O produto da Artois não sofreu alterações sensíveis na temperatura durante o percurso do conteiner desde a sede da indústria em Bruxelas até o porto australiano de Fremantle
Foto: Sea Containers. Original da imagem, publicada em preto-e-branco com a matéria
Sea Containers mostra o 1º conteiner tipo tanque-frigorífico
Pela primeira vez no Brasil, e uma das primeiras a nível mundial, um conteiner tanque frigorífico produzido em escala comercial será apresentado ao público
interessado pela Sea Containers, através de suas representantes Carioca Containers (área comercial) e Paulista Containers Marítimos (terminais e reparos). A exibição será dia 18, das 9 às 19 horas, nas instalações desta última, na Av. Marginal
Direita da Anchieta, 1.135, bairro santista da Alemoa, na entrada da cidade de Santos pelo complexo rodoviário de ligação com a capital paulista.
Como explica Dominique Delamare Debouteville, da Carioca Containers, estão sendo convidados agentes marítimos, exportadores e importadores, armadores e toda a comunidade marítima
regional para conhecer o equipamento, devendo participar do encontro inclusive o gerente do departamento de tankers da Sea Containers em Londres, Gordon Steel, juntamente com Carlos Messias e Rubens César, da Carioca Containers/RJ; Albino
Teixeira, da filial santista; Ricardo Rose, da coligada Trafpak; Rene Céspedes, gerente da Paulista Containers Marítimos, e outros representantes.
Situado no meio-termo entre o uso de tambores e o transporte a granel, o conteiner tanque frigorífico parece servir como solução ideal para os embarques de sucos cítricos para regiões
que não possuam instalações como as de Ghent, na Bélgica, para o recebimento dos sucos a granel diretamente de navios-tanque especiais. Foi citado por Dominique o caso do Japão, como exemplo.
O conteiner-tanque frigorífico, nas instalações da cervejaria belga, em Louvain
Imagem: capa de folheto em inglês da Sea Containers
Embora não dispondo ainda de todos os cálculos, de vez que se trata de um produto pioneiro no mercado internacional (existem outros projetos concorrentes, mas que ainda não ultrapassaram
a barreira do início da comercialização regular), Dominique compara o uso de um desses conteineres tanques refrigerados - com capacidade para 24 toneladas e portanto de 18 mil litros, considerada a densidade de 1,315 do suco de laranja - com o
mesmo transporte em tambores.
Hoje, cada tambor vazio custa US$ 20, e normalmente não tem volta, pois esta seria demasiado custosa. Assim, para transportar, os 18 mil litros, há necessidade de 96 tambores, o que já
de início representa uma despesa de US$ 1.920,00. Só a economia desta despesa permite pagar com ampla margem de folga o aluguel do conteiner especial, o que significa um lucro antes mesmo do embarque. Afora isso, é sabido que o embarque de um
conteiner é bem menos oneroso que o de 96 tambores, quanto aos custos de estiva e capatazia, especialmente em portos onde a mão-de-obra tem alto custo. Há ainda uma redução nos fretes marítimos a considerar.
O equipamento, sendo carregado com cerveja na indústria belga, para a viagem à Austrália
Foto: Sea Containers
Se há vantagens, segundo Dominique, em termos econômicos, a Sea Containers ressalta entretanto o aspecto de qualidade do transporte do produto, pois enquanto os tambores passam por
diferentes temperaturas ambientes, sujeitando os produtos à conseqüente degradação qualitativa - e mesmo nos ambientes refrigerados o exportador não tem como comprovar de forma segura a manutenção dos níveis de temperatura exigidos pela mercadoria
-, no caso do conteiner-tanque frigorífico isso não é problema: ele dispõe de um disco giratório semelhante ao do tacógrafo, que registra as mínimas variações da temperatura interna durante todo o transporte. Assim, os usuários dispõem do controle
de temperatura total no percurso porta-a-porta.
E o conteiner pode, entre outros recursos, ser programado para um pré-aquecimento a determinada temperatura pouco antes da chegada ao destino, caso seja interesse do recebedor obter um
produto menos resfriado que na expedição.
Um folheto da Sea Containers demonstra graficamente uma experiência de transporte de 20 mil litros de cerveja da indústria Stella Artois, na Bélgica, para a Austrália, entre abril e
junho. O produto requeria temperatura de 1 grau centígrado positivo, com tolerância a 1 grau negativo e até quatro graus positivos, numa viagem de 45,5 dias.
Descrição gráfica da viagem Bélgica/Austrália do conteiner com cerveja, pela Sea Containers
O produto saiu com temperatura de zero graus da Bélgica, contra uma temperatura ambiente de cerca de oito graus positivos, que quatro dias depois chegou a cerca de 21 graus positivos,
voltando a cair nos dois dias seguintes para 15º positivos, e novamente atingindo a temperatura ambiente de 22 graus nos dias seguintes. No 10º dia, a temperatura ambiente caiu para 15 graus, baixando três dias depois para menos de 10 graus,
subindo novamente em seguida para a faixa dos 20 graus, na qual se manteve até o 30º dia, com súbita elevação ao pico de 34 graus no dia seguinte, queda a 26 graus no 32º dia, elevação a 32 graus no 33º e gradativa queda a cerca de 20 graus nos
últimos dias. A média de temperatura ambiente ficou em 21 graus.
O transporte começou em Bruxelas a 21 de abril, o conteiner foi embarcado no navio em Rotterdam a 30 de abril, transferido para outro navio em Barcelona a 14 de maio e chegou a Fremantle
a 6 de junho. Nesse período, a temperatura do líquido subiu de zero grau a 2 graus positivos de forma gradativa nos sete primeiros dias. Entrou em funcionamento o circuito resfriador, que nos três dias seguintes baixou a temperatura a zero grau,
voltando a se elevar a dois graus no 15º dia. Novamente o circuito refrigerador passou a funcionar, baixando a temperatura para um grau e corrigindo-a para esta posição.
Com apenas uma rápida desligada no 24º dia, coincidente com o transhipment em Barcelona, o sistema de refrigeração manteve-se ativo durante o restante da viagem, período em que a
temperatura baixou de forma constante até atingir 0,5º centigrado no destino. Aliás, o equipamento está preparado para manter temperaturas constantes internas (da carga) entre 20 graus negativos e até 50 graus centígrados positivos, pois possui um
dispositivo de aquecimento, semelhante aos conteineres Sea Cold (conteineres frigoríficos da mesma Sea Container).
Partes e componentes do equipamento, conforme descrição (em inglês) da Sea Containers
Segundo as especificações construtivas, podem ser empilhados até nove conteineres de 24 toneladas, e cada um tem tara de 4.140 kg, peso bruto máximo de 30.480 kg e peso líquido de 26.340
kg. Construído no padrão de 20 pés por 8,6 polegadas de altura, pode transportar até 18 mil litros e é construído em aço inoxidável AISI-316, com pressão de trabalho de 2,07 bar/30 psi (pressão de teste de 3,10 bar/40 psi), acabamento interno
polido a 180 grit (32 c.l.a.), 2B mill finish equivalent; insolação em poliuretano de 75 milímetros, possuindo maquinário refrigerante com 4,5 kg Freon (R12) e potência de 10 KW; usa gerador trifásico de 220/240 V 50/60 Hz e opção para
gerador diesel. Seu controle de temperatura tem precisão de 1 grau centígrado a mais ou a menos, e pode ser registrado por 31 dias. O equipamento foi aprovado pelo American Bureau of Shipping (ABS), pelo Bureau Veritas 9BV), pelo Lloyd's, pela
International Standard Organization (ISO) e pela UIC.
Um detalhe do equipamento é a capacidade de injeção de gás quente no circuito refrigerante para, através da alternância de temperaturas desse circuito, controlar rapidamente a variação
da temperatura do produto transportado, o que é feito automaticamente, sob controle de sensores de temperatura do produto, que fornecem informações visíveis no painel de controle.
Entre outros usos possíveis, Dominique lembra ser válido para o crescente transporte de gema de ovo a granel, e mais exemplos deverão ser identificados durante a comercialização do
aluguel desses equipamentos no País e no exterior. |