Colhemos no
Boletim
da Resistência Patriótica de 17/07/2001 da APADDI - Associação
Paulista de Defesa dos Direitos Individuais, a seguinte crônica,
de nosso especial interesse:
A divisão
do Brasil apaddi@apaddi.org.br
Por que Harvard
e o Chase sonham subdividir o Brasil?
NOVA YORK (EUA)
- Se Brasil, China, Índia e Indonésia, com quase metade da
população do mundo e colossais recursos naturais, continuam
a ser países em desenvolvimento, e pequenos países como Luxemburgo,
Cingapura e Suíça, sem os mesmos recursos, estão entre
os que prosperaram mais depressa depois da II Guerra Mundial, não
seria melhor desmembrar os gigantes e pôr fim à obsessão
deles com soberania nacional?
Claro que para
nós, brasileiros, a tese é absurda. Mas é exposta
desde 1999 como mais um possível efeito da globalização.
E nasceu aqui nos EUA, sugerida por artigo da revista "Foreign Policy"
(número do outono daquele ano), pelo professor Juan Enriquez, do
Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos, um "think tank"
da Universidade de Harvard, a principal do país.
Em meados da
década Enriquez foi negociador do governo mexicano no conflito de
Chiapas e entre os exemplos dele na tese estão nações
indígenas (os maias teriam partes do México e Guatemala,
os mapuches do Chile). Isso na certa basta para justificar a paranóia
dos que temem complôs contra a Amazônia - por exemplo, para
dar independência aos ianomâmis, com partes do Brasil e da
Venezuela.
Em vez de
cidadãos, acionistas
Há quase
dois anos chamei atenção pela primeira vez nesta coluna para
a especulação do professor Enriquez. Ela não parece
ter surgido por acaso - mas nem por isso mereceu suficiente atenção
no Brasil, nem mesmo pelos que revelam preocupação com as
ameaças estrangeiras sobre a Amazônia brasileira. Talvez já
seja tempo de se começar a discutir o tema, antes que seja tarde
demais.
Os ianomâmis,
como outros índios brasileiros, contam com o "lobby" permanente
de ONGs (organizações não-governamentais) nos EUA
e na Europa. Para Enriquez, nos grandes países em desenvolvimento
(México, Brasil) os mais pobres dos pobres - maias, mapuches - já
se perguntam que benefícios reais terão se permanecerem com
sua atual identidade nacional.
Relacionando
o artigo do acadêmico de Harvard a certos números citados
na mesma época pela "The Economist", de Londres, um jornalista
do "Miami Herald" especializado em América Latina, Andrés
Oppenheimer, deixou-se conquistar pela idéia. E concluiu que o mapa
latino-americano será diferente em 2050. "O mundo tinha 62 países
em 1914. Em 1946 o total já era 74. Hoje já pulou para 193",
disse.
A parte que
Oppenheimer achou "mais interessante" na análise de Enriquez é
a que compara países com corporações, sob o império
globalizante do neoliberalismo: "Hoje os governos que querem manter intactas
suas fronteiras têm de tratar seus cidadãos como se fossem
acionistas, que podem vender suas ações, forçar mudanças
na administração ou reduzir o tamanho do estado".
Soberania?
É
"doutrina velha"
O pesquisador
de Harvard acredita que as vozes dos indígenas, como as de outros
setores dos países grandes e pouco desenvolvidos, podem crescer
porque quanto mais globalizado se torna o mundo menos traumático
será para os nacionalistas a separação de seus estados.
"A globalização está reduzindo o mundo às suas
partes componentes, mesmo quando junta essas partes", escreveu ele.
Para sobreviver
com as fronteiras atuais, acha Enriquez, os governos da América
Latina terão de dar mais autonomia aos grupos regionais e não
insistir nas "velhas doutrinas autoritárias obcecadas por soberania".
Exemplificou com os casos de Escócia, Irlanda e Gales na Grã-Bretanha
e dos países que formavam a URSS.
Nem fez referência
à diferença dos vínculos coloniais nuns, ideológicos
em outros.
Além
disso, Enriquez esquece que ao longo dos anos os EUA só se expandiram.
Apoderaram-se de larga extensão do território mexicano onde
havia mais riqueza petrolífera. Tampouco levou em conta que alguns
dos menores entre os 193 países do mundo são tão miseráveis
como as regiões mais pobres do Brasil e da
Índia
e não prósperos como Suíça e Luxemburgo.
A "generosidade"
dos Rockefellers
Enriquez faz
pesquisas no Centro David Rockefeller, fundado por esse banqueiro em 1994
e hoje dirigido por John Coatsworth, que diz ser sua existência devida
à "generosidade extraordinária" do ex-presidente do Chase.
Os objetivos declarados são expandir a pesquisa e o ensino sobre
América Latina e temas relacionadas a ela. "Por sua história
e reputação Harvard tem a capacidade de legitimar e validar
temas, literalmente colocá-los no mapa e insistir na importância
deles", disse Rockefeller.
Segundo um
acadêmico do centro, autoridades dos EUA queixam-se de que "os militares
brasileiros são os únicos na América Latina (à
exceção de Cuba) a usar linguagem marxista". Os dois temas
sensíveis no debate sobre segurança entre Brasil e EUA há
pouco tempo, disse ainda, eram proliferação nuclear e soberania
territorial brasileira sobre a Amazônia - o que foi revertido parcialmente
pelo governo Collor.
Mas o que Collor
aparentemente não conseguiu foi neutralizar a preocupação
dos militares nacionalistas com a Amazônia. Setores das Forças
Armadas, conforme tal estudioso, reagiram negativamente à tentativa
de impor enfoque global à questão ambiental amazônica,
via ONGs locais e internacionais. Para eles, isso atenta contra a soberania
nacional - tema reavaliado na tese de Juan Enriquez na "Foreign Policy".
ArgemiroFerreira@hotmail.com
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