamos em
oferecer pratos rápidos, mas ao mesmo tempo com consistência para saciar a fome", explicou Deodoro da Silva.
APOIO |
A padaria Aichicken virou referência para quem passa pelo Piratininga. Não só para
quem quer obter informações, mas também para quem está de passagem pela Cidade e deseja fazer uma refeição rápida |
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Para os moradores do bairro, a padaria serve de ponto de apoio para a compra de material de
limpeza e de alimentos.
Deodoro entende que é possível investir na infra-estrutura de lazer para os jovens. "O número de
crianças é bem maior hoje que no passado. Elas precisam ter algum tipo de atividades durante o dia".
Ele também sugeriu o aproveitamento de uma área entre a Via Anchieta e a padaria. Hoje o espaço
é isolado pela Ecovias. "Ali caberia um play-ground, por exemplo. Embora eu saiba que isso depende do aval da Ecovias, acredito que o
espaço pode ser aproveitado para a comunidade.
A costela de boi servida na brasa é destaque no cardápio da padaria
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Opiniões
"Não me vejo morando em outro bairro de Santos"
Maria de Lourdes de Oliveira Santana,
74 anos, moradora do Piratininga há mais de 30 anos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
"Os jovens precisam de mais áreas de lazer aqui"
João Carlos Deodoro da Silva, 46 anos,
proprietário da Padaria e Restaurante Aichicken
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
POPULAÇÃO |
981 habitantes residem no Bairro Piratininga, segundo o censo do IBGE do ano 2000 |
INÍCIO |
As primeiras casas começaram a ser ocupadas nos anos de 1969 e 1970. O bairro passou a
prosperar com a fundação da Sociedade de Melhoramentos |
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