Engenharia
Torre Eiffel, monumento à
leveza
Obra comemora 112 anos, batendo
seguidos recordes
Carlos Pimentel Mendes (*)
Imagine,
com os conhecimentos de Engenharia e Arquitetura de 112 anos atrás,
projetar uma torre de ferro capaz de suportar ventos de até 250
km/h e se inclinar sem problemas conforme a dilatação provocada
diariamente pelo calor do Sol.
Imagine construir essa torre sobre
terreno arenoso, para atingir mais de 300 metros de altura, sem o uso de
modernos guindastes e ainda fazer com que os quatro pilares se encontrem
com encaixe milimétrico, formando uma plataforma situada a 57 metros
de altura.
Imagine ainda que cada componente
da torre foi pré-fabricado em local distante do canteiro de obras,
e mesmo assim todos se encaixarem perfeitamente, sem a necessidade de ajustes
durante a colocação.
No século XIX, essa torre
só poderia ser construída pelo “engenheiro de Deus”, para
usar a definição do gênio Thomas Alva Edison, que cruzou
o Atlântico para ver a maravilha arquitetônica projetada por
Gustave Eiffel (no destaque). Destinada a comemorar o centenário
da Revolução Francesa e ser o destaque da capital francesa
durante a Exibição Universal de Paris em 1889, devendo ser
desmontada no máximo 20 anos depois (ao término do contrato
de exploração do projeto) a Torre Eiffel comemora em maio,
entretanto, seus 112 anos de existência.
Apesar do elogio de Edison, Eiffel
era considerado pouco ético nos negócios, além de
se apropriar rapidamente de idéias alheias, e chegou a ser condenado
a dois anos de prisão por denúncias – nunca efetivamente
comprovadas – de corrupção relacionadas com obras no canal
do Panamá. O Supremo Tribunal acabou suspendendo depois a condenação.
Eiffel também não primava pela modéstia: todo final
de ano, dava um retrato seu de presente à mulher, Marie Gandelet
(que morreu em 1877).
Mostarda – Nascido em Dijon
(a terra da mostarda, no Sul da França) em 1832, o engenheiro Eiffel
já era conhecido no final do século XIX por obras como a
estrutura da Estátua da Liberdade (que a França doou à
cidade de New York), e a cúpula do observatório
astronômico francês de Nice, usando um mecanismo hidráulico
que permitia girar a estrutura apenas com as mãos. Além disso,
ele projetou pontes pré-fabricadas que poderiam ser montadas em
poucas horas.
Entre mais de uma centena de obras
de que participou até sua morte em 1923, Eiffel projetou as eclusas
do Canal do Panamá, um túnel sob o canal da Mancha (em 1890)
e um avião de combate de alta velocidade (em 1917), além
de mais de cinco mil experiências ligadas à aerodinâmica
(inclusive a criação do primeiro túnel de vento).
No centenário da Revolução
Francesa, o país desejava esquecer a guilhotina e projetar para
o mundo uma imagem futurista, e na época o ferro era o material
da moda. Emile Nouguier e Maurice Koechlin, engenheiros da construtora
Eiffel, apresentaram a Monsieur Eiffel a idéia de construir uma
torre formada por quatro pilares e intercalada por plataformas metálicas.
Já o arquiteto Stephen Souvestre sugeriu o grande salão envidraçado
a ser criado na primeira plataforma. Arcos monumentais uniriam as colunas
e a plataforma, funcionando como portão de entrada da Exibição
Universal e aumentando a estabilidade da obra.
Em março de 1885, quando foi
aberta a concorrência pública para a construção
da torre, já citava esses elementos, de forma que a decisão
anunciada em 12 de junho daquele ano não surpreendeu, apesar da
existência de mais de 700 projetos concorrentes. O terreno seria
doado pela Prefeitura de Paris, junto com uma subvenção do
governo, e Eiffel deveria obter o restante da verba necessária,
podendo em contrapartida explorar o monumento por 20 anos.
Quando (em 1898) Eugène Ducreter
obteve licença para instalar no topo da torre uma antena para um
aparelho de telégrafo sem fio, Eiffel percebeu que aí estaria
a solução para tornar a torre permanente: já em 1903,
o engenheiro ofereceu a torre ao Exército para que instalasse equipamentos
de telegrafia militar. Aliás, por ser um excelente posto de observação
militar, a torre ficou fechada aos civis durante as duas guerras mundiais
do século XX. No intervalo entre essas guerras, ali ocorreram também
as primeiras experiências francesas com transmissão de imagens:
ao completar seu centenário, a torre já contava com antenas
para seis emissoras de televisão e 10 estações de
rádio FM.
Precisão – O extraordinário
talento para cálculos que fez a fama de Eiffel ficou patente durante
a construção da torre que levou seu nome. Os quatro pilares
da torre
foram montados sobre revolucionárias caixas de ar comprimido, que
eram gradativamente ajustadas até se obter a profundidade pretendida
e então preenchidas com cimento. Por serem colunas inclinadas, soltas
no espaço até que se montasse a plataforma do primeiro andar,
foram escoradas com postes de madeira, com apoio de caixas de areia. O
escoamento gradativo da areia permitia obter a inclinação
exata, enquanto um macaco hidráulico sob cada uma das quatro bases
ajustava a altura ideal. Assim, ao atingir a altura projetada para a primeira
plataforma, o encaixe foi perfeito, não sendo preciso cortar ou
limar sequer um centímetro.
Vale recordar que a torre foi a primeira
dessa magnitude construída com elementos pré-fabricados:
as 18.038 peças foram produzidas nas oficinas Lavallois-Perret,
seguindo as 5.300 plantas arquitetônicas da obra, com precisão
de encaixe que chegou a décimos de milímetro: levadas ao
local da montagem, já devidamente furadas nos pontos previstos,
só precisavam receber os parafusos e rebites.
Outro desafio para os construtores
era a falta de guindastes de grande porte para o içamento das peças.
Solução: a própria torre sustentou quatro gruas a
vapor, cujas roldanas foram sendo deslocadas para cima conforme a elevação
da estrutura. Em apenas 15 minutos uma peça subia 200 metros.
A partir da inauguração,
os visitantes contaram com um conjunto de elevadores hidráulicos
nos pilares da torre, que deixavam de funcionar no inverno. No acesso ao
restaurante Jules Verne, na parte superior da estrutura, os ascensores
hidráulicos eram formados por duas cabines que se equilibravam mutuamente.
Posteriormente, os elevadores originais foram substituídos por equipamentos
elétricos, da empresa norte-americana Otis.
Recordes – Ao ser concluída
em 31/3/1889, depois de 795 dias de trabalho, a torre se tornou a estrutura
mais alta do mundo, só superada 41 anos depois pela inauguração
do edifício Empire State (380 metros) em New York. Entretanto, pode ser
definida como um monumento à leveza, pois a pressão sobre
o solo exercida por suas 7.300 toneladas é a aproximadamente a mesma
que uma pessoa de médio porte faz ao se sentar em uma cadeira: 4,5
kg/cm². Nas três plataformas, pode receber até 10.416
pessoas simultaneamente, transportadas por elevadores até o topo
da estrutura, e já no primeiro ano recebeu número de visitantes
quase equivalente à população de Paris na época.
No primeiro andar, um sistema de
monitores informatizados mostra, há duas décadas, os efeitos
do calor e dos ventos sobre a torre: projetada para resistir a ventos de
250 quilômetros horários, inclinando-se até 70 cm,
nunca passou dos 15 cm de oscilação. Outro efeito curioso
é o do calor do Sol: durante o dia, ela registra pequenas inclinações
no sentido contrário ao da incidência da luz solar, como efeito
da dilatação das estruturas de ferro.
192.120.123 visitantes até
2.000
O
projeto de Gustave Eiffel venceu entre 700 projetos de 107 candidatos.
A
obra foi executada a um custo de 7,8 milhões de francos franceses,
suficiente para construir 20 mil casas de padrão médio.
50
engenheiros desenharam 5.300 plantas.
A
obra foi composta por 18.038 peças pré-fabricadas, e utilizou
2,5 milhões de parafusos e 1 milhão de rebites.
Houve
precisão de décimos de milímetro até nos furos
prévios para o aparafusamento.
Atuaram
de 150 a 300 operários na obra e mais 300 na área de produção
de peças.
A
construção foi iniciada em 1887, após a remoção
de 30 mil m³ de lodo, argila e terra do local.
Acima
do solo, a obra começou em 1/7/1887, e terminou em 31/3/1889. A
inauguração foi em 15/5/1889.
Durante
os trabalhos não ocorreu nenhum acidente de trabalho fatal.
Peso:
7.300 t;
Pressão
sobre solo ocupado = 4,5 kg/cm².
Altura
original: 300,65 m;
Altura
proposta: 304,8 m = mil pés.
Uma
antena de TV elevou a altura para 320 m em 1946.
Três
plataformas, a inferior situada a 57 m de altura.
Apoiada
sobre quatro pilares voltados para os pontos cardeais.
Os
pilares formam um quadrado de 125 m de lado.
Suporta
ventos de até 250 km/h e oscilação lateral do topo
até 70 cm.
Ventos
podem inclinar a ponta da torre até 70 cm.
Máxima
inclinação causada pelos ventos até agora: 15 cm.
Torre
sofre inclinação pelo calor, na direção oposta
à do Sol.
A
torre pode receber até 10.416 pessoas nas três plataformas.
No
primeiro ano, foi visitada por 2 milhões de pessoas.
Já
no centenário, em 1989, registrou 4 milhões de visitantes,
venda de 1,5 milhão de cartões postais e 100 mil chaveiros
no formato da torre.
Até
31/12/2000 192.120.123 pessoas estiveram na torre.
Do
alto da torre é possível a visão em 360 graus de num
raio de até 70 km em dias claros.
Site
oficial na Internet: www.tour-eiffel.fr
(*) Carlos Pimentel
Mendes é o editor do jornal eletrônico Novo
Milênio. |