No ano de 1910, a Pacific Steam Navigation Company (PSNC) foi adquirida pela concorrente Royal Mail (Mala Real Inglesa), a qual já havia comprado, quatro anos antes, os direitos do tráfego que a PSNC mantinha entre o Reino Unido e a Austrália. Naquele ano, os negócios da
PSNC não eram muito florescentes, devido a vários fatores que fugiam ao seu controle: a economia chilena era próspera, mas em nível bem menor do que as economias argentina e brasileira. Este fator favorecia a empresa
concorrente, ou seja, a Royal Mail, cujos navios só faziam a linha até Buenos Aires; outro fator de preocupação para a PSNC era a construção, que se realizava então, do Canal do Panamá, cuja abertura
provocaria uma forte diminuição de carga nas rotas costeiras do Sul do Chile, através do Cabo Horn.
A esse último fator juntava-se a inauguração, em 1910, da Ferrovia Transandina, ligando Buenos Aires a Santiago do Chile, linha ferroviária que deveria desviar passageiros e cargas que até então passavam pelos
navios da PSNC.
Nesse estado de coisas, através do impulso expansionista de Lorde Kylsant, presidente da Royal Mail, a PSNC cedeu a totalidade de suas ações à companhia concorrente.
Apesar desse fato, a PSNC manteve um gerenciamento próprio, com seu Conselho de Direção presidido sempre por Thomas Rome (que havia sido o último presidente da empresa antes de sua venda),
sua frota e suas rotas permanecendo intactas. Na prática, a única modificação havia sido a mudança do "pacote acionista", de um grupo para o outro.
Impacto do canal - No dia 15 de agosto de 1914, o Canal do Panamá foi aberto oficialmente para o tráfego mercante e sua abertura teve profundos efeitos nos negócios da empresa.
A partir daquela data, a frota da PSNC nunca mais cresceria em termos de número de navios, e os novos que seriam construídos daí em diante, o seriam por razões de substituição de outros
navios (que foram demolidos por idade ou afundados por causa de guerra ou acidentes).
Em 1927, dois dos três transatlânticos da PSNC, ambos datando de 1906, foram vendidos, e, para substituí-los, a empresa decidiu investir num navio de passageiros que seria, até então, o maior
ordenado por sua conta.
Assim sendo, o Ortega e o Oriana desaparecidos da lista de sua frota, foi dada em 1929 (apesar do crash de Wall Street) a ordem ao famoso estaleiro Harland & Wolff, para a construção do
Reina del Pacifico (Rainha do Pacífico, na tradução do espanhol).
O navio a motor Reina del Pacifico transportou em sua vida útil
um total de mais de um milhão de pessoas
Maior da frota - Lançado ao mar em setembro de 1930, era o primeiro navio da PSNC a ter o seu casco pintado inteiramente de branco e o primeiro dos navios de passageiros da empresa a
não ter o nome iniciado com a letra "O". Além disso, era o maior transatlântico da frota, com suas 17 mil toneladas.
No dia 23 de março do ano seguinte, realizou um cruzeiro inaugural nas águas, ainda gélidas, do Mar do Norte, levando a bordo uma centena de convidados da companhia.
Seu uso comercial inaugurou-se com uma viagem realizada em abril, entre Liverpool e Valparaíso, via portos de La Rochelle, Vigo, Bermuda, Bahamas, Havana, Kingston, Canal do Panamá, Guaiaquil, Callao e Antofagasta
no Chile.
Uma das características do transatlântico era a de que, de suas duas chaminés, a dianteira era só para a decoração arquitetônica.
Rota - O Reina del Pacifico foi escolhido, pela direção da PSNC, para reabrir a rota Europa-Atlântico Sul-Cabo Horn-Pacífico Sul, rota essa que havia sido abandonada após a
Primeira Guerra Mundial e que não era mais considerada como praticável, do ponto de vista econômico.
Na verdade, a viagem que o Reina del Pacifico executou a partir de janeiro de 1932 era pioneira em todos os sentidos, para um navio de passageiros daquele porte: Rota de Ouro e Prata até Buenos Aires, em
seguida Porto Stanley (Ilhas Malvinas ou Falklands), Punta Arenas (Chile), já no lado do Pacífico, e, em seguida, Coronel e Talcahuano, no Chile, e finalmente Valparaíso. No Brasil, escalava somente no Rio de Janeiro.
Esta rota seria feita uma vez por ano pelo Reina del Pacifico, sempre nos meses estivais do Hemisfério Sul (janeiro e fevereiro), o que facilitava o trânsito pelas águas do Cabo Horn. Nas outras épocas do
ano, o transatlântico ligava Liverpool e Valparaíso em viagem redonda através do Canal do Panamá.
Guerra - Em setembro de 1939, quando da eclosão do conflito na Europa, o Reina del Pacifico encontrava-se no estuário do Rio Clyde, aguardando ordens. Quatro dias depois, zarpou num comboio de 17
navios com destino aos portos britânicos do Extremo Oriente (Cingapura, Hong Kong e Sidney - este último na Austrália).
Em dezembro, voltou à Inglaterra e foi reconvertido em navio-transporte de tropas, iniciando-se assim uma movimentada etapa de sua vida útil, etapa essa que duraria até 1947 e na qual transportaria 150 mil pessoas,
percorrendo a incrível distância total de 350 mil milhas marítimas (648.200 quilômetros).
O Reina del Pacifico, durante a guerra, realmente esteve por todo o globo: em 1940 participou do transporte de tropas para a campanha da Noruega, mais tarde foi para Freetown (Serra Leoa, na África) e em
seguida para Suez, via Cabo da Boa Esperança, viagem que repetiu mais tarde no mesmo ano.
Em 1941, duas viagens entre a Inglaterra e os Estados Unidos, uma viagem para Cidade do Cabo (África do Sul) e outra entre Liverpool, Bombaim (Índia), Colombo (Sri Lanka, ex-Ceilão) e de volta para Liverpool.
Em 1942, outra viagem para Bombaim, uma para o Canadá, participando em seguida da Operação Torch, de desembarque no Marrocos. No ano seguinte, operou principalmente no Mediterrâneo, fazendo parte do comboio aliado
que desembarcou tropas aliadas na Sicília. No mês de novembro, zarpou de Liverpool para Bombaim, num comboio com outros 20 navios.
Em 1944, mais ação no Mediterrâneo, onde permaneceu durante dez meses, levando tropas de um lado para o outro; em seguida, realizou uma viagem em dezembro, entre Liverpool e Nova Iorque. Logo depois atravessou o
Canal do Panamá e foi empregado durante todo o ano de 1945 em diversas missões no Oceano Pacífico.
Pós-guerra - Terminado o conflito, não terminou sua utilidade. O Reina del Pacifico transportava então várias dezenas de milhares de soldados aliados que regressavam a seus países, sobretudo
americanos, canadenses e britânicos.
Em janeiro de 1947, voltou ao estaleiro que o havia construído e sofreu uma reforma profunda, que teve a finalidade de revertê-lo ao uso como navio de passageiros. Durante esses trabalhos, ao passar pelos testes de
navegação, sofreu violenta explosão na casa das máquinas, o que provocou a morte de 28 tripulantes e o seu retorno ao estaleiro.
Essa reforma durou nove meses e permitiu ao Reina del Pacifico retornar à linha Liverpool-Valparaíso em 1948. Nesse uso permaneceu por mais dez anos, até a decisão da PSNC de vendê-lo
em 1958. Em abril desse ano, foi levado para Newport (País de Gales), onde foi desmontado para ferragens pelos operários da British Iron and Steel Company.
Poucos transatlânticos tiveram uso tão intenso como o Reina del Pacifico, em cujos conveses viajaram mais de 1 milhão de pessoas em apenas 26 anos de atividade.
O transatlântico inglês Reina del Pacifico, da armadora Pacific Steam Navigation Company, fez viagem inaugural em 1931, escalando em Liverpool, La Rochelle, Vigo, Bermuda, Bahamas,
Havana, Kingston, Canal do Panamá, Guaiaquil, Callao e Valparaíso. Navegou até 1958 e em 26 anos transportou mais de 1 milhão de viajantes. Neste cartão-postal, é visto atracado no porto chileno de Valparaíso, tendo pela popa um navio da Matson
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Imagem do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 7/12/2014 |