Na Vila, há 70 casas perfiladas em ambos os lados da única rua
Ruínas testemunham ocupação anterior
O pessoal da antiga Cia. Docas descobriu Itatinga no começo
do século XX. Mas alguém viveu por aquelas terras milhares de anos antes. Pelo menos, é isso que indicam as ruínas lá existentes, há cerca de 500
metros do Rio Itapanhaú.
Seus paredões enormes, com 80 centímetros de largura, edificados com pedras sobrepostas, se assemelham muito aos
de outras construções, comprovadamente do tempo da colonização. Os moradores dizem tratar-se de coisa dos jesuítas e alguns falam sobre um túnel
misterioso, cortando o subsolo.
Um refúgio contra os ataques de índios ou piratas? Ninguém sabe. Mas é comum ouvir em Itatinga que, antigamente,
de uma certa distância, as pessoas viam velas acesas, iluminando tudo aquilo. Quando se aproximavam, as velas se apagavam, desapareciam. De
repente, novamente de uma certa distância, apareciam ardendo, desafiando a coragem e a credulidade de todos.
Nos últimos anos, o fenômeno deixou de acontecer. E os moradores até pensam em construir uma gruta junto
às ruínas, para abrigar uma imagem doada por dona Mariazinha, esposa de um ex-chefe da Divisão de Eletricidade da velha Docas.
Equipamentos básicos são os mesmos do começo do século XX
Da encosta da serra, energia para o porto
A represa natural e a vistosa queda d'água estavam perdidas
nos confins da Serra do Mar. Para se chegar até lá, só mesmo atravessando densas florestas. Não se sabe como, mas o pessoal da antiga Companhia
Docas descobriu tudo aquilo e logo imaginou a construção de uma usina hidrelétrica. Começava o século XX, havia escassez de energia no País e a
Cia. Docas precisava de autonomia no setor energético para garantir o funcionamento e o crescimento do porto.
Em 1906, tiveram início as obras da Hidrelétrica de Itatinga. A 10 de outubro de 1910 era inaugurada, com toda a
pompa que a ocasião exigia: tratava-se de uma das maiores entre as primeiras do gênero. Para se ter uma idéia de sua importância, durante muito
tempo não só supriu as necessidades das instalações portuárias, como forneceu toda a eletricidade consumida pelos municípios de Santos, São
Vicente e localidades vizinhas. Mais: a Light utilizou a energia gerada em Itatinga na construção da Usina Henry Borden, em Cubatão.
Como funciona - A tomada de água para movimentar as turbinas é feita num privilegiado trecho do Rio
Itatinga, onde existe uma represa natural, de onde a água escorre volumosa, em forma de cachoeira. Assim, a Docas não precisou construir uma
represa, como geralmente ocorre: limitou-se a fazer alguns acabamentos e a implantar o sistema de captação propriamente dito.
A partir da represa, a água cai por um canal de três quilômetros de extensão (800 metros dele escavado em rocha
pura) e chega a duas câmaras de decantação. Em seguida, a água despenca de uma altitude de 640 metros, por meio de cinco dutos, que
abastecem a usina. Com o peso que o líquido chega, calculado em 640 toneladas, gira as rodas de água das turbinas, que ficam ligadas aos
geradores. A energia é produzida por cinco alternadores de três mil quilowatts, num total de 15 mil quilowatts. A linha de transmissão que leva a
Santos tem 32 quilômetros.
Se a usina funcionasse com apenas um terço de sua capacidade, ainda conseguiria suprir as necessidades do porto.
Ele consome oito dos 15 mil quilowatts, e o excesso é vendido à Eletropaulo - a concessionária a absorve automaticamente e distribui para qualquer
ponto do Brasil, pois Itatinga se encontra interligada ao sistema energético do País.
O contrário também é possível: quando diminui a vazão do Rio Itatinga e a usina perde sua capacidade de produzir
energia, o porto passa a ser abastecido pela Eletropaulo, também automaticamente. Mas isso raramente acontece, segundo o engenheiro Oscar Corradi,
chefe do Departamento de Geração e Transmissão. Ele explica que, para a usina funcionar a plena carga, basta uma vazão de 3,3 metros cúbicos por
segundo, e a vazão normal do Itatinga gira em torno de 100 metros cúbicos por segundo.
A usina - Não falta quem diga que o prédio da Usina de Itatinga é digno de figurar entre as edificações
tomadas pelo patrimônio histórico. As paredes são todas feitas de pedras sobrepostas, cuidadosamente assentadas, formando um conjunto bastante
interessante.
No interior, as pedras não ficam expostas, e o que chama a atenção é o chão de lajotinhas decoradas, os
parapeitos dos janelões de granito trabalhado e grades de proteção douradas e reluzentes. Os equipamentos principais são os mesmos da época da
inauguração, incluindo os alternadores alemães da Voith e as turbinas norte-americanas da General Electric.
Não resta dúvida, porém, que o mais interessante é o rudimentar sistema de comunicação do prédio, um verdadeiro
precursor do interfone: junto ao batente da porta principal há um orifício, na verdade um dos extremos de um cano de metal. A outra saída fica no
andar superior, e quando as pessoas querem se comunicar sem precisar subir e descer escada, falam por meio do orifício. A nitidez do som não
poderia ser melhor. Só vendo! |