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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/31/02 18:26:57
FEBEANET
Amazônia (ainda) não é área internacional - II


A propósito do tema, outro texto famoso que circula na Internet e que teria sido depois desmentido pelo ex-governador do Distrito Federal, teve enfim confirmada a sua autoria em 2002 pelo próprio Cristóvam Buarque. Como verificaram os internautas Makoto Shimizu e Gevilacio Moura, ambos participantes da lista sobre negócios  Widebiz, o texto pode ser localizado no site Aprendiz e na página Web do autor, que em 28/5/2002 divulgou o comunicado:
 

Prezados (as) amigos (as),

Vem sendo distribuido pela internet por diversas pessoas, o que me surpreende agradavelmente, o artigo "A Internacionalização do Mundo". O fato que deu origem a este artigo ocorreu em Nova York, nas salas de convenções do Hotel Hilton, durante o encontro do State of the World Forum, em setembro de 2000.

Publiquei o artigo no Globo e no Correio Braziliense, logo depois. Mas de vez em quando surgem mudanças e informações adicionais nem sempre verdadeiras. É falso que o artigo foi publicado no New York Time e outros jornais estrangeiros. Se tivesse sido eu tomaria certamente conhecimento através de algum amigo.

No mais, fico contente que vocês tenham lido. E para aqueles que ainda não leram aproveito a oportunidade para mandar.

Grande abraço
Cristovam

Este é o texto que circula pela Internet, confrontado com o texto publicado no jornal O Globo em 23/10/2000, primeiro caderno, página 7 (informação fornecida pelo próprio jornal carioca). O texto original, com o título "O mundo para todos" não tem os trechos riscados e destacados em negrito preto, mas inclui os trechos em negrito vermelho, não existentes na versão divulgada através da Internet:
 

Assunto: [widebiz] Internacionalização da Amazônia
    Data:  Mon, 23 Jul 2001 11:22:39 -0300
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Durante debate recente em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque, do PT, foi fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristóvam, foi Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua uma resposta minha.

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Respondi que, como Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. 

Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.

Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um pais. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas estão realizando reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. 

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

CRISTOVAM BUARQUE é professor da UnB, autor do livro A cortina de ouro.

Veja mais:
Amazônia (ainda) não é área internacional - I    (Finraf)
Amazônia (ainda) não é área internacional - III (projeto no Congresso)
Amazônia (ainda) não é área internacional - IV  (análise militar)
Amazônia (ainda) não é área internacional - V   (o tema em Harvard)

Pela bagunça que esses trotes (e também os desmentidos de fatos verdadeiros) novamente causaram nas listas de debates no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, e principalmente pelo desleixo com que as autoridades brasileiras têm tratado a questão da soberania nacional na Amazônia, esta história tem duplo motivo para ser inscrita no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)...