A água transparente mais parece um espelho quando reflete a luz do sol
Ruínas e muito mistério
Um local cheio de assombrações, de almas do outro mundo? Há
quem jure de pés juntos, afirmando que sim e se benzendo ao falar sobre o cemitério. Outros, ao contrário, além de não terem medo, andaram
vasculhando por entre os restos da construção milenar, à procura de ouro.
Não faltam lendas e crendices em torno das ruínas do Engenho das Gayas ou dos Largachas, que fica às margens do
Rio Quilombo. Uma versão que corre pela boca do povo é que um dos proprietários da área tinha que enviar determinada quantia de ouro para
Portugal. No entanto, mandou uma arca cheia de pedras e se escondeu no engenho, onde enterrou o ouro, que nunca mais foi encontrado.
A imaginação popular se encarrega de aumentar os mistérios que envolvem o antigo engenho de cana-de-açúcar e o
cemitério ao lado. Mas, não demora muito e haverá quem duvide até da existência deles. Fácil explicar: a vegetação tomou conta de tudo ao redor, a
picada de acesso desapareceu e as ruínas se deterioram a cada dia que passa. Só moradores das imediações sabem como chegar ao local e, assim
mesmo, raramente se atrevem. Um pouco mais da nossa história está se perdendo, por absoluta negligência das autoridades, que não se interessam por
esses detalhes.
Na verdade, as ruínas já mereceram estudos do Instituto de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico,
Arqueológico e Turístico - Condephaat - e da Universidade de São Paulo. Mas tudo ficou apenas a nível de relatórios.
Segundo dizem os especialistas, a implantação de edifício na encosta, próximo ao rio, corresponde a uma antiga
tradição portuguesa. As suposições a respeito do funcionamento do engenho baseiam-se em crônicas do Frei Gaspar da Madre de Deus, nascido em 1714:
ele conta que, na sua juventude, todos os engenhos de cana-de-açúcar da Baixada Santista se encontravam em decadência. Existem também referências
de um cronista inglês a respeito do funcionamento de engenhos na área de Cubatão, na segunda metade do século XVIII.
Na construção do engenho, usou-se originalmente pedra entaipada com calda e barro e, por esse motivo, as paredes
se desintegraram após a queda do telhado. Os técnicos constataram ainda que houve utilização posterior do que restava do engenho, porque
encontraram janelas fechadas com pedras diferentes das originais.
O cemitério, por sua vez, permanece como uma grande incógnita. Nele seriam enterrados apenas negros cativos?
Havia tanta gente assim no Vale do Rio Quilombo para justificar a criação de um cemitério? É da mesma época do engenho?
Segredos que as ruínas guardam.
Nesse lugar onde a natureza domina soberana, deverão ser instaladas indústrias
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