Assunto: [widebiz] Internacionalização
da Amazônia
Data: Mon,
23 Jul 2001 11:22:39 -0300
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Durante debate recente em
uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador
do Distrito Federal, Cristóvam Buarque, do PT, foi
fui questionado sobre o que pensava
da internacionalização da Amazônia. O jovem americano
introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista
e não de um brasileiro. Segundo Cristóvam, foi
Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista
como o ponto de partida para a sua uma
resposta minha.
De fato, como brasileiro eu simplesmente
falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por
mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio,
ele é nosso.
Respondi
que, como Como humanista, sentindo o
risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia,
posso
podia imaginar a sua internacionalização,
como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica
humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também
as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é
tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia
para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito
de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir
ou não o seu preço. Os ricos do
mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro
dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia
é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser
queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é
tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias
dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras
sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu
gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes
museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.
Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças
produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio
cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado
e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um pais.
Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar
com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria
ter sido internacionalizado.
Durante este
o encontro em
que recebi a pergunta, as Nações Unidas estão
realizando reuniam o Fórum
do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades
em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho
disse que Nova York, como sede das Nações
Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer
a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro,
Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história
do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar
a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros,
internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque
eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas,
provocando uma destruição milhares de vezes maior do que
as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos
a presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar
as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando
essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha
possibilidade de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças,
tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram,
como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais
do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças
pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não
deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram
quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a
internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar
como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só
nossa."
CRISTOVAM
BUARQUE é professor da UnB, autor do livro A cortina de ouro. |