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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Monte Olivia

1925-1946

Após o lançamento do Cap Norte na linha sul-americana em 1922, a empresa Hamburg-Süd (HSDG) contava com três navios de passageiros de tonelagem importante e de construção relativamente recente (os outros dois eram o Cap Polonio e o Antonio Delfino).

Mas, nos planos da HSDG, a expansão da frota era a palavra-chave e o início dos anos 20 era tão promissor em termos de demanda de espaço de carga e passageiros que a companhia alemã não hesitou em projetar a construção de outros cinco transatlânticos para o Atlântico Sul.

O primeiro desses navios a sair da prancheta de desenho para as rampas do estaleiro foi o transatlântico misto (cargas e passageiros) Monte Sarmiento, que entrou em serviço no mês de novembro de 1924 - sendo, ao mesmo tempo, por alguns meses, o maior navio a motor até então construído.

O Monte Sarmiento deu início à série Monte, e o segundo dessa série foi batizado com o nome de Monte Olivia, sendo seguido em 1928 pelo Monte Cervantes e, em 1931, pelos Monte Pascoal e Monte Rosa.

Eram os anos de ouro do transporte mundial de passageiros, e os lançamentos de grandes navios transatlânticos se sucediam num ritmo impressionante. A HSDG ainda lançou, em 1927, o mais esplêndido de todos os seus navios, o Cap Arcona, destinado a substituir na Rota de Ouro e Prata o velho Cap Polonio, construído em 1914.


O transatlântico Alemão Cap Polonio, atracado no armazém 5 da Companhia Docas de Santos (CDS), na altura da Praça da República, por volta de 1925

Foto: acervo do despachante aduaneiro e cartofilista Laire José Giraud

Expansão - É necessário sublinhar o fato de que a Alemanha começava, na segunda metade dos anos 20, um período de expansão econômica e social após a tragédia da Primeira Guerra Mundial e a profunda depressão causada pelos desacertos impostos ao país pelo Tratado de Versalhes.

Essa expansão, ou renascimento do poderio germânico, não poderia deixar de afetar o comércio marítimo mundial, embora este fosse ainda largamente dominado pela Grã-Bretanha.

Na linha sul-americana, os ingleses haviam projetado e lançado, entre 1926 e 1932, nada menos do que 14 grandes transatlânticos (seis da série Highland, cinco da série Star, dois da série "A" do Royal Mail e o Reina del Pacifico).

Nesse mesmo período, os italianos haviam colocado nove transatlânticos na concorrência da Rota de Ouro e Prata (três da Cosulich, três do Lloyd Sabaudo e três da NGI), e os franceses mais quatro.

Todos os navios acima mencionados possuíam mais de 10 mil toneladas, e o espetáculo nos portos de suas escalas era, sem dúvida, de grande qualidade. Em Santos, nos anos 20 e 30, a cada dia, entravam um ou dois, às vezes até três, desses grandes e luxuosos navios!


O Monte Olivia foi o primeiro de uma série de cinco unidades gêmeas

Dez conveses - O Monte Olivia saiu de Hamburgo (Alemanha), na viagem inaugural, em 23 de abril de 1925, com destino aos portos do Rio da Prata, via Le Havre, Vigo, Lisboa, Rio de Janeiro e Santos. Tal como seus irmãos gêmeos, possuía sete conveses em superestrutura e três a nível de casco; cinco eram os porões de carga com capacidade total para 8 mil toneladas, e oito as paredes divisórias estanques.

O Monte Olivia foi o 117º navio da HSDG e seu número de construção na lista da Blohm & Voss de Hamburgo foi o 409. Seu porto de registro era Hamburgo e seu código de identificação era DIDS.

O grande número de passageiros e de tripulantes que o transatlântico transportava obrigaram o construtor a colocar nada menos do que 28 botes salva-vidas a bordo. Os motores eram quatro (de 6 cilindros cada) do tipo MAN, colocados em dois pares, cada par movendo o seu hélice correspondente. Estes eram de bronze com quatro pás e com um diâmetro de 5,5 metros.

Durante 14 anos permaneceria em serviço na rota atlântica da América do Sul, realizando um sem-número de viagens regulares. Nesse mesmo período, realizou vários cruzeiros marítimos, alguns no Mediterrâneo, outros para o Sul da Argentina e alguns também para o extremo setentrional da Noruega (Cabo Norte).

Esses cruzeiros tinham um grande sucesso junto ao público e permitiam à HSDG contornar de melhor maneira o difícil período que se seguiu ao crash (quebra) da Bolsa em Wall Street em 1929, e a consequente depressão do comércio mundial - que, entre outras implicações, praticamente paralisou o tráfego de carne argentina para a Europa.

Guerra - No dia 3 de setembro de 1939, com a declaração de estado de beligerância entre Grã-Bretanha, França e Polônia de um lado, e a Alemanha do outro, o Monte Olivia encontrava-se em viagem de retorno à Europa, e mais precisamente em navegação de Montevidéu a Santos.

Foi no porto santista que o transatlântico se refugiou nas primeiras horas do dia 4. Dez dias depois, o Monte Olivia, tendo desembarcado todos os seus passageiros e embarcado enorme quantidade de carga, zarpou de Santos com destino à Alemanha como blockade runner (rompedor de bloqueio). Depois de uma travessia arriscada, o transatlântico conseguiu alcançar o porto de Hamburgo em 19 de outubro de 1939.

Em janeiro de 1940, foi requisitado pela Kriegsmarine (Marinha de Guerra Alemã) para servir como navio-hotel para o pessoal em ativa no porto/base naval de Kiel. Nessa cidade permaneceu até quase o fim da guerra, quando, em fevereiro de 1945, com a Alemanha agonizando em batalha e com milhões de civis deslocados por seu território, o Monte Olivia foi transformado em navio-hospital e transferido para Gotenhafen, evacuando dessa cidade milhares de feridos e refugiados que eram transportados até Kiel.

Final - Foi nesse último porto que chegou ao fim o ex-transatlântico da HSDG. Na noite entre 3 e 4 de abril, as instalações portuárias de Kiel foram bombardeadas por nada menos que 700 aviões da 8ª Força Aérea dos Estados Unidos, que despejaram 2.200 toneladas de bombas de alto poder explosivo sobre a base naval.

Esse terrível bombardeamento provocou milhares de mortos e feridos, sendo afundados, em consequência dele, os submarinos alemães U-1221, U-2542, U-3505, U-237, U-749 e U-3003. Também foram vítimas os ex-navios de passageiros New York, de 22.337 toneladas, e o Monte Olívia.

No ano seguinte, 1946, as forças britânicas que ocupavam e controlavam, por conta dos aliados vencedores, o porto de Kiel, conseguiram recuperar a carcaça do Monte Olivia do fundo lamacento da baía, para desmontá-la em seguida como ferro-velho.

Monte Olivia:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: alemã
Armador: Hamburg Südamerikanischen D.G.
País construtor: Alemanha
Estaleiro construtor: Blohm & Voss (porto: Hamburg)
Ano da viagem inaugural: 1925
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 13.750
Comprimento: 152 m
Boca (largura): 20 m
Mastros: 2
Chaminés: 2
Velocidade média: 14,5 nós
Máquinas: 4 motores de 6 cilindros MAN a diesel, potência 6.800 HP
Hélices: 2
Tripulação: 280 homens
Passageiros: 2.528
Classes: 3ª - 1.372
  emigrante - 1.156

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 20/8/1992