O viaduto, quando no início da colocação do tabuleiro
Foto: site oficial do
viaduto
Engenharia
Um viaduto no céu
São Cristóvão nem precisará descer das nuvens para dirigir ali
Carlos Pimentel Mendes (*)
Se o padroeiro dos motoristas quiser dar umas voltinhas de
carro, a partir de agora poderá fazê-lo sem deixar o céu onde se afirma que esteja. Em vez de São Cristóvão descer, um viaduto - não
por acaso o mais alto do mundo - sobe acima das nuvens. Situado na França, o Millau Viaduc - este é o nome da obra, sobre o rio Tarn,
5 km a Oeste da cidade francesa de Millau - se eleva a 343 metros do solo. Só para comparar, o viaduto mais
alto da Rodovia dos Imigrantes, entre Santos e São Paulo, atinge modestos 80 metros de altura. É
considerada no momento a ponte mais alta do mundo. Não por acaso, é comparada com a torre Eiffel,
inaugurada em 1889 na capital francesa, com 320 m de altura (incluindo uma torre de TV de 16 m, instalada em 1946).
Colocação do tabuleiro e das pilastras de sustentação dos cabos
Foto: site oficial do
viaduto
A obra começou em 10/10/2001 com a instalação dos canteiros de serviço e demoraria 39 meses,
com entrega prevista para o dia 10/1/2005 (antecipada para 14 de dezembro de 2004). Os trabalhos foram iniciados oficialmente em 14
de dezembro de 2001 pelo então ministro de Transportes da França, Jean-Claude Gayssot.
Alguns números da obra: o pilar 7, o mais curto, tem 77 m de altura; e o pilar 2, mais alto,
atinge 245 m. O tabuleiro, de 2.460 metros de extensão e 32,5 m de largura, tem espessura de 4,2 m, possuindo grande leveza, pois é
formado por 173 grandes caixas metálicas que se estruturam como uma verdadeira coluna vertebral da obra. O peso total da armação
metálica é de 36 mil toneladas, cinco vezes o peso da torre Eiffel, e foram usados 85 mil m³ de concreto armado. Em forma de ponte
estaiada, o viaduto usa 154 tirantes, com pilastras metálicas de 87 m de altura acima da pista para a sustentação dos cabos
metálicos (que conferem estabilidade à estrutura).
Atravessando o vale do rio Tarn, entre os altiplanos Rojo e Larzac (distantes entre si 3
km), o viaduto multi-atirantado é levemente encurvado (segue um círculo num plano de 20 mil metros de raio de concavidade orientada
para Leste, e em rampa constante de 3,025% de Norte a Sul. A rodovia é do tipo 2x2 pistas de circulação, cada pista dupla (7 metros
de largura) margeada por uma faixa de emergência de 3 metros de largura, à direita, e uma faixa à esquerda de 1 metro, mais um
terrapleno central de 4,45 metros, totalizando 27,75 m de largura. A obra está equipada de barreiras pesadas e de telas de proteção
para os usuários contra o vento lateral.
Instalação das pilastras de sustentação dos cabos, sobre o tabuleiro
do viaduto
Foto: site oficial do
viaduto
Empreendedores - A Compagnie Eiffage du Viaduc de Millau (CEVM), concessionária do
viaduto por 75 anos após a inauguração, se comprometeu a garantir a qualidade da obra por 120 anos. Atravessando uma área de grande
beleza natural, e considerada uma das regiões naturais mais preservadas da França, a estrada teve cuidados especiais na sua
construção, para reduzir o impacto ambiental e se integrar harmoniosamente na paisagem. Daí, por exemplo, a solução do viaduto, com
apenas 7 pilares de apoio para um tabuleiro de 2.460 m - resultando em vãos de até 345 m entre esses pilares (para referência: na
Via Imigrantes, a distância máxima entre os pilares é de 90 m).
Assim, boa parte dos trabalhos foi feita pelas construtoras Eiffage TP e Eiffel (ambas
subsidiárias integrais do grupo francês Eiffage) em nove canteiros de obras instalados em Lauterbourg e Fos-sur-Mer, com as peças
sendo levadas prontas ao local do viaduto. Isso permitiu, por exemplo, evitar 5.000 rotações de caminhões na obra. E mesmo as zonas
de produção deverão ser restauradas após o término dos trabalhos, voltando ao aspecto anterior ao início da obra.
Todos os parceiros do empreendimento, aliás, possuem certificados ISO 9001, inclusive os
sócios industriais: Arcelor (aços), Lafarge Ciment (concreto armado), Beugnet Sévigné (estradas de serviço), EEG Simecsol (projetos
para suportes), Enerparc (sistema hidráulico para deslocamento do tabuleiro), Fougerolle Ballot-La Forezienne (escavação),
Freyssinet (vãos), Greisch (escritório de projetos), Guirande (eletricidade), IGM (robôs para soldadura), Intervect (elevadores),
Messer (máquinas para oxicorte), Peri (revestimento de pilastras), Potain (guindastes, gruas, torres elevadoras), SATM-BCP (concreto
para uso direto), SAMT-Germain (armações), SATS-STIPS-SOD e Terastic (sustentação provisória), Sigma Béton (laboratório de
concreto), 4S (segurança), OTCC (coordenação da segurança entre o viaduto e a barreira de pedágio).
Encontro das duas partes do tabuleiro do viaduto
Foto: site oficial do
viaduto
A Eiffage se encarregou da obtenção dos financiamentos para o empreendimento (totalizando
394 milhões de euros), que não tem um centavo de subsídio estatal, nem terá subvenções públicas para a manutenção das instalações
durante o período da concessão. Tanto a Eiffage TP como a Eiffel e a nova CEVM são empresas do grupo Eiffage, considerado o quinto
maior grupo europeu responsável por obras públicas.
A construtora Eiffel foi responsável por obras como a pirâmide do Museu Louvre, em Paris, e
a passarela Soferino, na França, além do aeroporto japonês de Osaka, obras na City de Londres e na Universidade Columbia de Nova
York. A gestão geral da obra foi entregue à Société d’Études Techniques et Économiques (Setec), empresa francesa de engenharia
especializada em grandes projetos, com 15 filiais estrangeiras, sendo que a seção de obras de engenharia ficou a cargo da parceira
SNCF.
O viaduto, sobre o vale do rio Tarn, perto de Millau, na França
Foto: site oficial do
viaduto
O arquiteto inglês Lord Norman Foster, responsável pela obra, possui em seu currículo outros
trabalhos de engenharia importantes, como o Parlamento Alemão (em Berlim), a Ponte do Milênio (em Londres) e o aeroporto de
Hong-Kong. Recebeu em 1999 o Pritzker Architecture Prize, prêmio concedido aos melhores arquitetos do mundo.
A idéia do viaduto atirantado, entretanto, foi de Michel Virlogeux, diplomado da Escola
Politécnica, da Escola Nacional de Pontes e Calçadas, na França, e que dirigiu, entre outros, os estudos das pontes da Normandia e
da Ilha de Ré. Michel recebeu prêmios como o Award of Excellence de l’Engineering News Record.
Rodovia La Meridiana |
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A rodovia La Meridiana (A75), que está sendo construída entre
Clermont-Ferrand e Béziers/Narbonne, visa aliviar o tráfego entre Paris e Barcelona (Espanha), encurtando em 100 km o trajeto
entre Paris e Béziers (Sul da França), fomentando ainda as atividades turísticas no vale do Ródano.
Ao aliviar a rodovia N9, até então usada pelos turistas, melhorará
as condições de circulação de veículos pesados nas rotas tradicionais entre o Norte da Europa e a Península Ibérica. |
Numa das primeiras fases da obra, a construção dos sete pilares que
sustentam a ponte
Foto: site oficial do
viaduto
(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do
jornal eletrônico Novo Milênio.
Dois dos vídeos disponíveis no site oficial do viaduto, narrados em francês,
mostram a evolução da obra (em formato FLV/MP4 - clique nas imagens): |
FLV (MP4) - 61 segundos - 2,92 MB
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FLV (MP4) - 54 segundos - 2,70 MB
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