Paisagem típica: os barcos junto à Ponte dos Práticos e o navio saindo do Estuário
Mais de 40 mil pessoas e muitos atrativos
Por acaso alguém se lembrou? Terça-feira, 29/6, foi o Dia da
Ponta da Praia. Mais uma vez não houve festa para lembrar a data, instituída pela Lei 3.485, de 15 de dezembro de 1967.
Pois saibam que nunca se comemorou o Dia da Ponta da Praia, embora seja um dos mais bonitos, valorizados e
populosos bairros de Santos. São nada menos que 41.811 moradores, a maior parte vivendo nos imponentes e privilegiados prédios da orla da praia ou
nas mansões bem guardadas por enormes muros, grades e cachorros. E como tem mansões! O destaque, sem dúvida, fica por conta do casarão do rei
Pelé, na Praça Coração de Maria.
A denominação Ponta da Praia é natural, por designar o extremo das praias. Já foi muito maior, mas perdeu áreas
para a formação de outros bairros e hoje ocupa o trecho entre as avenidas Bartolomeu de Gusmão, Almirante Saldanha da Gama, Portuários, Afonso
Pena e Joaquim Montenegro, até a praia.
Entre todos os bairros da orla da praia, é o de ocupação mais recente. Suas ruas só começaram a ser drenadas e
pavimentadas em 1967, e só a partir de então se verificou crescimento populacional marcante. Para se ter uma idéia, basta saber que na década de
70 a população dobrou, passando de 19.367 habitantes para mais de 40 mil.
Na obra de Cipiochia, homenagem ao pescador
Quem
gosta de temperaturas mais amenas não poderia encontrar melhor opção, já que a Ponta da Praia normalmente registra dois ou três graus abaixo da
temperatura média de Santos. O vento que sopra do mar, de Sudeste para Leste, faz dessas coisas, e houve casos extremos em que lá a temperatura
ficou nos 30 graus centígrados, quando no Saboó os termômetros registraram 36 graus. É, portanto, o bairro mais fresco de Santos, sem qualquer
conotação pejorativa.
Não dá mesmo para se falar mal desse bairro, considerado pesqueiro não apenas pela atividade do Terminal de
Pesca, mas por ser o fundeadouro natural de todas as embarcações pesqueiras. No terminal, inaugurado em 1958, é bonito ver aqueles homens de mãos
calejadas e pele curtida, movimentando-se rápido ou aguardando a saída dos barcos para seguir rumo ao alto-mar. Fibra e coragem se misturam nas
histórias que eles relatam, coisas de horas e horas passadas longe das famílias, rezando por uma boa pescaria e lutando contra as adversidades do
tempo.
Quem também não se encanta com todos aqueles barcos atracados junto à Ponte Edgard Perdigão, ou Ponte dos
Práticos, como todos a conhecem? Melhor ainda se passar um navio, pois é justamente daquele ponto que se pode vê-los mais de perto.
Dessa ponte, a lancha Loirinha segue para passeios marítimos, e os práticos partem no encalço de navios
que se dirigem ao porto. Nenhum navio pode entrar no Estuário sem um prático a bordo. O comandante o espera perto da Ilha das Palmas e ele assume
a direção do navio, como piloto responsável. O Estuário é cheio de segredos, portanto, nada melhor do que prevenir.
Para não haver qualquer dúvida de que Ponta da Praia não se desvincula de mar e pesca, basta saber que lá estão
as melhores peixarias, além do Mercado de Peixes na Praça Gago Coutinho e a Cooperativa de Pesca Nipo-Brasileira, que cada vez se destaca mais na
captura e comercialização do pescado.
Na Vila Ogarita, não raro se depara com redes abertas sobre as cercas secando sob o sol. Mas, infelizmente, ali
por aqueles lados está em extinção a tradicional fabricação artesanal de barcos. Fica cada vez mais difícil retirá-los, devido ao crescimento do
bairro, por isso quase não se vê baleeiras e pequenas embarcações surgindo aos poucos nos fundos dos quintais.
Pelo menos, a estátua que simboliza o pescador, obra de autoria de Ricardo Cipiochia, continua imponente,
visível para todos que entram e saem das balsas. Essa estátua já foi transferida da Ponta da Praia para o José Menino, mas finalmente voltou
àquele bairro, certamente para nunca mais sair.
No mais, só se pode dizer que a Ponta da Praia é um bairro privilegiado pelas atrações, que vão desde a simples
vista da murada do canal do Estuário e o ferry-boat, até o passeio curioso por entre as mais variadas espécies de animais marinhos,
reunidos no Aquário e no Museu de Pesca. Sem falar que o biólogo Luís Alonso se empenha para criar o Museu do Mar. Sem receber qualquer ajuda
oficial, mas disposto a ir até o fim com esse trabalho que considera da maior importância, não se incomoda de lançar mão de pá e picareta para
levar adiante a obra. Ele e o pai, de quem com certeza herdou o idealismo.
E só mais um detalhe: quem quiser comer um dos melhores pastéis de Santos, basta passar à tarde na Vereador
Henrique Soler com Egídio Martins, bem perto da Praça Gago Coutinho. É lá que fica o japonês Akira, há 17 anos mostrando que para se fazer pastel
também se precisa de arte. O pessoal vai lá, come três ou quatro e ele acaba deixando um grátis. Ninguém duvida: aquela figura alegre já faz parte
do folclore e da história da Ponta da Praia.
Pescador junto ao marco em homenagem a D. Henrique
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