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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PIONEIROS DO AR
Gago Coutinho e S. Cabral em Santos (3)

Visita ocorreu pouco depois de sua travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro
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Também estiveram em Santos, onde foram calorosamente recepcionados, os aviadores portugueses que fizeram a travessia pioneira de Lisboa ao Rio de Janeiro, em 1922. Essa travessia foi atentamente acompanhada pela imprensa, em todos os seus detalhes e peripécias, e até nos cinemas eram exibidos filmes-documentários sobre cada etapa da viagem. A visita dos aviadores a Santos ocorreu quase um mês depois do feito, sendo registrada pelo jornal santista A Tribuna numa terça-feira, 11 de julho de 1922 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Honra aos heróis

A cidade recebe, entre inéditas demonstrações de regozijo, os dois gloriosos aviadores

Gago Coutinho e Sacadura Cabral saudados e ovacionados freneticamente pela multidão

A cidade revestiu ontem o aspecto dos seus grandes dias para acolher os dois altos representantes do gênio português – Gago Coutinho e Sacadura Cabral -, tão gloriosamente imortalizados no sucesso triunfal da sua imperecível façanha.

Pode-se dizer que toda a população saiu à rua para aclamar e abençoar os heróis, e toda ela, num desses movimentos d'alma que nenhuma razão contém ou reprime, vibrou de envaidecido entusiasmo à passagem dos dois lídimos expoentes da glória lusitana, homens que fazem a honra da sua espécie e o orgulho da sua época, e em cujo sangue parecem reviver os mesmos estímulos, a mesma alta e indomável ansiedade de luz, que geraram os "heróis do mar", os descobridores de mundos novos no seio misterioso dos oceanos.

A façanha de Gago Coutinho, o sábio, e de Sacadura Cabral, o intrépido timoneiro do Lusitânia, do Fairey 16 e do Fairey 17, põe-nos diante dos olhos, numa suave evocação de glórias imortais, um dos trechos mais luminosos da história de Portugal.

É Sagres, o promontório sagrado, "berço d'um mundo novo", marco inicial da era das conquistas, que se nos desenha, emergindo dentre brumas, na linha luminosa dos seus contornos; e é o infante dom Henrique, nume tutelar da glória portuguesa, que já em Ceuta levantara "a alma de Portugal no aceiro do montante", que se nos apresenta, entre nimbos de luz, a sonhar os seus sonhos de imortalidade.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral, como antes deles todos os que acresceram e iluminaram a fama lusitana, realizam, através das idades, o formoso predestino de Portugal: são instrumentos com que Deus constrói ininterruptamente, os cimos inacessíveis em que fulgirá para todo sempre o nome português.

E se neste aspecto nos é tão sinceramente grato celebrar o feito olímpico dos dois ilustres filhos de Portugal, mais cresce ele diante da nossa afetuosa admiração, se nos não esquecermos de que esse arrojado empreendimento é, antes de tudo, um alto e inexcedível testemunho de fraternidade luso-brasileira.

Se naquele primeiro aspecto, como obra de gênios, essa façanha entusiasma e arrebata, perpetuando para o culto dos corações os dois grandes espíritos que a imaginaram e realizaram; nest'outro, como expressão de velha e imperecedoura estima, como documento da inquebrantável cordialidade que faz irmãos os brasileiros e os portugueses, o feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, por isso mesmo que embebe as suas raízes no coração português, enche de indizível emoção a alma brasileira.

É nesta feição que nos apraz, principalmente, festejar a gloriosa, a olímpica jornada de Sacadura Cabral e de Gago Coutinho. Queremo-la, antes de tudo, como uma bênção da velha pátria portuguesa sobre o Brasil novo e cioso do seu futuro; e queremos celebrar nos dois gloriosos timoneiros do azul, antes de tudo e acima de tudo, os embaixadores, os emissários da grande alma de Portugal.

Esta visita é para nós uma bênção.

Salve, Portugal!

Ainda nessa mesma primeira página, em continuação ao editorial:


Imagem: reprodução parcial da matéria original

As homenagens prestadas aos dois intrépidos pilotos – As nossas informações

A partida da capital – Cerca das nove horas, os gloriosos filhos de Portugal partiram de S. Paulo, pela estrada Vergueiro com destino a Santos.

Acompanharam-nos na sua viagem os srs. João Mourão e Aristides Correa da Cunha, membros da comissão de festejos.

Os excursionistas admiraram profundamente a bela paisagem, que o Caminho do Mar oferece aos viajantes, e a nossa natureza fértil.

Daí a momentos, os heróicos aviadores aproximavam-se do

Cubatão - Desde as primeiras horas da manhã o povo deste bairro movimentava-se aceleradamente, preparando-se festivamente para receber e saudar os intrépidos aviadores portugueses na sua passagem.

Na Avenida dos Bandeirantes, na sede da Sociedade Socorros Mútuos Cubatense, gentilmente cedida aos promotores da festa dessa recepção, por sua digna diretoria, a enorme massa de povo esperava com ansiedade a passagem dos destemidos azes. A banda de música da Companhia Construtora, habilmente regida pelo sr. Bernardo Joaquim da Silva, auxiliado pelo contramestre Garcia Feijó, executava belíssimas peças de seu repertório.

Precisamente às 11,20 horas, ouvia-se na base da serra o sinal convencionado que anunciava a chegada dos ilustres hóspedes, que davam entrada no bairro de Cubatão, dez minutos depois.

Os aviadores, parando seu automóvel diante da massa compacta de povo, tinham à frente duas senhoritas empunhando os pendões tricolor e bicolor.

Foram, então, recebidos pela comissão de festejos, composta dos srs. Francisco Raphael Damião, Bernardo Pinto de Carvalho, Affonso Teixeira, José Maria Ruivo, Manuel Raymundo e Manuel Jorge; Manuel Couto Sobrinho, subdelegado da polícia, e João Paulino de Souza Damaso, presidente da Sociedade Socorros Mútuos Cubatense.

Usou da palavra o sr. dr. Ignácio Lacerda, comissionado pela população do bairro, proferindo um discurso, que terminou nos seguintes termos:

"Portugal, faixa de terra que a Espanha comprime, mas que o oceano alarga, na frase de Brasílio Machado, quis ter dois filhos – que deixassem terra e mar, onde as glórias eram bastantes, e para engrandecer mais a pátria, foram buscar pedaços de azul no céu. Lembram Gama, falando do Rei Sabido, pela boca de Camões: é tão fraco que por isso nos causa pena ser a nossa vida cousa tão pequena. Na estrada dos Bandeirantes Paulistas, um povo – saúda os bandeirantes do céu".

Aos itinerantes foram oferecidas duas lindas corbeilles, sob entusiásticos aplausos.

Finda a cerimônia, os destemidos azes foram apresentados aos srs. dr. B.de Moura Ribeiro, presidente da Câmara; Arnaldo Ferreira de Aguiar, vice-prefeito, em exercício, e deputado A. S. Azevedo Júnior, que haviam seguido para o Cubatão, a fim de aguardar a sua chegada.

O sr. Gago Coutinho passou, então, para a limousine da presidência, em companhia do sr. presidente, e o sr. Sacadura Cabral tomou lugar no automóvel do sr. vice-prefeito.

A viagem foi continuada, não sem grande dificuldade, em virtude do grande número de automóveis que trafegavam na estrada de rodagem, conduzindo exmas. famílias e manifestantes.

A chegada – A Rua Visconde de São Leopoldo, desde o Saboó até a Rua São Bento, achava-se quase que intrafegável, tal era o número de pessoas que desde cedo se enfileiravam pela calçada, aguardando ansiosamente a passagem dos denodados pilotos.

Naquelas vias públicas foram armados arcos triunfais, entrelaçados por festões e bandeiras.

Cerca das 11,30 horas, a limousine apontava na Rua S. Leopoldo. Um frêmito de entusiasmo fez movimentar incessantemente a compacta massa.

Os automóveis conduzindo os aviadores passavam por entre alas de povo com enorme dificuldade. Dir-se-ia que a população, delirante, queria arrebatar Gago Coutinho e Sacadura Cabral para levá-los carregados pelas ruas do itinerário estabelecido.

Durante o seu trajeto até a esquina da Rua São Bento, aplausos frenéticos e vivas entusiásticos formavam um ruído ensurdecedor.

Não havia quem pudesse conter a ansiedade e o entusiasmo da população.

Os poucos policiais, destacados para regularizar o trânsito, eram impotentes para reprimir o verdadeiro ataque dos manifestantes aos automóveis que conduziam os heróicos azes.

Da Rua S. Bento, a comitiva dirigiu-se em

Visita ao Paço Municipal – No Largo Marquês de Monte Alegre e sob o toldo da Inglesa, avultava consideravelmente o número de pessoas.

O Paço Municipal achava-se repleto de autoridades, pessoas gradas, exmas. famílias, representantes da imprensa e outras.

Ao despontar os automóveis, naquela rua, aquele formigueiro humano começou a locomover-se com dificuldade.

A sacada do edifício da Municipalidade, que se achava todo ornamentado, interior e exteriormente, apresentava aspecto festivo, tendo a realçá-lo as nossas encantadoras patrícias, que o ocupavam totalmente, munidas de cestinhas com pétalas de flores, para atirá-las à chegada dos ilustres visitantes.

Estes, efetivamente, chegaram à porta principal do edifício às 12,10 horas, sendo recebidos pelos srs. comendador João Manuel Alfaya Rodrigues, vice-presidente; Benedicto Pinheiro, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, João Gonçalves Moreira, coronel Manuel Ribeiro de Azevedo Sodré, Alberto Fernandes Leal, dr. José de Souza Dantas e dr. Heitor de Moraes, vereadores; capitão João Salermo, diretor, e Francisco Paíno, 1º oficial da secretaria da Câmara.

Gago Coutinho e Sacadura, penetrando, a muito custo, no edifício, foram recebidos sob prolongadas salvas de palmas de todas as pessoas presentes, que enchiam literalmente as principais dependências.

Do lado de fora, sob o toldo da Inglesa, achavam-se postadas três bandas de música – a do Corpo de Bombeiros, Colonial e União Portuguesa – que executaram ao mesmo tempo A Portuguesa e o Hino Nacional.

Acompanhados até o gabinete do sr. presidente da Câmara, os valentes navegadores do ar, após breve palestra com as autoridades presentes, percorreram o gabinete do prefeito, sala da Biblioteca e sala das sessões, admirando as várias obras de arte existentes, inclusive a tela do padre voador Bartholomeu de Gusmão, e fotografias do monumento que vai ser erigido ao imortal santista.

Ingressando na sala das sessões, os distintos visitantes foram aclamados pelas senhoras e senhoritas da nossa elite e cobertos de pétalas de flores.

Naquela sala se achavam formados cerca de cem alunos, de ambos os sexos, dos cursos diurno e noturno da Escola Portuguesa, os quais cantaram os hinos nacional e português.

Finda essa significativa homenagem dos pequenos educandos, Gago e Sacadura dirigiram-se para a sacada, cumprimentando a população que, de fora, delirava de entusiasmo.

Um viva geral e uníssono reboou, precedido de vibrantes palmas.

Dentre o elevado número de pessoas presentes, conseguimos anotar as seguintes: famílias– Azevedo Júnior, Moura Ribeiro, - Joaquim Montenegro, Azevedo Sodré, Porchat de Assis, Macedo Soares, Benedicto Pinheiro, Francisco Ribeiro, dr. Carvalhal Filho, João Mourão, Armando Stockler, Affonso Costa; mmes.: Carlos Affonseca, dr. Schmidt Sarmento, dr. Alberto Moura Ribeiro, Hormínio Ferreira Martins, Arlindo Aguiar Júnior, Victor Affonseca, dr. Arthur Costa, Álvaro Montenegro, Azevedo Sodré, João Salermo, Manuel Augusto Espínola, Manuel Domingues, viúva José Maria de Barros Faria, e os srs: dr. Ibrahim Nobre, delegado regional; Carlos Luiz de Affonseca, Odilon Bezerra de Figueiredo, representando a Inspetoria da Alfândega; Armando Stockler, diretor geral da Prefeitura; Valentim Ribeiro de Mello, vice-cônsul de Portugal; dr. J. Carvalhal Filho, B. De Castro Prado, M. Nascimento Júnior, diretor d'A Tribuna; Francisco Marques Bento de Souza, Bento de Carvalho, Joaquim Figueiredo da Silva Pinto, Damaso Wandigton, membros da colônia portuguesa; capitão José Pedrozo de Oliveira, comandante do destacamento de polícia; Wallace Simonsen, dr. Arthur Costa, dr. Antonio Arantes, dr. Almiro Costa, Álvaro Montenegro, dr. Adolpho Porchat de Assis, Manuel Augusto Espínola, Octacílio D. Martins, capitão João Maurício, comandante e oficiais do Corpo de Bombeiros, Arlindo Aguiar Júnior, Victor Affonseca, dr. Schmidt Sarmento, J. G. Cramer, cônsul do México, Antonio Pereira Franco, dr. Dinamérico do Rego Rangel Júnior, dr. Fábio de Aguiar Goulart, Wilfrido Moraes, Orlando Esteves, Aristóbulo Monteiro, Manuel Augusto Espínola, Ramiro Piccioni, S. Galeão Coutinho, Furtado de Oliveira, Adolpho Baptista da Silva Aguiar, Gonçalo Coimbra, João Osório da Fonseca, Francisco Ribeiro, Heitor de Azevedo Moniz, Arthur Alves Firmino, Augusto César de Abreu, J. B. Gaspar de Sá, Marcílio Dias Fontes, Heraldo Duarte, Ataualpa Ferraz Moreira, Astolpho Corrêa, Mário Miranda e outros.

Cerca das 13 horas, os eminentes aviadores deixavam o edifício da Municipalidade, entre os aplausos, cada vez mais vibrantes, de todos.

Durante o trajeto até o Hotel do Parque Balneário, foram os visitantes ovacionados insistentemente.

Toda a população de Santos deslocou-se para o centro da cidade, tomando lugares nas vias públicas por onde devia passar a comitiva.

As fachadas dos prédios, todos embandeirados, davam um aspecto festivo. As sacadas eram ocupadas por senhoras e senhoritas.

O cortejo era enorme; o número de automóveis que o compunham, incontável.

Na Rua Senador Feijó e na Avenida Ana Costa, principalmente, estabeleceram-se duas extensas fileiras de autos, cujos passageiros conduziam bandeirolas com o retrato dos denodados pilotos.

No Parque Balneário Hotel – Seria impossível dizer o que foi o imponente aspecto da manifestação feita aos aviadores no Parque Balneário Hotel. Em toda a extensão da Avenida Ana Costa, desde Vila Mathias até o Gonzaga, os automóveis deslizaram entre duas muralhas humanas, que aclamavam com delírio a passagem dos heróis. Gente de todas as classes sociais, desde o trabalhador humilde que povoa o Campo Grande e adjacências, até as pessoas ricas e abastadas que ocupam os vilinos daquela via aristocrática, tudo confluiu para a avenida a assistir ao desfile do cortejo de autos.

Jamais a cidade de Santos presenciou, com efeito, um espetáculo tão impressionante. Impressionante pela avultada massa de povo, que se tornou compacta em todas as ruas por onde passaram os aviadores e pela espontaneidade e sinceridade que bem se patenteavam em suas ruidosas demonstrações.

Ao entrar no Parque, onde mais se adensava a multidão, girândolas em quantidade infinita espoucaram no espaço, misturando-se ao rumor dos manifestantes, que não cessavam de ovacionar os heróis.

E a onda humana se foi tornando cada vez mais forte, avançando para as imediações do grande Hotel, espalhando-se pelo pequeno parque ali existente, derramando-se pelas alpendradas, aglomerando-se na avenida.

As famílias da elite paulistana e do nosso set, que ora fazem temporada no Parque Balneário, prorromperam numa delirante manifestação aos aviadores, cobrindo-os de flores à entrada.

O contra-almirante Gago Coutinho e capitão Sacadura Cabral recolheram-se aos aposentos que lhes foram reservados, a fim de repousar da viagem e aguardar a sua bagagem, a fim de se prepararem para o lauto almoço que a colônia portuguesa lhes oferecia no Club XV.

A multidão curiosa não abandonou as imediações do Parque Balneário até a saída dos aviadores. Cerca das 15 horas, eles desceram de seus aposentos, a fim de ir ao XV.

Novas e frenéticas demonstrações lhes foram feitas pela multidão.

Formou-se um suntuoso cortejo de automóveis. Em toda a extensão da Avenida Vicente de Carvalho, por onde passou o cortejo, famílias e demais pessoas, em número elevado, aclamavam os heróis do ar.

O cortejo demandou a Avenida Conselheiro Nébias acima, chegando daí a pouco

No Club XV, onde foram os itinerantes recebidos à porta principal pelos srs. João Carlos de Mello, presidente e demais diretores daquela fidalga agremiação social.

Já era crescido o número de pessoas que, no cruzamento das ruas Conselheiro Nébias e 7 de Setembro, aguardavam a chegada da comitiva.

Os mesmos vivas e as mesmas palmas vibrantes se fizeram ouvir, tanto de fora, como de todas as exmas. famílias que se encontravam no interior do Club XV.

Ao almirante Gago Coutinho e ao comandante Sacadura foram apresentadas as autoridades e pessoas presentes.

Cerca das 16 horas, teve lugar o almoço.

O salão nobre do XV esplandecia. Ornamentado com apurado gosto pela conceituada casa Flora Santista, dos srs. Koopschtz e Pabst, apresentava um aspecto deslumbrante. Espalhadas pelo salão viam-se 22 mesas, bem dispostas e artisticamente ornamentadas com tufos de crisântemos, crisandálias, cravos, rosas e violetas.

Ao centro foi armada uma grande mesa, em forma de O, destinada aos aviadores e principais autoridades, tendo no meio um aquário.

Ao derredor do salão, oito cantoneiras ostentavam lindos buquês de rosas e margaridas, com liames de asparago.

Outros motivos ornamentais, em estilo americano, sobressaíam.

À cabeceira sentaram-se os srs. contra-almirante Gago Coutinho e comandante Sacadura Cabral, tendo, ao centro, o sr. vice-prefeito, em exercício.

Os lugares da direita foram ocupados pelos srs. comendador João Manoel Alfaya Rodrigues, vice-presidente da Câmara; dr. Flávio Augusto de Oliveira Queiroz, juiz de direito da 2ª vara; dr. Mário de Almeida Pires, juiz da vara criminal; capitão-de-mar-e-guerra Tancredo de Gomensoro, capitão do Porto; Valentim Ribeiro de Mello, vice-cônsul de Portugal; João Carlos de Mello, presidente do Club XV; Joaquim Figueiredo da Silva Pinto e Francisco Marques Bento de Souza, da comissão de festejos.

Os lugares da esquerda foram ocupados pelos srs. dr. Laudo Ferreira de Carmargo, juiz de direito da 1ª vara; deputado A. S. Azevedo Júnior, Odillon Bezerra de Figueiredo, pela Inspetoria da Alfândega; Aristides Correa da Cunha, Bento de Carvalho e Mariano da Câmara Leite, membros da comissão de festejos; dr. Thomaz d'Alvim, ajudantes de ordens do almirante Gago Coutinho; dr. Carvalhal Filho e Alberto Baccarat, pela Associação Comercial e provedoria da Santa Casa.

Nas demais mesas viam-se os srs. coronel Antonio Cândido Gomes, superintendente da Companhia Docas; José Lobo Vianna, guarda-mor da Alfândega; dr. Victor de Lamare, engenheiro da Companhia Docas; Carlos Luiz de Affonseca, tabelião do 5º ofício e membro do diretório político local; Benedicto Pinheiro, Alberto Fernandes Leal, João Gonçalves Moreira, coronel Manoel Ribeiro de Azevedo Sodré, dr. José de Souza Dantas e dr. Heitor de Moraes, vereadores; Horácio de Faria, M. Nascimento Júnior, diretor d'A Tribuna; cap. João Salermo, diretor da Secretaria da Câmara; Antonio Xande, administrador da Recebedoria de Rendas; dr. Augusto Barbosa, suplente substituto do juiz federal; dr. Bruno Barbosa, Francisco Pereira da Cunha, Júlio Conceição, Arthur Alves Firmino, dr, João B. De Castro Prado, dr. Francisco de Malta Cardoso, Eduardo B. Vériot, síndico da Câmara dos Corretores de Fundos Públicos; Albano de Oliveira Camargo, secretário da Bolsa Oficial de Café; Walace Simonsen, da Câmara Sindical dos Corretores de Café; major Luiz Alves de Carvalho, presidente da Federação Paulista das Sociedades do Remo e do Tiro Naval; capitão tenente Alcino Cochrane de Affonseca, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros. dr. Bernardo Browne, gerente da Companhia City; Antonio Severo, comendador Rocha Soares, comendador João da Silva Monteiro, 1º tenente Arthur Durão, diretor do serviço de pesca; 1º tenente João Carlos Cordeiro da Graça, imediato da Escola de Aprendizes Marinheiros; José da Silva Novita, Augusto Cesar de Abreu, José da Silva Gomes de Sá, João Mourão, Antonio Marques Bento de Souza, Antonio Marcos Ferreira, Alberto Arantes de Seabra e Sá, Damaso Wandignton, Diamantino Ferreira Ramos, José Alberto de Souza Santos, João José Clemente, Antonio Pacheco, Fernandes Vaz Pacheco de Castro, Antonio Ribeiro Moreira, Pedro Lapetina, Joaquim Pedro dos Santos Filho, José Lourenço Martins, Alfredo Garcia da Silva, Antonio Augusto dos Santos, Francisco Viriato da Costa Corrêa, Manoel Gaspar Guerra, Narciso Ferreira Lage, Antonio Mendes Guimarães e Silva, Amadeu Rodrigues Amado, Joaquim Moreira, Antonio Ramos e Silva, Arnaldo J. Silva, M. Fins Freixo, Annibal da Cunha Cabrera, Eduardo Corrêa, Sebastião Affonso Ferreira, Domingos Ribeiro Moreira, Domingos de Oliveira Lisboa, Duarte Vaz Pacheco de Castro, Coelho Germano, Firmino Augusto, Sérgio C. da Costa Fontes, Max Valdes, Francisco José de Castro, cônsul do Uruguai; Júlio Doneux, cônsul da Bélgica; J. G. Cramer, cônsul do México; Armando Lichti, cônsul da Noruega; Reginald Seccombé, vice-cônsul da Inglaterra; W. Gooforth, vice-cônsul dos Estados Unidos da América do Norte; Luiz de Trápaga, vice-cônsul da Argentina; cav. Guglielmo Fontana, vice-cônsul da Itália; P. Barida, vice-cônsul da França; dr. Amazonas Duarte, Alberto de Carvalho, Perillo Prado, S. Galeão Coutinho, Oswaldo Silva, representantes da imprensa, e Francisco Paino, d'A Tribuna.

O ágape obedeceu ao seguinte cardápio:

Cocktail's: Vins. Grandjó, Collares-Ayres, Serradayres, Beaujolais, Champagne H. Abelé Cave Particuliere, Liqueurs, Cigares; Froidz, Assiette anglais, Salade Macedoine; Poisson. Filet de sole Marigny; Relavé, cets á la parisienne; Légumes, Asperges sauce mousseline; Rôti. Dinde aux marrons; Entremets, Gateau Polka, Fromage, Fruits, Café.

Durante o almoço, uma esplêndida orquestra, composta de dez professores e sob a direção do sr. Djalma de Pádua, executou o programa seguinte:

1) Ouverture – Poete e paysan
2) Serenata Anniversaire
3) Cavalleria Rusticana – Fantasia
4) Kissing – Valsa
5) Geisha
6) Maria Pereira – Fado
7) Traviata – Intermezzo
8) Barbeiro de Sevilha
9) Melodia – Fycher
10) Fulvia – Gavotta
11) Aída – Pout-pourri
12) Au pays bleu – Fantasie.

O salão achava-se repleto de exmas. senhoras e gentis senhoritas da nossa elite, emprestando àquele ambiente um encanto perturbador.

Ao champanha, orou o sr. dr. Thomaz d'Alvim.

S.s. em ligeiras e inspiradas palavras, saudou, em nome da colônia portuguesa de Santos, os intrépidos pilotos, assegurando-lhes que não só os portugueses, mas também os brasileiros, se sentiam jubilosos por vê-los ali presentes.

O sr. Arnaldo Aguiar, vice-prefeito, em exercício, levantou a sua taça em nome da cidade de Santos, em honra dos bravos pilotos, legítima glória do povo português.

Ergueu-se, depois, a figura simpática do almirante Gago Coutinho, que, em palavras repassadas de emoção, agradeceu aquela homenagem dos seus compatriotas e a manifestação que a cidade de Santos lhe fizera e ao seu companheiro Sacadura Cabral.

O sr. comendador Alfaya Rodrigues saudou, por sua vez, em nome da Câmara Municipal, os queridos hóspedes.

Encerrando a série de brindes, o contra-almirante Gago Coutinho levantou um brinde de honra ao sr. dr. Epitácio Pessoa, presidente da República.

Os oradores foram muito aplaudidos, notadamente o contra-almirante Gago Coutinho, cujas últimas palavras foram sufocadas por estrepitosas palmas e vivas.

Findo o almoço e após breve palestra, os pilotos do Fairey 17 retomaram os automóveis, seguindo para o Parque Balneário Hotel, onde se acham hospedados.

No Real Centro Português - A sede do Real Centro Português, brilhantemente ornamentada e iluminada, abriu-se ontem para a recepção dos dois aviadores.

A essa festa não compareceu o capitão Sacadura Cabral, que se achava ligeiramente enfermo.

Muito antes da hora marcada para a festa, já o edifício se achava circundado pela massa popular, que ansiosamente esperava a chegada dos aviadores e recebeu com aplausos e hurras o contra-almirante Gago Coutinho.

No salão nobre do Real Centro foi então instalada a sessão solene, presidida pelo contra-almirante aviador, ladeado pelos srs. dr. B. de Moura Ribeiro, presidente da Câmara Municipal, e Arnaldo Aguiar, vice-prefeito, em exercício.

Aberta a sessão e explicada a ausência do capitão Sacadura Cabral, que por motivo de moléstia deixou de comparecer à festa, foi dada a palavra ao comendador Luiz de Mattos.

O orador discorreu longamente sobre os episódios da história portuguesa que mais destacam o tradicional heroísmo da raça, de que os bravos aviadores, que vêm de concluir o arrojado raid Lisboa-Rio, são gloriosos representantes.

Na sua oração, o comendador Luiz de Mattos demonstrou um conhecimento minucioso da História do seu país e proporcionou aos ouvintes ensejo de mergulhar no passado de Portugal e contemplar os fatos que ilustram os seus gloriosos fastos.

O orador foi muito aplaudido pela vasta assistência.

Seguiu-se com a palavra a senhorita Cypriana Lodeiro, que enalteceu as virtudes da raça heróica de Camões, a cujo poema ciclópico os dois bravos aviadores juntaram mais uma página fulgurante.

A oradora finalizou a sua oração fazendo o elogio da mulher portuguesa, numa comovente página.

Seguiu-se, ainda, com a palavra, o sr. Alberto de Carvalho, que dirigiu uma concisa e eloqüente saudação aos bravos aviadores.

Encerrando a sessão, falou o contra-almirante Gago Coutinho, que em seu nome e no do capitão Sacadura Cabral teve palavras de afeto e gratidão pelas homenagens recebidas.

Parte da glória dessa arriscada empresa, disse caber ao Brasil, pois foi da fé inabalável, da perseverança na crença no seu êxito, que alcançaram as plagas brasileiras.

Gago Coutinho terminou o seu discurso sob o reboar das palmas entusiásticas da colossal assistência que tomava inteiramente o vasto salão nobre do Real Centro.

Em seguida, passaram à secretaria do Real Centro, onde foi servida uma taça de champanha às pessoas presentes e onde o contra-almirante Gago Coutinho deixou suas impressões no Livro de Visitas do Centro.

Cerca da meia-noite, o ilustre visitante deixou o Centro sob delirantes aclamações da compacta multidão que se achava em frente do edifício, cuja fachada, feericamente iluminada, apresentava um aspecto deslumbrante.

OUTRAS NOTAS

O aspecto da cidade à noite - Durante a noite a cidade, na parte central, apresentava um aspecto lindíssimo.

As ruas eram imensamente trafegadas por grupos de manifestantes e de automóveis, estabelecendo-se um verdadeiro corso.

As ruas General Câmara e Rosário, iluminadas profusamente, por arcos armados na direção das sarjetas, registraram movimento desusado. Mereceu especial atenção de todos essa ornamentação.

Os edifícios do Club XV, Real Centro Português, Centro Republicano Português e Casa Relâmpago apresentavam, igualmente, aspecto deslumbrante pela profusa iluminação a lâmpadas elétricas.

- O serviço de veículos esteve a cargo da Polícia Municipal, dirigido pessoalmente pelo sr. Antonio Pereira Franco, chefe da 2ª seção.

- Os aviadores, na visita que fizeram ao Paço Municipal, deixaram consignadas no respectivo livro as suas assinaturas.

- Durante a noite a população, jubilosa pelo grande acontecimento da visita dos heróicos navegadores do ar, deu largas à sua alegria, enchendo os cafés e confeitarias, e passeando pela cidade.

- O serviço de hotel, no Club XV, a cargo do sr. Thomas Martinelli, foi irrepreensível e esmerado, agradando imensamente.

Merece, igualmente, destaque a belíssima e artística ornamentação, a cargo dos srs. Koopschitz e Pabst, proprietários da acreditada Flora Santista.

- Foi muito elogiada a ação do sr. dr. Ibrahim Nobre, delegado regional, mandando recolher os policiais destinados ao serviço da ordem, causando esse fato a melhor impressão no espírito público.

O programa de hoje - Conforme programa que publicamos, os arrojados pilotos visitarão, hoje, S. Vicente, as nossas praias e Guarujá, devendo partir do Parque Balneário Hotel cerca de 8 horas, acompanhados dos membros da comissão de festejos e autoridades.

Sauterie no Miramar às 20 horas - Em homenagem aos bravos aviadores portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, realiza-se hoje, às 20 horas, no querido Miramar, um grande festival, que será honrado com a presença dos distintos marinheiros.

Na tela, será focalizado o magnífico filme, tirado por ordem do governo, por ocasião da chegada dos gloriosos aviadores lusos ao Rio de Janeiro e S. Paulo.

A este filme seguir-se-á uma encantadora sauterie, abrilhantada pelas jazz-band e orquestra Miramar.

O baile de hoje no Club XV em homenagem aos aviadores - A diretoria do Club XV, encarnando o sentimento da sociedade santista, no que ela tem de mais representativo, de mais fino e elegante, abre hoje os seus magníficos salões para uma deslumbradora soirée dançante em homenagem aos heróicos aviadores portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho.

Seria ocioso pretender antecipar aos leitores o que vai ser essa festa, dada a participação irmã que a elite santista está tendo nas entusiásticas manifestações aos gloriosos mensageiros d'além-mar, e se, em Santos como em todo o país, do júbilo da gente portuguesa não compartilhasse, sempre, a sociedade brasileira, tanto uma e outra se confundem fraternalmente.

A festa de hoje nos suntuosos salões do XV será abrilhantada por excelente orquestra.

Por nosso intermédio, a diretoria do XV mais uma vez faz publico que será de rigor o traje para o grande baile de hoje.

Récita de gala no Teatro D. Pedro II em benefício aos náufragos do Avaré - Amanhã, no Teatro D. Pedro II, realiza-se a grande récita de gala, com a presença dos gloriosos aeronautas Gago Coutinho e Sacadura Cabral, e autoridades locais.

Representa-se a bela opereta Última valsa, uma das peças que maior sucesso alcançou na temporada.

Este espetáculo promete revestir-se de grande brilho, para mais que cinqüenta por cento da receita bruta será entregue aos heróicos aeronautas para auxílio das famílias das vítimas do vapor brasileiro Avaré.

Os bilhetes acham-se à venda na Confeitaria Santista.

- O Centro dos Varejistas de Santos endereçou aos bravos aviadores o seguinte ofício:

"Ilmos. e exmos. srs. almirante Gago Coutinho e comandante Sacadura Cabral.

"Prezadíssimos compatriotas.

"Cumprindo tão elevada quão imerecida missão a que me obriga o meu cargo, tenho a honra de levar ao conhecimento de vs. excias. que a diretoria do Centro dos Varejistas de Santos, em sessão efetuada em 6 do atual, deliberou, por unanimidade de votos, lavrar em ata um voto de congratulações pela vossa chegada, ilesos e triunfantes, à baía do Guanabara.

"Deliberou também oficiar a vs. excias., dando conhecimento d'aquela deliberação, e ainda transmitir-vos as suas felicitações pela vossa visita à terra querida dos Andradas.

"A associação da classe comercial a retalho, onde não existe distinção de nacionalidade nem credo político, e os seus diretores, que são comerciantes e não poetas, não pretendem descrever com flores de retórica e sublimidade de poetas toda a extensão da onda de prazeres que inunda e empolga os corações de patriotas, diante do feito único da História, da aviação aérea, que, apesar de todos os tropeços, de todos os perigos que tivestes de vencer, conseguistes corajosa, honrosa e gloriosamente levar a cabo.

"Mas estais satisfeitos, já o dissestes por vezes!

"As ruidosas manifestações de que tendes sido alvo, e o carinhoso e inenarrável acolhimento que tendes recebido por toda a parte e que ultrapassaram a vossa e a nossa expectativa, são fruto das simpatias que semeastes na senda da vossa arriscada viagem científica.

"Tivestes dissabores, e foram duros na verdade, e enfrentastes por vezes a morte, em troca da ciência e do pátrio amor.

"Acreditamos, porém, que não tendes feridas a pensar nem dores a suavizar, quando só existem braços amigos a estenderem-se para vós e beijos inocentes a tocar as vossas frontes coroadas com rosas soltando aroma em manhãs de primavera.

"Que sejais bem-vindos, são os nossos votos fervorosos, e que sejais felizes em toda a vossa jornada, são os nossos desejos mais sinceros - (a) José dos Santos Sobrinho, 1º secretário".

- A Associação das Mães Cristãs, fazendo celebrar, no dia 12, às 9 horas, na igreja do Rosário, uma missa em ação de graças pelo feliz êxito dos aviadores portugueses, convida todas as associadas, associações religiosas, autoridades civis e militares, comissão de festejos, comércio, exmas. famílias e o povo em geral, que queiram associar-se a esta significativa homenagem.

- O sr. Gervásio Fernandes Sobreira, proprietário do Armazém Novo Mundo, à Rua S. Francisco n. 90, querendo comemorar a chegada a Santos dos intrépidos aviadores portugueses, fez subir ontem, às 16 horas, um colossal balão de 15 metros de altura por 40 de circunferência, levando as bandeiras: portuguesa, paulista, brasileira e espanhola. O mesmo foi solto à Rua Amador Bueno n. 276.

Um interessante passatempo - Dentre os trabalhos de alegoria aos aviadores, nenhum mais interessante do que o que está sendo vendido nesta cidade, da autoria do sr. Álvaro Barros, recentemente chegado do Rio de Janeiro.

É um curioso quadro de papel cartão com as efígies superpostas de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que magicamente surgem quando acionada uma pequena lingüeta.

- A colônia portuguesa domiciliada na Serra de Paranapiacaba mandou confeccionar na casa Castro, em S. Paulo, duas grandes e valiosas medalhas de ouro, desenho belíssimo do sr. Theophilo Gonçalves, telegrafista da S. P. R., contendo de um lado, gravados, os retratos dos dois aviadores, o Fairey 17, e ao alto a Cruz de Malta.

No verso, essas medalhas têm a seguinte inscrição:

"Aos bravos aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho, oferece a colônia portuguesa domiciliada na Serra de Paranapiacaba - 1922 - S. Paulo - Brasil".

Esses prêmios, se os aviadores regressarem a S. Paulo pela estrada de ferro, serão entregues no Alto da Serra, e se voltarem de automóvel a entrega se dará aqui.

O comandante Sacadura Cabral sente-se ligeiramente indisposto - Durante o banquete, ontem realizado no Club XV, o ilustre comandante Sacadura Cabral, que veio um tanto gripado de S. Paulo, sentiu-se indisposto, sendo logo chamado o dr. Othon Feliciano, o qual o acompanhou ao Parque Balneário Hotel.

O glorioso aviador português, a conselho daquele facultativo, recolheu-se aos seus aposentos particulares e, pelas informações que nos deu aquele médico, sabemos ser lisonjeiro o seu estado.

Os aviadores portugueses em Belo Horizonte

BELO HORIZONTE, 10 - Os aviadores portugueses chegarão aqui no domingo próximo, pelo noturno. O governo estadual, de acordo com o governo brasileiro, providenciou, junto à diretoria da Central, sobre a ligação de carros especiais na estação de Barra do Piraí, onde esperarão os ilustres visitantes as comissões representando o governo, o prefeito de Belo Horizonte, a imprensa e a colônia portuguesa aqui domiciliada.

O POLICIAMENTO

Várias ocorrências - O serviço de policiamento no centro da cidade, durante o dia de ontem, foi confiado ao subdelegado Baccarat que tinha às suas ordens um sargento e cerca de quarenta soldados do 5º batalhão.

Era bem de ver, por isso, que o reduzido número de policiais seria impotente para conter a incalculável multidão que se agitou durante a chegada dos aviadores portugueses a Santos.

Foi esta, afinal, a causa de várias ocorrências registradas ontem.

Entusiástica, e por vezes impaciente, a multidão comprimia-se afoitamente em todos os lugares por onde passassem ou pretendessem passar os nossos caríssimos hóspedes.

No Largo Marquês de Monte Alegre, bem defronte ao Paço Municipal, onde às 12,30 horas mais ou menos se achavam os aviadores em visita aos representantes dos poderes locais, aglomerou-se uma avalanche de curiosos, calculada, segundo uns, em 10.000 pessoas, segundo outros em muito mais.

A polícia resolveu, então, estabelecer um cordão que isolasse o Paço Municipal, a fim de que não fosse invadido o edifício da Câmara.

A força policial ali postada (20 soldados e 1 sargento) jamais poderia dar cabal desempenho a essa missão.

Os soldados faziam o possível para cumprir a ordem recebida, isto é, para manter à distância os milhares de pessoas que ali se achavam.

Uma meia dúzia de soldados, excitados pelo vozerio do povo, desnorteados completamente ante a multidão que fremia, entendeu de, em certa hora, sair do cumprimento exato dos seus deveres, exorbitando da parcela de autoridade de que era investida.

Em dado instante, de moto próprio, segundo nos informou o subdelegado Baccarat, que não se achava no local no momento do desatino, os soldados, não podendo conter a onda humana que queria ultrapassar as raias do cordão, deliberaram espaldeirar o povo, crentes de que assim, com essa violência condenável, conseguiriam o afastamento dos curiosos.

O que se deu, então, não se descreve. Gente a correr, gritos, choros de crianças, populares feridos etc.

Foi um momento de estupefação geral.

O dr. Ibrahim Nobre, delegado regional de polícia, que se achava no interior da Câmara, ao ter conhecimento da grave ocorrência, desceu apressadamente a escadaria do edifício e, em altos brados, conseguiu dominar a soldadesca.

Isso feito, s.s. mandou que todos os soldados dali se recolhessem imediatamente ao quartel, dispersando-os do serviço de policiamento, que passou então a ser feito, exclusivamente, por aquela autoridade e alguns agentes de confiança.

Ante as enérgicas e decisivas deliberações do dr. Ibrahim Nobre, a multidão prorrompeu em entusiásticas aclamações a s.s., carregando-o em triunfo.

No lamentável espaldeiramento, saíram feridos: Paulo Ramos, preto, português, com vários ferimentos pela cabeça; Olivia Milina, italiana, com escoriações pelos braços; Arthur Marques, português, com ferimentos na cabeça; João Manuel da Silva, com uma contusão no ombro. Faltam os nomes de algumas outras vítimas da sanha dos soldados.

O primeiro dos feridos, Paulo Ramos, vingou-se duas horas mais tarde, ferindo gravemente um cabo de polícia com dois tiros de revólver.

- Na Delegacia Regional de polícia e no quartel da força, foram abertos inquéritos, a fim de que fiquem perfeitamente apuradas as responsabilidades.

- O gesto do dr. Ibrahim Nobre, fazendo recolher a força insubordinada, foi muito louvado por todos e está sendo favoravelmente comentado.

Punguista preso quando agia na Praça Monte Alegre - Ontem, durante o dia, o punguista Celestino Tavares, aproveitando a aglomeração de gente na Praça Monte Alegre, que ali ovacionava os aviadores portugueses, achou por bem pôr em prática as suas habilidades, conseguindo subtrair as carteiras de Albino Freitas, que continha a importância de 150$000, e de Carlos Troya, com a quantia de 250$000.

Porém, o conhecido punguista, que estava sendo vigiado por um inspetor de segurança, foi preso e recolhido ao xadrez, a fim de ser devidamente processado.

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