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Edição 095 - ABR/2001 

Engenharia

Torre Eiffel, monumento à leveza

Obra comemora 112 anos, batendo seguidos recordes

Carlos Pimentel Mendes (*)
Site oficial da Torre Eiffel na Internet

Imagine, com os conhecimentos de Engenharia e Arquitetura de 112 anos atrás, projetar uma torre de ferro capaz de suportar ventos de até 250 km/h e se inclinar sem problemas conforme a dilatação provocada diariamente pelo calor do Sol. 

Imagine construir essa torre sobre terreno arenoso, para atingir mais de 300 metros de altura, sem o uso de modernos guindastes e ainda fazer com que os quatro pilares se encontrem com encaixe milimétrico, formando uma plataforma situada a 57 metros de altura. 

Imagine ainda que cada componente da torre foi pré-fabricado em local distante do canteiro de obras, e mesmo assim todos se encaixarem perfeitamente, sem a necessidade de ajustes durante a colocação.

No século XIX, essa torre só poderia ser construída pelo “engenheiro de Deus”, para usar a definição do gênio Thomas Alva Edison, que cruzou o Atlântico para ver a maravilha arquitetônica projetada por Gustave Eiffel (no destaque). Destinada a comemorar o centenário da Revolução Francesa e ser o destaque da capital francesa durante a Exibição Universal de Paris em 1889, devendo ser desmontada no máximo 20 anos depois (ao término do contrato de exploração do projeto) a Torre Eiffel comemora em maio, entretanto, seus 112 anos de existência.

Apesar do elogio de Edison, Eiffel era considerado pouco ético nos negócios, além de se apropriar rapidamente de idéias alheias, e chegou a ser condenado a dois anos de prisão por denúncias – nunca efetivamente comprovadas – de corrupção relacionadas com obras no canal do Panamá. O Supremo Tribunal acabou suspendendo depois a condenação. Eiffel também não primava pela modéstia: todo final de ano, dava um retrato seu de presente à mulher, Marie Gandelet (que morreu em 1877).

Mostarda – Nascido em Dijon (a terra da mostarda, no Sul da França) em 1832, o engenheiro Eiffel já era conhecido no final do século XIX por obras como a estrutura da Estátua da Liberdade (que a França doou à cidade de New York), e a cúpula do Gustave Eiffelobservatório astronômico francês de Nice, usando um mecanismo hidráulico que permitia girar a estrutura apenas com as mãos. Além disso, ele projetou pontes pré-fabricadas que poderiam ser montadas em poucas horas. 

Entre mais de uma centena de obras de que participou até sua morte em 1923, Eiffel projetou as eclusas do Canal do Panamá, um túnel sob o canal da Mancha (em 1890) e um avião de combate de alta velocidade (em 1917), além de mais de cinco mil experiências ligadas à aerodinâmica (inclusive a criação do primeiro túnel de vento).

No centenário da Revolução Francesa, o país desejava esquecer a guilhotina e projetar para o mundo uma imagem futurista, e na época o ferro era o material da moda. Emile Nouguier e Maurice Koechlin, engenheiros da construtora Eiffel, apresentaram a Monsieur Eiffel a idéia de construir uma torre formada por quatro pilares e intercalada por plataformas metálicas. Já o arquiteto Stephen Souvestre sugeriu o grande salão envidraçado a ser criado na primeira plataforma. Arcos monumentais uniriam as colunas e a plataforma, funcionando como portão de entrada da Exibição Universal e aumentando a estabilidade da obra.

Em março de 1885, quando foi aberta a concorrência pública para a construção da torre, já citava esses elementos, de forma que a decisão anunciada em 12 de junho daquele ano não surpreendeu, apesar da existência de mais de 700 projetos concorrentes. O terreno seria doado pela Prefeitura de Paris, junto com uma subvenção do governo, e Eiffel deveria obter o restante da verba necessária, podendo em contrapartida explorar o monumento por 20 anos. 

Quando (em 1898) Eugène Ducreter obteve licença para instalar no topo da torre uma antena para um aparelho de telégrafo sem fio, Eiffel percebeu que aí estaria a solução para tornar a torre permanente: já em 1903, o engenheiro ofereceu a torre ao Exército para que instalasse equipamentos de telegrafia militar. Aliás, por ser um excelente posto de observação militar, a torre ficou fechada aos civis durante as duas guerras mundiais do século XX. No intervalo entre essas guerras, ali ocorreram também as primeiras experiências francesas com transmissão de imagens: ao completar seu centenário, a torre já contava com antenas para seis emissoras de televisão e 10 estações de rádio FM.

Precisão – O extraordinário talento para cálculos que fez a fama de Eiffel ficou patente durante a construção da torre que levou seu nome. Os quatro pilares da Fases da construção da torre em Paristorre foram montados sobre revolucionárias caixas de ar comprimido, que eram gradativamente ajustadas até se obter a profundidade pretendida e então preenchidas com cimento. Por serem colunas inclinadas, soltas no espaço até que se montasse a plataforma do primeiro andar, foram escoradas com postes de madeira, com apoio de caixas de areia. O escoamento gradativo da areia permitia obter a inclinação exata, enquanto um macaco hidráulico sob cada uma das quatro bases ajustava a altura ideal. Assim, ao atingir a altura projetada para a primeira plataforma, o encaixe foi perfeito, não sendo preciso cortar ou limar sequer um centímetro.

Vale recordar que a torre foi a primeira dessa magnitude construída com elementos pré-fabricados: as 18.038 peças foram produzidas nas oficinas Lavallois-Perret, seguindo as 5.300 plantas arquitetônicas da obra, com precisão de encaixe que chegou a décimos de milímetro: levadas ao local da montagem, já devidamente furadas nos pontos previstos, só precisavam receber os parafusos e rebites.
Outro desafio para os construtores era a falta de guindastes de grande porte para o içamento das peças. Solução: a própria torre sustentou quatro gruas a vapor, cujas roldanas foram sendo deslocadas para cima conforme a elevação da estrutura. Em apenas 15 minutos uma peça subia 200 metros.

A partir da inauguração, os visitantes contaram com um conjunto de elevadores hidráulicos nos pilares da torre, que deixavam de funcionar no inverno. No acesso ao restaurante Jules Verne, na parte superior da estrutura, os ascensores hidráulicos eram formados por duas cabines que se equilibravam mutuamente. Posteriormente, os elevadores originais foram substituídos por equipamentos elétricos, da empresa norte-americana Otis.

Recordes – Ao ser concluída em 31/3/1889, depois de 795 dias de trabalho, a torre se tornou a estrutura mais alta do mundo, só superada 41 anos depois pela inauguração do edifício Empire State (380 metros) em New York. Entretanto, pode Evolução das obras da torreser definida como um monumento à leveza, pois a pressão sobre o solo exercida por suas 7.300 toneladas é a aproximadamente a mesma que uma pessoa de médio porte faz ao se sentar em uma cadeira: 4,5 kg/cm². Nas três plataformas, pode receber até 10.416 pessoas simultaneamente, transportadas por elevadores até o topo da estrutura, e já no primeiro ano recebeu número de visitantes quase equivalente à população de Paris na época. 

No primeiro andar, um sistema de monitores informatizados mostra, há duas décadas, os efeitos do calor e dos ventos sobre a torre: projetada para resistir a ventos de 250 quilômetros horários, inclinando-se até 70 cm, nunca passou dos 15 cm de oscilação. Outro efeito curioso é o do calor do Sol: durante o dia, ela registra pequenas inclinações no sentido contrário ao da incidência da luz solar, como efeito da dilatação das estruturas de ferro.

192.120.123 visitantes até 2.000

O projeto de Gustave Eiffel venceu entre 700 projetos de 107 candidatos. 
A obra foi executada a um custo de 7,8 milhões de francos franceses, suficiente para construir 20 mil casas de padrão médio. 
50 engenheiros desenharam 5.300 plantas. 
A obra foi composta por 18.038 peças pré-fabricadas, e utilizou 2,5 milhões de parafusos e 1 milhão de rebites. 
Houve precisão de décimos de milímetro até nos furos prévios para o aparafusamento. 
Atuaram de 150 a 300 operários na obra e mais 300 na área de produção de peças. 
A construção foi iniciada em 1887, após a remoção de 30 mil m³ de lodo, argila e terra do local. 
Acima do solo, a obra começou em 1/7/1887, e terminou em 31/3/1889. A inauguração foi em 15/5/1889. 
Durante os trabalhos não ocorreu nenhum acidente de trabalho fatal.
Peso: 7.300 t; 
Pressão sobre solo ocupado = 4,5 kg/cm².
Altura original: 300,65 m; 
Altura proposta: 304,8 m = mil pés.
Uma antena de TV elevou a altura para 320 m em 1946.
Três plataformas, a inferior situada a 57 m de altura.
Apoiada sobre quatro pilares voltados para os pontos cardeais.
Os pilares formam um quadrado de 125 m de lado.
Suporta ventos de até 250 km/h e oscilação lateral do topo até 70 cm.
Ventos podem inclinar a ponta da torre até 70 cm.
Máxima inclinação causada pelos ventos até agora: 15 cm.
Torre sofre inclinação pelo calor, na direção oposta à do Sol.
A torre pode receber até 10.416 pessoas nas três plataformas. 
No primeiro ano, foi visitada por 2 milhões de pessoas. 
Já no centenário, em 1989, registrou 4 milhões de visitantes, venda de 1,5 milhão de cartões postais e 100 mil chaveiros no formato da torre. 
Até 31/12/2000 192.120.123 pessoas estiveram na torre. 
Do alto da torre é possível a visão em 360 graus de num raio de até 70 km em dias claros.
Site oficial na Internet: www.tour-eiffel.fr

Painel na plataforma do primeiro andar mostra as inclinações da torre provocadas por vento e calor. Foto: rev. Superinteressante nº.1
(*) Carlos Pimentel Mendes é o editor do jornal eletrônico Novo Milênio.