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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
O pouco que resta do antigo Alemoa (2)

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Publicado em 25/11/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Grandes empresas ocuparam o lugar dos chiqueiros, dos capinzais e chácaras

Mistério e dúvidas por trás de um nome

Alemoa ou Alamoa?

Até hoje existem dúvidas quanto ao nome certo do lugar. Oficialmente, o bairro chama-se Alemoa, mas alguns não adimitem outra designação que não a de Alamoa. E não só populares fazem trocas do tipo: a Codesp refere-se às instalações que mantém lá como o Terminal da Alamoa.

Essa questão quanto ao nome do bairro chegou a ser analisada por dois pesquisadores, Costa e Silva Sobrinho e Daniel Bicudo. O primeiro defende a tese de que a denominação faz alusão a uma mulher loura, de sotaque estrangeiro, que os populares apelidaram de Alemoa, numa corruptela de alemã.

Segundo Costa e Silva Sobrinho, aquele lugar alagadiço, conhecido como Sítio da Vargem, foi comprado, a 16 de abril de 1841, pelos alemães Jacó Emmerich e Adão Kunen. Fundaram a firma Kunen & Emmerich especialmente para explorar o latifúndio.

Adan Kunan mudou-se para lá, construiu estábulo e chiqueiro, abriu um poço e plantou um capinzal de se perder de vista. E o lugar passou a ser chamado Sítio do Alemão. Com a sua morte, virou Sítio da Alemoa, mais tarde simplesmente Alemoa.

Daniel Bicudo vai mais longe e faz indagações: "Que quer dizer Alemoa, por que existe esse nome? Não será essa alemoa santista uma simples reminiscência de lendas de distante origem? Não se tratará de uma só e única lenda, transplantada de um lugar para outro?"

O estudioso lembra que em Portugal o povo crê nas almazenas ou almajonas, mulheres gordas, grandes, de seios imensos. Em Famalicão, são chamadas de alamoas e lembram assombrações, medos.

"Não estará aí a origem do nome santista?", pergunta Bicudo, e acrescenta: "Teria vindo ele, naturalmente, de Portugal, com a crendice dos emigrados do Famalicão. Aqui, entre outros hábitos de lá, teria sido introduzida a alamoa, que por influência mesológica faria abrasileirar para alemoa. Em Pernambuco, foi conservada a grafia alamoa".

Uma bonita versão da história da alamoa encontra-se no livro de Olavo Dantas, Sob o Céu dos Trópicos, citado por Daniel Bicudo. Conta ele que o arquipélago de Fernando de Noronha foi, em outros tempos, um reino encantado. Uma rainha loura, muito bonita, vivia em seu rico palácio, no alto de uma colina verdejante.

Mas, com o passar dos anos e a chegada das caravelas descobridoras, o reino misterioso teve que desaparecer. Os palácios transformaram-se em negro basalto. As galeras suntuosas converteram-se em rochedos, e a deslumbrante morada da rainha passou a ser a inóspita elevação, mais tarde denominada Pico.

Desde então, o fantasma de uma criatura com ares divinos vaga pelos recantos da ilha, pelos montes, pelas praias. Volta e meia, os cães latem sinistramente. A alamoa está por perto.

Um velho galeão, oculto sob a lama

Parece história da carochinha, mas é a pura verdade: por milhares e milhares de anos, o Estuário ocultou um galeão inglês do século XII sob suas águas. Escondido em seis metros de lama, quatro metros abaixo do nível do mar, foi encontrado em 1974 e totalmente destruído por explosões de dinamite: a antiga Cia. Docas não se interessou nem um pouco por ele, tinha pressa em preparar o novo berço de atracação de navios para o Terminal de Granéis Líquidos da Alemoa.

A descoberta ocorreu por acaso: uma draga do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPVN) e da Docas (N.E.: veja a correção destes dados) estava operando no Canal 6; de repente, o sistema mecânico deparou com um corpo resistente, que impedia a continuidade dos trabalhos. Para ver o que se tratava, foi contratada a Submarine Service, de Wladimir Grievs.

Para surpresa geral, os mergulhadores localizaram uma proa, encoberta por camadas de tabatinga. Com jatos de água e ar comprimido, os homens se livraram da lama e o engenheiro naval Grievs pôde dizer com segurança: tratava-se de um galeão inglês, construído entre 1700 e 1750.

Inteiramente construído em carvalho e pinho-de-riga, com 40 a 50 metros de comprimento, não sofreu processo de decomposição por estar totalmente encoberto por lama pegajosa. Suas peças de metal não foram destruídas pela ferrugem, devido à absoluta falta de oxigênio ao nível de profundidade em que se encontrava.

Mas a antiga Docas colocou seus interesses acima de tudo. Não abriu mão de continuar a ampliação de suas instalações na Alemoa e o velho galeão teve que ser retirado do mar o mais rápido possível. Usou-se dinamite e, quando as bombas estouravam, um pouco da história se perdia entre as águas.

Piratininga, núcleo onde os políticos se esquecem de ir

Pode levar horas sem que passe um único carro pelas ruas do Jardim Piratininga. Situado lá num cantinho da Alemoa, quase na divisa com Cubatão, o núcleo vive em meio a uma tranqüilidade que desapareceu de todos os outros bairros de Santos. Em compensação, não tem farmácias, açougue ou supermercado e não é servido por nenhuma linha de ônibus.

A história do Jardim Piratininga começa com a Construtora Valor S/A, que resolve edificar 90 casas, a serem vendidas para particulares. Depois as coisas mudam: o BNH se interessa pelo projeto, assume as despesas e decide construir outras 160 moradias populares. Em meio ao processo, nasce a Cooperativa da Guarda Civil.

Em 1971, aquele recanto isolado ganha vida com a chegada dos moradores. Moradores que por vários anos lutaram para obter as escrituras dos imóveis: elas ficaram retidas até recentemente porque a Vetor deixou de recolher ao INPS. Isso bastou para complicar a vida de muita gente.

Com asfalto, sem rede de esgoto - O Jardim Piratininga praticamente se resume a um suceder de casas geminadas duas a duas. Só que as residências não são exatamente iguais, porque muitos trataram de introduzir melhorias, ampliá-las e reformar a fachada.

As ruas, asfaltadas, não sofrem dos famigerados problemas de enchentes, tão comuns em toda Santos. Em contrapartida, não há rede de esgoto e o pessoal se vê obrigado a conviver com uma vala de esgoto, que corre ao longo da Edgard Ferraz Navarro.

Os próprios moradores se encarregam de cuidar do jardim existente junto a essa via. Se não o fizerem, correm o risco de vê-lo tão abandonado quanto as duas únicas praças: a Elos Clube e a João de Moraes Chaves. E, ao final das contas, esse jardim garante uma boa sombra nos dias de sol: fim de tarde, as mulheres sentam-se em seus bancos para descansar e trocar um dedo de prosa.

Prefeito promete e não cumpre - Conversa vai, conversa vem, dona Joana Menezes reclama da falta de um pronto-socorro, farmácias, supermercado e açougue. E lamenta que o projeto do mercado não foi adiante: restou um esqueleto de concreto, encardido e com pontas de ferro enferrujadas, oferecendo perigo. O presidente da sociedade de melhoramentos, Francisco Nascimento, reforça as queixas de dona Joana e acrescenta: o prefeito Paulo Gomes Barbosa prometeu uma área de lazer, mas até agora nada.

Ônibus, ele já cansou de pedir, mas a CSTC e a Viação não se interessam em investir nesse reduto de cerca de dois mil moradores. O jeito é apelar para os coletivos que servem Cubatão, ou atravessar a Anchieta e buscar socorro no bairro vizinho, Jardim São Manoel. Mas, este não pode oferecer muita ajuda: lá só passam os ônibus 51 e 15, de hora em hora.

Onde andam os políticos e administradores, que não vêem essas coisas? Alguém precisa lembrar que o pessoal do Piratininga paga impostos e tem seus direitos. O único benefício recebido em troca de tanto que já desembolsaram é a EEPG José da Costa e Silva Sobrinho. No mais, uma sucessão de lutas sem vitória. Até quando?

Veja as partes [1], [3] e [4] desta matéria
Veja Bairros/Alemoa/Vila Alemoa

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